Infinity World Brasileira

Tradução: infinityworldofc

Revisão: infinityworldofc


Volume 1

Capítulo 4: Repostas Vagas

A ferraria ficava à beira de uma estrada de terra, delimitada por pedras que separavam o caminho da construção. As paredes de madeira escurecida pelo tempo e pela fuligem sustentavam um telhado de telhas pesadas, cobertas por uma fina camada de poeira.

A caminhada até o lugar havia sido curta. Suu-Yuky parou diante da entrada e observou a fumaça escapando por pequenas frestas, enquanto o som ritmado de marteladas preenchia o ar.

Aproximou-se da porta e bateu.

— Olá! Tem alguém aqui? — perguntou, com a voz calma, quase engolida pelo barulho vindo de dentro.

Sem resposta, empurrou a porta e entrou.

Não viu ninguém à primeira vista. O interior estava tomado por fumaça, tornando difícil respirar sem inalá-la. Seus olhos se voltaram para as prateleiras, cheias de armas, ferramentas e artefatos expostos para venda.

De repente, um barulho vindo de um canto mais afastado interrompeu o silêncio — parecia uma pequena explosão, seguida por um grito.

— Ó porcaria de forno velho! Esse diacho ainda vai botar fogo em tudo! — disse uma voz irritada, misturada ao som metálico que preenchia o ambiente.

Suu-Yuky arqueou uma sobrancelha e olhou na direção do som. Entre a fumaça, surgiu um homem coberto de carvão, tentando limpar sem sucesso as manchas escuras na roupa e no rosto. Ele usava um tenaz, segurando um pedaço de ferro incandescente, aparentemente lutando para mantê-lo sob controle.

Ao notar o jovem de capa parado na entrada, o velho se sobressaltou — mais por reflexo do que por agilidade — e se abaixou atrás do balcão. Em seguida, ergueu-se com um sorriso exagerado e tentou se recompor, assumindo uma postura mais firme.

— Ah, um cliente! Em que posso ajudar, companheiro? — exclamou com uma voz que buscava autoridade, mas deixava transparecer sua falta de jeito, enquanto esfregava as mãos com certa malícia.

— Isso foi bem inesperado… Você é o dono? — questionou Suu-Yuky com um sorriso torto, observando o velho atrás do balcão.

— Eu mesmo. Me chamo Nikki… E você, quem é? Cá entre nós, eu lembraria se já tivesse visto alguém tão pálido por aqui.

— Sou só um viajante em busca de informações. Mas, por agora, preciso de armamento. Gostaria de dar uma olhada nas suas espadas.

Espadas, espadas, meu companheiro! — respondeu o velho, já se dirigindo às prateleiras. Começou a puxar algumas lâminas com uma empolgação que contrastava com sua aparência suja e cansada. — Aqui tem de sobra! Nada de enfeite, são afiadas o suficiente para cortar até o mau humor!

Suu-Yuky observou, intrigado, enquanto o velho deslizava as espadas pelas prateleiras. Levando-as para o balcão.

— Por que montar uma loja num lugar como esse? — indagou Suu-Yuky, olhando ao redor com atenção. — Digo... é bem afastado de tudo.

Nikki caminhou até o balcão com as lâminas nos braços e as depositou sobre a madeira com cuidado. Em seguida, virou-se com um sorriso confiante e apoiou os cotovelos no balcão antes de responder.

— Ah, companheiro, depois que você envelhece, aprende a transformar qualquer lugar em casa — disse Nikki, enquanto puxava um pano encardido do bolso e começava a limpar distraidamente uma das lâminas, como se estivesse relembrando algo. — Aqui estão elas, são as minhas melhores. Fique à vontade pra examinar!

Suu-Yuky manteve o olhar sobre Nikki por alguns segundos, ponderando-se de sua resposta. Aproximou-se do balcão e puxou uma das espadas, levantando-a contra a luz fraca que entrava pela porta entreaberta.

— Parece que envelhecer também ensina a fazer boas lâminas — comentou, girando o cabo com cuidado entre os dedos. Passou os olhos pela extensão da espada, avaliando o peso, o equilíbrio e o fio da lâmina com atenção. — São melhores do que eu esperava. Tem jeito pra isso.

— Gostou companheiro? Eu tenho minhas manhas! — se gabou com um sorriso de ponta a ponta, esfregando as unhas sobre os peitos, certo de suas habilidades. — Essa aí eu te faço por 20 moedas de ouro!

Um arrepio gelado percorreu sua espinha, e os pelos se eriçaram ao ouvir a afirmação. Suu-Yuky virou-se para Nikki com um sorriso sem graça, lembrando-se de um detalhe nada conveniente.

— Sabe o quê? Acontece que... eu não tenho tanto dinheiro — disse, tentando manter o tom leve, com um sorriso torto no rosto.

Nikki ficou em silêncio por um momento, piscando lentamente como se processasse o que acabara de ouvir. Logo depois, deixou escapar um sorriso igualmente torto.

— Ué, companheiro, não tem nem 30 moedas? Quem é que anda por aí hoje em dia sem pelo menos 40 no bolso? — disse, num tom que misturava brincadeira com um leve toque de julgamento.

— Espera aí... não eram 20 moedas?

— Sim, sim, claro — respondeu Nikki, balançando a cabeça como se estivesse sendo perfeitamente razoável. — Eu disse que faria por 50, mas como você não pode pagar as 60, então, infelizmente, não tem negócio.

Ergueu as mãos à altura do peito, como quem lamenta, e soltou um suspiro exagerado, sacudindo a cabeça.

Agora entendi o lance das facadas... pensou Suu-Yuky, cruzando os braços com expressão cética. Aquilo tudo começava a fazer sentido — não era o forno que ameaçava colocar fogo no lugar, e sim os preços.

— Ei, não tem nada mais em conta? — perguntou, inclinando-se levemente sobre o balcão, com uma sobrancelha arqueada e um olhar desconfiado. Seu sorriso estava entre o desdém e a esperança, como quem tenta barganhar.

Era evidente que Nikki não estava satisfeito. Ele soltou um suspiro prolongado, revirou os olhos com impaciência e caminhou até o balcão sem dizer nada. Em silêncio, abaixou-se e abriu um alçapão discreto, embutido na parte inferior da estrutura.

Suu-Yuky observava com atenção, curioso sobre o que o velho pretendia. Nikki desceu por uma escada oculta, sumindo na escuridão do nível inferior da loja. O ambiente permaneceu em silêncio por alguns instantes, até que passos firmes anunciaram seu retorno.

Ao reaparecer, trazia nos braços uma pilha de espadas antigas, com sinais evidentes do tempo. Ele as colocou sobre o balcão de maneira rápida e direta.

— Aqui estão. Se não puder pagar por nenhuma delas, sugiro que abandone o trabalho de vagabundo. — disse, em tom direto, apontando para as armas com um gesto simples. Em seguida, cruzou os braços e manteve o olhar fixo em Suu-Yuky, atento à sua reação.

Suu-Yuky permaneceu em silêncio por alguns instantes, encarando as espadas dispostas à sua frente.

Seus dedos deslizaram lentamente entre as lâminas enferrujadas — nenhuma delas parecia chamar atenção. No entanto, algo quebrou a monotonia, uma brisa sutil, quase imperceptível, pareceu emanar de uma das espadas. 

Instintivamente, Suu-Yuky voltou o olhar. Seus olhos se fixaram numa lâmina peculiar, que pulsava em tons etéreos de roxo e vermelho. Um brilho tênue escapava por entre as frestas da ferrugem e da fina camada de poeira.

Sussurros leves, quase inaudíveis começaram a ecoar em sua mente. Palavras desconexas, promessas veladas.

Curvando-se um pouco mais, ele examinou os detalhes da arma. A empunhadura ainda exibia traços de entalhes antigos, talvez rúnicos, agora parcialmente ocultos pelo tempo. A lâmina parecia viva. E, mais do que isso, parecia chamá-lo.

Seus olhos se estreitaram, concentrados, enquanto tentava compreender o que estava sentindo.

— Tem ideia do que é essa lâmina? — perguntou, a dúvida e o fascínio claros em sua voz, apesar da leve tensão que sentia no ambiente.

Nikki ergueu uma sobrancelha, como se não esperasse que o garoto fosse notar algo de especial naquela pilha. Endireitou a postura e se aproximou lentamente do balcão, seus olhos agora fixos na espada que Suu-Yuky observava. Um leve sorriso se formou em seus lábios, mais contido dessa vez — não de zombaria, mas de reconhecimento.

— Incrível, né, companheiro? Achei ela enterrada no meio dos escombros das ruínas próximas da floresta. — disse ele, apoiando as mãos no balcão, com o olhar sério. — É amaldiçoada. Trazer pra cá já foi um baita desafio. Eu pretendia reforjá-la, mas os materiais pra poder fazer isso não são fáceis de conseguir.

Suu-Yuky avançou alguns passos, seus dedos se aproximando da espada com uma calma que contrastava com a tempestade de pensamentos em sua mente. Ao pegar a lâmina, uma energia pulsante começou a envolvê-lo.

Sentiu um formigamento subir pelas mãos, percorrendo os braços até os ombros. Seu coração acelerou por instantes, mas seu olhar permaneceu firme, estudando cada detalhe do metal marcado pelo tempo.

— Mesmo nessas condições, ela ainda emana tanto poder? — Suu-Yuky a fitava, atônito, seus pensamentos em turbilhão. Não era ilusão — havia algo sombrio ali, algo real e profundo.

Ele colocou a espada de volta no balcão, o metal raspando levemente sobre a madeira com um som pesado. Olhou para Nikki, que observava o jovem com um sorriso um tanto desconcertante, como se já esperasse por aquela reação.

— Nikki, certo? Sou Suu-Yuky — disse, ainda processando a estranha energia que sentira. — Quero essa espada. Mas não tenho um centavo... Em compensação, sou forte. Posso trabalhar para pagar por ela. Qualquer serviço pesado serve.

Nikki cruzou os braços, o sorriso se alargando. Já estava acostumado com forasteiros desesperados, mas aquele rapaz tinha algo diferente no olhar.

— Eu imaginei — respondeu, com uma voz que oscilava entre o desdém e uma nostalgia amarga. — Há algum tempo, comerciantes e viajantes usavam uma rota a oeste para transportar mercadorias de forma, digamos... discreta. Mas começaram a surgir rumores. Gente dizendo que alguma coisa passou a bloquear o caminho. Uma criatura, segundo contam. Desde então, o fluxo de mercadorias secou quase por completo.

Fez uma pausa breve, encarando o vazio, como se revivesse lembranças desagradáveis.

— Provavelmente não passa de um urso ou algum bicho grande demais pra mente pequena de quem contou a história. Você sabe como essas histórias crescem de boca em boca… Acha que dá conta disso?

— Tudo bem. Eu cuido da criatura. Mas quero a espada consertada no pacote — Suu-Yuky não hesitou. Concordou com um aceno firme, os olhos fixos no velho sem pensar muito nos riscos.

Nikki deu uma leve gargalhada ao ouvir a exigência. Ele bateu levemente no balcão com a palma da mão, como se selasse um acordo informal.

— Rapaz direto ao ponto, gosto disso. Tá certo, se você der conta da criatura, a espada é sua… e eu mesmo reforjo ela, como prometido.

Suu-Yuky assentiu com firmeza. Sua expressão era tranquila, mas seus olhos já estavam distantes, voltados para o desafio à frente.

— Só preciso de uma direção precisa. E talvez… alguma dica útil, caso tenha.

Nikki estalou a língua, pensativo, depois se virou e começou a vasculhar uma prateleira bagunçada atrás do balcão. Após alguns segundos, puxou um pequeno frasco de vidro com um líquido escuro dentro.

— Isso aqui é uma essência de orvalho de ossário. Não vai matar a criatura, mas vai confundir o faro dela por uns minutos, se souber usar. E vai por mim… vai precisar dessa brecha. — entregou o frasco para Suu-Yuky, com uma piscadela.

O jovem pegou o objeto e o guardou cuidadosamente.

— Vou voltar com a criatura fora do caminho e a espada na mão. — disse, firme.

Nikki deu de ombros, ainda sorrindo.

— Então é melhor eu já ir esquentando a forja, né, companheiro? Boa sorte. Você vai precisar.

A poeira se espalhava pelo ar, formando uma leve camada que tornava o ambiente ainda mais escuro. O cenário havia mudado por completo. Agora nos encontrávamos em um local diferente, semelhante a um depósito antigo e mal iluminado, onde a tensão era palpável. As paredes de pedra, frias e úmidas, estavam cobertas por musgo, e o ar era pesado, com cheiro forte de mofo e ferrugem.

A luz que entrava pelas janelas quebradas era fraca e mal alcançava o interior do lugar, deixando sombras longas espalhadas pelo chão.

Dentro do ambiente, algumas figuras se moviam discretamente. Algumas permaneciam apoiadas nas paredes, com expressões sérias e os corpos encolhidos. Uma delas estava sentada diante de uma mesa de madeira, com a postura firme. À sua frente, havia vários papéis espalhados. Ela os analisava com atenção, fazendo anotações enquanto conversava com outra figura do lado oposto da sala, parcialmente encoberta pela escuridão.

— É um desgraçado qualquer, ele e sua turminha de imbecis…. Costumam agir em regiões pouco vigiadas.

— Olha, do jeito que você fala, parece até que vai ser algo fácil e sem graça — respondeu uma voz grave, vinda do canto mais escuro da sala.

A figura sentada à mesa levantou o olhar. Os olhos frios analisaram a pessoa que havia falado. Sua expressão permaneceu neutra, mas um leve sorriso no canto dos lábios indicava uma confiança desconcertante.

— Normalmente, não perderíamos tempo com alguém assim. Mas, desta vez, ele mexeu com um dos nossos. Se vai ser fácil ou não, depende do que você consegue fazer — disse, em um tom calmo, mas com uma ameaça implícita.

A figura no canto endireitou a postura e fixou o olhar na pessoa à mesa. Em silêncio, começou a se aproximar com passos lentos e firmes, enquanto o som de suas botas ecoava no ambiente silencioso.

— Saquei, vocês têm ideia de onde ele está se escondendo? — perguntou, com um tom que misturava curiosidade e desdém, como se testasse a paciência de quem o ouvia.

A figura à mesa desenrolou um mapa amarelado e o estendeu sobre a madeira. Seus dedos percorreram os traços com familiaridade, até parar em uma área isolada, longe de qualquer sinal de civilização. O papel estava coberto por marcas e símbolos que só alguém experiente entenderia.

— Já cuidamos dessa parte. Ele está encurralado em uma velha masmorra, a leste daqui, perto de uma montanha — disse, com um leve sorriso, confiante. — A recompensa será generosa, vivo ou morto. E então, ‘Gatilho de Agulha’… você está dentro?

A figura se aproximou da mesa com passos calmos, mas firmes. O ambiente pareceu ficar mais tenso à medida que ele se inclinava para assinar. A assinatura foi rápida, sem hesitação, como se já soubesse o que o esperava.

— Pode esperar por mim. Não demoro. Afinal… Eu sou mais eu.

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