Infernalha Brasileira

Autor(a): San


Volume

Capítulo 8: Máscara de Duas Faces.

 Após ouvirem Dartanham, Hexoth e Hayakaz arregalaram os olhos e então Hayakaz disse:

Maldição? Você tá querendo dizer “Aquela Maldição”? Aquela magia absurda dos demônios?!

— Está correto, meu lorde. Eu me refiro a magia de transformação que somente demônios e pseudo demônios podem executar.

— Não… isso deveria ser impossível, não? Nós não somos demônios ou pseudo demônios, lembra?

— Na verdade, meu lorde, após um certo nível de demonização, o usuário se torna um pseudo demônio enquanto transformado. Então creio que ele deve ter ativado por acaso sua Maldição Desperta enquanto estava demonizado, é a única explicação plausível.

— Espera! Então ele demonizou? Quando?

— Eu acho que foi quando ele viu que a Sanarion ia morrer, Hayakaz — disse Hexoth, com a mão no queixo.

— O Garrik se preocupando com alguém?

— Pode ser estranho vindo dele, mas eu acho que todos nos preocupamos com algo, não é? — Hexoth abaixou um pouco a cabeça.

— Desculpa, eu não queria fazer você lembrar daquilo, foi mal.

— Nah, não se preocupa, eu to bem.

— De qualquer forma, meus lordes, o senhor Garrik precisa descansar por um tempo, manter a Maldição Desperta consome muito do usuário. Mas eu estou preocupado com outra coisa também, onde está a senhorita Sanarion?

 Após dizer isso, os dois lordes se deram conta de que Sanarion não os havia seguido e então Hexoth disse:

— Ela não voltou com a gente, será que ela ainda tá na cratera?

— Eu vou mandar alguns corvos procurarem a mana dela. — Dartanham saiu do quarto e acompanhou Hexoth e Hayakaz até o portal.

— Eu… vou… procurá-la! — De repente, Garrik tentou se levantar, mas Hexoth o segurou.

— O que você tá fazendo? Você só vai piorar seus machucados se fizer força!

— Cale-se! Eu preciso… Argh! — Antes que Garrik conseguisse se levantar, ele começou a sentir uma dor absurda na região dos ferimentos e acabou desmaiando.

— Ele avisou, cara. Fica aí, que o Dartanham já enviou corvos pra procurar ela  — falou Hayakaz, abrindo a porta.

— Procure informações sobre a senhorita Sanarion, Dartanham. Eu vou ficar aqui pra fazer esse cabeça dura descansar. — Hexoth arrumou Garrik na cama e o cobriu.

— Entendo… Obrigado, meu senhor. Quando eu conseguir mais informações, chamarei os senhores —  disse Dartanham, se curvando e desaparecendo em sombras.

— Ele realmente é o rei das entradas e saídas dramáticas…

 Após isso, Hexoth olhou para o rosto de Garrik e algumas lembranças da última luta vieram a sua mente, entre elas a imagem de Garrik transformado. Um calafrio correu por todo o corpo de Hexoth, lembrar de Garrik naquele estado o deixava angustiado, como se aquele não fosse o amigo que sempre o seguiu.

 “Como chegamos a isso…?”, pensou Hexoth, com uma das mãos tapando o próprio rosto. "Será que isso tá certo? É certo todos se machucarem?".

 De repente, tudo ao redor de Hexoth ficou branco, como se fosse um enorme vazio. Hexoth olhou ao seu redor, procurando qualquer coisa que pudesse esclarecer o que estava acontecendo. 

— Salve-a… — disse uma voz vinda do vazio, e então, o corpo de Hexoth paralisou, porém seu corpo tremia de medo. — Recupere aquilo que lhe tiraram… Salve-a.

 Então, Hexoth olhou para trás e seus olhos se arregalaram, ele podia ver uma silhueta brilhante de uma garota encolhida, rodeada de enormes mãos, negras como vultos, a prendendo.

 De repente, Hexoth abriu os olhos e se levantou rapidamente, ele arfava e tossia como se estivesse sendo sufocado, ele havia dormido na cadeira enquanto cuidava de Garrik.

— O que… foi… isso…? — disse ele, tentando se recompor.

— Senhor? Está aí? — disse Dartanham, batendo do outro lado da porta.

— Entra! Eu to bem!

 Após ouvir Hexoth, Dartanham abriu a porta e entrou com Hayakaz.

— Hm… Vejo que o senhor Garrik ainda não se recuperou… Mas fico feliz que o senhor tenha acordado, senhor Hexoth.

— O que? Por que você não me acordou?!

— O senhor estava dormindo tão bem, eu não achei correto privá-lo desse bom sono.

— “Bom sono” nada. Eu tive um pesadelo, isso sim.

— Um pesadelo? Um demônio tendo pesadelos? O senhor poderia me dizer mais, senhor?

— Melhor não, não quero nem lembrar daquilo!

— Entendo. Se o senhor prefere assim…

— O papo de sonhos tá interessante e tudo mais, mas eu ainda quero saber por quê você chamou a gente, Dartanham — falou Hayakaz, encostado na porta.

— Ah! Claro! Senhor Hexoth, senhor Hayakaz, eu acho que os senhores devem ver isso…

 Quando os dois se aproximaram, Dartanham mostrou um cristal do tamanho de uma mão, onde imagens começaram a ser reproduzidas, mostrando Sanarion e o encapuzado saindo de um portal e andando por uma cidade.

— Quem é esse cara? Por que a Sanarion ta seguindo ele? — perguntou Hayakaz.

— Esse foi o último local onde meus corvos localizaram o rastro de mana da senhorita Sanarion, a cidade Fallarborn, mas há uma coisa que os senhores devem ter notado…

— Que seria?

— Os dois estavam emanando energia sagrada! — falou Hexoth, de cabeça baixa.

— Espera… Não… Você não está dizendo que ela… — Hayakaz arregalou os olhos.

— A senhorita Sanarion foi purificada… — De repente, os olhos de Dartanham perderam sua cor, seu tom passou de algo passifico para algo terrivelmente sério.

— Espera… Vocês tem certeza? Pode ser um erro, não?

— Hayakaz… uma vez condenado, sempre condenado… Não tem como se purificar sozinho.

— Mas… então como? Isso deveria ser impossível, não?

— Não é possível purificar sua aura sozinho, mas um anjo puro pode purificar outros seres.

— Droga! — Hayakaz socou a parede.

— Senhor, por favor se acalme!

— Como você quer que eu fique calmo?! Primeiro a gente perdeu o Elphaseus, o Hendebrant morreu, o Garrik ta inconsciente, e agora a Sanarion trocou de lado! Como você quer que eu me acalme se a gente tá perdendo todos que ficam ao nosso lado?

— Hayakaz… — Hexoth levantou sua cabeça e olhou nos olhos de Hayakaz.

— O que foi?!

— Só existe uma coisa que os lordes demônios podem fazer quando um subordinado os trai… — Ele então sacou sua katana e a apontou para Hayakaz. — Temos que corrompê-la novamente!

 Hayakaz olhou nos olhos de Hexoth, suas palavras ressoavam em sua cabeça, e então ele respirou fundo, expirou e disse:

— Certo… desculpa, você tem razão. Perder o controle só vai piorar tudo.

— Que bom que percebeu, mas… e ele? — Hexoth olhou para Garrik, que ainda estava desacordado.

— Meus senhores, é melhor o senhor Garrik ficar aqui descansando, ele ainda não está recuperado o suficiente para ir para uma missão.

— Pior que você tem razão, Dartanham. Vamo indo. Quando ele acordar, a gente já vai ter terminado tudo isso. — Hayakaz cerrou os punhos.

 Após preparar o ritual, Dartanham abriu um portal e disse:

— Meus lordes, quando retornarem e o senhor Garrik acordar, iremos realizar um funeral digno para o senhor Hendebrant.

— Não se preocupa, não vamos demorar — disse Hexoth.

— Vamos pegar a Sanarion o mais rápido que der — disse Hayakaz, com um olhar sério.

— Os senhores têm razão… não preciso me preocupar.

 Hayakaz e Hexoth entraram no portal, que os levou para um beco em uma cidade enorme. Uma multidão estava reunida ao redor de um mensageiro, mas Hexoth e Hayakaz apenas ignoraram o que ele estava falando.

— Certo… por onde devemos começar? — perguntou Hexoth.

— Acho que é melhor não fazermos tumulto, pode dar muito problema.

— Você tem razão. Espera, você tem razão? Hayakaz, você tá com febre? — Hexoth o olhou confuso.

— Cala a boca! Não é como se eu só falasse merda.

— Na verdade…

— Ei! Vocês aí! — Um guarda os interrompeu de longe. — Parados! Vocês parecem os suspeitos da prisão de Earthbring!

— Merda! Só corre pra multidão! — disse Hexoth, entrando na multidão.

 Ao ouvir isso, Hayakaz correu na direção da multidão e se misturou nela.

— Droga! Hexoth, cadê você?! — Hayakaz olhou ao redor, mas não conseguiu encontrar Hexoth. — Porcaria!

 Hayakaz continuou andando na mesma direção até sair da multidão, parando em um beco. De repente, ele escutou a voz de alguém:

— Você finalmente chegou… Siga-me, Hayakaz…

— Quem disse isso?! — Quando Hayakaz olhou para a origem da voz, ele viu apenas  a ponta de um manto virando em uma esquina.

 Hayakaz então começou a seguir o vulto pelo beco, o local fazia a transição dos tijolos cinzas tradicionais para tijolos de arenito amarelados

 “Que lugar é esse? Desde quando tem tijolos de areia no meio da cidade?”, pensou Hayakaz, seguindo o caminho de tijolos.

 Após andar por um tempo, Hayakaz se deparou com uma enorme construção com o formato de um templo grego, mas feito com tijolos de arenito. Ao entrar no local, Hayakaz se viu um homem parado em pé no centro templo, ele usava robes marrons claros, enormes luvas pretas cobriam seus braços, usava uma capa feita de dois tecidos, um tecido branco com um símbolo de um urso preto que cobria sua cabeça e um tecido negro um pouco menor que o outro, uma mascara totalmente branca com um olho desenhado no centro cobria seu rosto, carregava um livro de couro na cintura.

— Quem é vo…

— Tsc, tsc, tsc. — O homem interrompeu. — Antes de responder suas perguntas… Você sabe onde estamos?

— O que? — Hayakaz olhou ao seu redor, as paredes internas do templo eram repletas de desenhos repetidos, o padrão dos desenhos se baseava em um enorme demônio com uma espada vermelha ao lado de uma enorme caveira imbuída em chamas. — Que lugar é es…

— Quer saber uma coisa interessante? Esses desenhos não estão ali por nada…

— Dá pra parar de…

— Eles contam uma história, uma história bem triste, mas acho que ela vai lhe soar familiar… Hayakaz.

 Hayakaz ficou em silêncio por alguns segundos e então disse:

— Como você sabe o meu nome?

— Ah… Eu sei de muitas coisas, entende? Mas tem algo que eu sei muito bem… sobre o seu amigo orc…

— O Hexoth?!

— Que bom que tenho sua atenção agora. Continuando… — O encapuzado andava passando a mão nas paredes. — Esses símbolos… eles contam uma história, como eu já disse, a história de um homem que perdeu tudo… família… amigos… até mesmo sua humanidade… A muitos anos, um certo guarda estava voltando de uma viagem de escolta, ele queria matar a saudade de sua família, mas sabe o que ele encontrou quando chegou? — O encapuzado colocou a mão na imagem da caveira em chamas.

— …

— Ele encontrou o desespero… sua casa destruída… a coisa mais preciosa de sua vida estava queimando… Ele encontrou a maior dor de sua vida… mas ele não teve tristeza e nem medo… ele se viu coberto de ódio! Era tanto ódio, que ele abandonou seus sonhos… sua esperança… ele abandonou sua humanidade…

— Você quer dizer… — De repente, o templo começou a tremer, diversas rachaduras surgiram e o teto começou a desmoronar.

— Oh! Que pena, parece que nosso tempo acabou… — O encapuzado começou a andar na direção do fundo do templo, sendo cercado pelos destroços.

— O que? Espera! Quem é você? Como sabe essas coisas?

— Por enquanto… me chame de Rameel

 Hayakaz tentou se aproximar, mas foi parado pelos destroços. Tudo ao seu redor ficou escuro, como um enorme vazio, e de repente Hayakaz foi acordado por Hexoth no beco.

— Hayakaz! O que aconteceu?

— Que? Foi um sonho?

— Cara, você tá bem?

— Ah! Desculpa, eu tive um sonho muito estranho…

— Como assim?

— Eu… eu acho que esqueci, sei lá…

— As vezes você é muito esquisito, muito esquisito mesmo.

— Tá, mas você achou alguma coisa?

— O máximo que eu descobri foi que essa cidade é a sede da da igreja continental.

— Espera, aqui é onde fica a igreja principal?!

— Sim, e parece que aquele mensageiro tá passando as últimas mudanças que a igreja ordenou.

— Calma. Se a gente ouvir o que ele diz, talvez a gente consiga alguma informação valiosa.

— Até agora ele só falou enrolação, nada realmente importante.

— Vamos mais perto, talvez a gente consiga ouvir me… — Antes que Hayakaz pudesse terminar, uma pequena luz surgiu entre os dois.

— Que isso? — perguntou Hexoth.

— Eu sei lá. Essa coisa acabou de aparecer.

 A luz começou a se mexer, formando círculos no ar, como se sinalizasse algo no palanque.

— E o último aviso de hoje vem diretamente do cardeal mestre, o grande Papa — gritou o mensageiro, abrindo um pergaminho branco ornamentado com enfeites dourados.

 Ao ouvirem isso, os dois lordes voltaram seus olhares para o mensageiro e repararam que uma enorme jaula estava sendo trazida para fora da igreja atrás dele. Quando a jaula ficou visível, a pequena luz começou a se mexer freneticamente.

Venho, por meio desta mensagem, decretar que a sentença para a garota amaldiçoada, nomeada de Kagura, foi decidida! — O mensageiro saiu da frente da jaula, revelando que nela havia uma garota, seus cabelos eram totalmente prateados, sua pele acinzentada, suas orelhas pontudas, seus olhos eram dourados e ela vestia um kimono branco com flores de lótus estampadas. 

 Ao ver a garota, Hexoth arregalou os olhos e disse:

— Não… não pode ser!

— Hexoth? — Hayakaz tentou chamar a atenção do amigo, mas ele parecia não conseguir escutar.

Após despertar seu poder, Kagura se mostrou sendo um perigo em potencial. Seu poder de criar lâminas feitas de luz se mostrou ser algo profano e que vai contra as leis do sagrado. Dito isso, eu, Papa Leonard terceiro, junto dos quatro grandes cardeais, declaro que sua punição será a execução pela alabarda divina, daqui a três noites e exatamente a meia noite.

— Não… eu não vou deixar! — Hexoth começou a correr na multidão, passando por cima dos civis. Pequenas faíscas negras começaram a sair do corpo de seu corpo e a pequena luz desapareceu.

Kagura, a partir de hoje, é declarada como uma bruxa e não merece a compaixão de nenhum fiel do grande sagrado!

— Eu não vou deixar! — Hexoth sacou sua katana e pulou do meio da multidão.

 Conforme Hexoth ia se aproximando da jaula, seu corpo começava a ser coberto por sombras. As pessoas olhavam assustadas com o que viam, Hexoth havia se tornado um enorme monstro de sombras, seus olhos estavam totalmente vermelhos, seus cabelos haviam se tornado em enormes tentáculos feitos de sombras, um grande par de asas negras havia surgido em suas costas.

 “Salve-a”, uma voz ecoava em sua cabeça.

— NINGUÉM VAI TOCAR NELA! — gritou Hexoth, com a voz totalmente desfigurada e quase irreconhecível.

— Cale-se! — Antes que ele pudesse tocar a jaula, seu golpe foi parado por uma enorme espada toda feita de ferro sendo segurada por um homem de armadura branca.

— SAIA DA MINHA FRENTE, VERME!

— Parece que você só continuou decaindo… Hexoth! — disse o espadachim, criando outra espada igual com a mão esquerda e o golpeando.

 Após ser golpeado, Hexoth recuou um pouco e começou a retornar para a sua forma original. Então ele olhou nos olhos do espadachim que o golpeou, ele era um um elfo alto com longos cabelos prateados, pele extremamente branca e olhos dourados, ele vestia uma enorme armadura dourada com detalhes em vermelho. Naquele momento, Hexoth sentiu uma familiaridade com o elfo.

— Quem é… cof cof… você?

— Não me surpreendo que você não se lembre, afinal, você já deve até mesmo ter se esquecido do rosto da Hen…

— Da Hen? Não me diga que… Klaus?!

— Hmph! Então você lembrou o meu nome… mas não quero ele na boca de um traidor! — Em questão de segundos, Klaus surgiu em frente a Hexoth, com a lâmina de sua espada próxima da garganta dele.

 Antes que Hexoth fosse golpeado, um enorme círculo de magia surgiu entre ele e Klaus, bloqueando o ataque e afastando Klaus, e logo após, outro círculo surgiu abaixo de Hexoth, que começou a ser sugado para dentro dele.

— Você não vai fugir, traidor! — Klaus tentou se aproximar, mas Hexoth foi rapidamente sugado pelo círculo de magia.

 Enquanto era sugado pelo portal, Hexoth conseguiu olhar mais uma vez para a garota enjaulada. O olhar dela era frio, como o de um cadáver, e lágrimas escorriam por seu rosto.

 “Me desculpe, pequena…”, pensou Hexoth.

 Quando Hexoth foi totalmente sugado pelo portal, um outro círculo surgiu acima de Hayakaz, que rapidamente pulou para dentro dele,  assim voltando para o castelo.

 Ao chegar no castelo, Hayakaz se deparou com Hexoth de joelhos e totalmente paralisado.

— Hexoth! — disse Hayakaz, se aproximando para ajudar o amigo, mas antes que pudesse chegar perto, Dartanham o parou. — O que você tá fazendo, Dartanham?! A gente tem que ajudar ele!

— Espere, meu lorde, ou ele terá um colapso total.

— Do que você tá falando?!

— AAAAARGH!!! — De repente, uma enorme névoa negra começou a sair do corpo de Hexoth, que logo depois caiu desmaiado no chão.

— Hexoth!

 Após isso, Dartanham carregou Hexoth para a enfermaria e começou a curá-lo.

— Espera… Você pode curar ferimentos?! Ta de brincadeira! Por quê você não curou o Garrik?! — Hayakaz puxou Dartanham pela gola.

— Se o senhor me atrapalhar… eu não vou conseguir terminar… lorde Hayakaz.

— Argh! Tá! Mas você vai me explicar isso direitinho quando isso acabar! — Hayakaz se sentou ao lado de Hexoth e ficou olhando durante todo o processo.

 Após algumas horas, Dartanham terminou de regenerar Hexoth e foi até a porta, onde chamou Hayakaz, que o seguiu até a sala de jantar.

— Meu lorde, gostaria de um…

— Não pense que vai me enrolar, Dartanham!

— Entendo… O senhor deve querer respostas, não é?

— Por quê você só aparece quando está tudo acabado? Por quê você não nos curou nenhuma vez, mesmo podendo fazer isso? Por quê você sempre sabe quando algo vai dar errado e nunca faz nada?! — Hayakaz puxou Dartanham pela gola do termo e o olhou nos olhos.

— Vou responder todas essas perguntas, mas…

— Sem “mas”! Chega de esconder tudo! Quem é você afinal de contas?!

— Certo… — Dartanham tirou a mão de Hayakaz de sua gola e sentou em uma das cadeiras. — Eu sou Dartanham, Gran-Servo dos Lordes Demoníacos. Por ser um Gran-Servo, eu tive acesso a todas as informações sobre os senhores. Eu sei tudo sobre vocês, tanto suas vidas como lordes demônios, quanto antes delas. Não somente dos senhores, mas de todos os demônios de alto calão.

— O que? — Hayakaz abaixou sua cabeça, foi até Dartanham — Seu… seu desgraçado! — e então lhe deu um soco, o derrubando no chão. — Você sabia tudo sobre todos nós! Você sabia nossos medos e traumas, mas não moveu um dedo?!

— Eu apenas posso servir os senhores como uma ponte para seus futuros, sejam eles quais forem. Eu estou proibido de mudar o que irá acontecer…

— Mudar o que vai acontecer?

— Há mais de duzentos anos, O Grande Lorde Lúcifer usou a magia Oráculo, assim ele conseguiu todas as informações sobre os senhores…

— Não…

— Até mesmo os seus futuros… — Hayakaz arregalou os olhos e logo depois abaixou a cabeça.

 Ao ouvir isso, Hayakaz foi em direção a porta do castelo e saiu em meio a floresta, fechando a porta com tanta força que quase a quebrou. Logo após, Dartanham se levantou e começou a arrumar a sala de jantar, quando foi interrompido por uma massa de energia rosa que começou a se formar.

— Finalmente você abriu o jogo pra eles, né não? — disse uma voz vinda da massa de energia, que logo se transformou em Rameel.

— Então… você já fez contato? — perguntou Dartanham.

— É claro! Tá tudo indo conforme o planejado, mas… você não acha que deveria falar toda verdade pra eles? Tipo, eles vão te odiar se você só contar essa parte da história.

— Eu não me importo de ser odiado, todas as peças tem que estar em seus locais corretos ao fim desse jogo…

— Saquei! Bom, eu vou tentar resolver esse problemas com o Hayakaz. Boa sorte, hehe! — Rameel se transformou em sombras novamente e desapareceu.

— Boa sorte, é…?

 Na floresta próxima ao castelo, Hayakaz estava socando árvores para se acalmar.

— Droga! Primeiro o Elphaseus morreu, depois o Garrik e o Hexoth tiveram um colapso, e agora isso! Por que tudo tá dando errado?!

— Acho que bater em galhos não vai te ajudar — disse uma voz vinda do nada.

— Quem tá aí?!

— Não lembra da minha voz? — Uma massa de energia preta começou a surgir e logo tomou a forma de Rameel.

— Você!

— Bom dia pra você também, Hayakaz.

— Para de brincar e me responde! O que foi aquele sonho? Como você sabia o que ia acontecer com o Hexoth?

— Bom, porque o Dartanham me contou.

— O que?! Então você também tá com ele?!

— Na verdade… não! É mais um “me ajuda, que eu te ajudo”, saca?

— O que?!

— Dá pra parar de gritar, sua garganta não dói não? — Rameel tapou a região dos ouvidos.

— Ah… foi mal… ta tudo dando errado…

— Bom, respondendo a sua pergunta: Eu só estou dando uma mãozinha pra ele pois ele é um velho amigo.

— Velho amigo?

— Isso não vem ao caso. Bom, eu sei que você se sente traído por ele, mas se você realmente quiser proteger todos, acho que você vai precisar dele

— Do que você tá falando?

— Não reparou? Quando ele treinou vocês, vocês voltaram muito mais fortes.

— Você está observando a gente a quanto tempo?

— Aaaaah, eu não diiiiigo! — Rameel juntou as mãos na região das bochechas e começou a girar, como se estivesse envergonhado.

— Para de brincar, desgraçado!

— Ui! Que brabo! Bem, eu entendo a sua desconfiança. Você desconfia do Dartanham, pois ele não salvou o Elphaseus, não é?

— Então você sabe até disso…

— Eu entendo você, vocês conviveram por pouco tempo, mas você sentia que ele era importante, não é?

— Sim… mesmo que eu só o conhecesse a poucas horas, eu sentia como se eu tivesse que me aproximar dele… como se ele precisasse de mim… como se…

— Como se…?

— Não é nada, só esquece!

— Bom, o Dartanham pode ser muito suspeito, e ele é, mas ele é uma boa pessoa, ou demônio, e ele não é do tipo que dá ponto sem nó, então ele deve ter um plano pra ajudar vocês, eu acho.

— E como você garante isso?

— Bom, se você quer uma garantia… — Rameel estendeu a mão — Eu juro que se ele for o vilão no final, eu ajudo vocês a se livrarem do presunto.

— Presun… Ah! Hahaha! — Hayakaz arregalou os olhos e começou a rir. — Ok, você me surpreendeu.

— Finalmente você tirou essa cara de defunto. Confia em mim agora?

— Certo, certo. Você parece mais confiável que o Dartanham, eu confio em você. — Hayakaz estendeu a mão para Rameel.

— Ser mais suspeito que ele é bem difícil. — Rameel apertou a mão de Hayakaz. — Bom, eu tenho que ir agora, mas antes, não fala de mim pra ninguém, beleza?

— Por que?

— Eles vão te chamar de louco…

— Como as… — Antes que Hayakaz pudesse terminar, Rameel se transformou em sombras rosas e desapareceu. — Droga, ele nem me deixou terminar a pergunta!

 Após alguns minutos, Hayakaz estava de volta ao castelo, onde encontrou Dartanham.

— Ola, meu lo…

— O Hexoth e o Garrik já acordaram?

— Sim, meu senhor. Eles o esperam na sala de jan…

 Antes que Dartanham pudesse terminar, Hayakaz subiu as escadas, indo até a sala de jantar. Ao chegar lá, ele abriu um sorriso e disse:

— Vocês dormiram bastante, heim?

— Desculpa, eu acabei deixando meus sentimentos me tomarem… — disse Hexoth.

— Eu não acredito que minha serva se voltou contra nós… — falou Garrik.

— Bom, chega de fazer cara de defunto. Vamos resolver esses problemas, o do Hexoth primeiro, ele parece mais simples. — Hayakaz puxou uma cadeira e se sentou.

— Nunca pensei que eu diria isso, mas você tem razão, começamos por onde? — perguntou Garrik.

— Pelo que o mensageiro do Papa disse naquele discurso, aquela garota que ele quer proteger vai ser executada à meia noite, daqui a três dias e três noites.

— Vocês realmente estão preocupados com isso? Esse problema não é importante… — Hexoth abaixou sua cabeça.

— Como ele falava, Garrik? — falou Hayakaz

— “Se você acha que não é digno de viver, por causa dos seus erros… então torne-se digno!” — falou Garrik.

  Ao ouvir aquelas palavras, os olhos de Hexoth se encheram de lágrimas e um enorme sorriso surgiu em seu rosto.

— Vocês… vocês são os melhores amigos que eu poderia ter, haha! — Hexoth se levantou e abraçou os dois.

— Argh! Acho que ouvi minhas costelas quebrando… — disse Hayakaz.

— Hexoth… eu não consigo… respirar… — falou Garrik.

 Após Hexoth soltá-los, os três começaram a rir da situação.

— Bom, qual o plano? — falou Hexoth.

— Antes, tem algumas coisas que vocês precisam saber… — disse Hayakaz.

 Hayakaz então explicou tudo que Dartanham havia contado, tanto sobre sua restrição quanto sobre saber de seus futuros. Após isso, ele se levantou da cadeira e disse:

— Talvez a gente deva deixar ele por perto, pra monitorar.

— Realmente… ele é absurdamente forte… — falou Hexoth.

— Ele disse que não pode interferir no nosso futuro, então ele não pode se virar contra nós. — Garrik coçou o queixo.

— Você tem razão, mas talvez ficar de olho nele seja a melhor opção. Melhor tomarmos cuidado — disse Hexoth. — Mas então? Qual o plano, estrategista?

— Me diga você, Hayakaz. Você começou com isso.

— Me sigam!

 Após dizer isso, Hayakaz desceu as escadas e foi até a entrada, onde Dartanham estava.

— Dartanham, temos que conversar! — disse Hayakaz.

— O que desejam, meus lo…

— Eles já sabem de tudo!

— Entendo… os senhores devem querer que eu me retire, estou certo?

— Errado!

 Ao ouvir isso, Dartanham arregalou os olhos sem entender nada.

— Nós vamos salvar a garota na jaula e queremos que você nos treine para isso! — Hayakaz abriu um sorriso.



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