Nisōiro Brasileira

Autor(a): Pedro Caetano


Volume V – Arco 14

Capítulo 136: Bem Comum

Enquanto Masaki estava enfiado entre dois times de pretorianos, um projétil de terra maciça voou contra a muralha. Arqueiros atingidos e um rombo foi aberto no paredão de pedra. Umi estava próxima do impacto, que derrubou o chão debaixo dela. 

Por um momento, ela e todos os outros arqueiros foram soterrados por terra e entulho. De repente, Umi ouviu.

— Atenção! — um grito cortou a cacofonia — Preparar para abrir os portões.

Em poucos minutos, a garota sentiu o peso sair de cima dela, como se tivesse sido soprado. Uma mão alcançou a sua, que estava esticada além dos escombros. Ao ser puxada, reparou no andar interno da muralha escancarado com o disparo. Outros estavam sendo retirados por reforços que acabaram de chegar.

— Umi?! — Jin terminava de puxá-la debaixo dos escombros — É você mesmo!? 

— Jin! — se surpreendeu, mas se conteve — não, não é hora pra isso — olhou ao redor — Aiko! Cadê você?!

— Aqui — gritou de outro ponto da sala destruída, carregada por Yanaho — Eu acho que minha perna…

— Segure ela Kazuya — deu a menina nos braços do companheiro — Como isso aconteceu? — perguntou Yanaho — Eu não tô vendo nenhuma catapulta.

— Eu não sei — reparou Umi, em outros mirins resgatando os arqueiros — Todo mundo tá de volta então, né?

— Alguns foram ajudar em terra — respondeu Yanaho tomando a frente — A gente vai lá também.

— Então vamos! — correspondeu Umi, seguindo junto ao garoto de capa vermelha. 

— Espera — estendeu a mão Jin, ao tempo que a garota nem lhe dava atenção — Umi… — sussurrou logo antes de segui-los. 

O grupo desceu da muralha pelo buraco aberto, se juntando aos Senshis no nível abaixo. Os Senshis até então em menor número após a queda parcial da muralha assumiram vantagem de imediato com a chegada dos reforços, cuja cavalaria partiu direto para uma ofensiva liderada por Kenichi:

— Espalhem-se — ordenou — Temos que afastá-los.

Em terra, Yukirama colocou a cabeça por cima da cobertura para acompanhar o contra-golpe Aka, quando ouviu uma voz chamar por ele:

— Vai fugir de mim de novo?

— Masori — ele virou a cabeça, mas não o corpo — Essa é a pior hora para…

— O que você estava pensando?! — gritou, antes de agachar ao seu lado atrás do tronco — Sabe como sua mãe, tá?

— Vai valer a pena — escondeu a cabeça de volta na cobertura, verificando se a carta ainda estava no bolso — Tenho provas comigo, só preciso entregar tudo… na hora certa.

— Não suma da minha vista de novo — dizia, colocando a cabeça para fora para disparar uma flecha — E as outras duas?

— Estão nas muralhas — olhou para a muralha exposta — Droga, elas foram atingidas. Quem mais veio além de você?

— Você vai ver… na hora certa.

Mais a frente, Masaki seguia o rastro da suposta catapulta quando encontrou um time de pretorianos reunindo terra o suficiente para abrir crateras e outro trio puxando ar para soprar aquela massa em direção ao exército vermelho.

Masaki esperou o momento certo e saltou contra a bola de terra na hora que foi soprada pelo jato de ar do conjunto. Com uma martelada, ele fez chover lama entre eles com os pedaços. 

— Seu grupinho de fogo não deu conta — colocou o martelo nos ombros — Eu deixo vocês combinarem dois para ver se dão um jeito em mim.

— Lixo impuro — respondeu um deles, enquanto o time de terra o cercou.

Os pedaços de terra foram atraídos para as mãos de Masaki como um ímã. Ele sacudiu a sujeira, mas ela se alastrou para a cintura, pesando seu corpo até colocá-lo apoiado em um joelho.

Reunindo forças, Masaki girou seu martelo. O chão se levantou para proteger os pretorianos ao redor. A terra atingida foi para suas pernas, o imobilizando para o sopro que o grupo responsável pela manipulação do ar fez. Contudo, em vez de ser atirado, Masaki afundou no chão. Mesmo coberto de terra e castigado pela ventania, ele continuou na direção dos pretorianos.

— Mais força — ordenou um pretoriano terrestre.

— Essa é a máxima potência — o líder do grupo de vento afirmou — Mais e vamos acertar nossas tropas na frente.

— O que foi? — Masaki arrastava seu martelo pelo chão — É só isso que tem?

Os ventos passaram a cortar as partes expostas do Senshi, abrindo pequenas feridas. Masaki então virou o corpo na direção dos cortes, para desmanchar a terra que o prendia.

— Amassem ele — ordenou um deles.

O chão abaixo do Senshi do martelo se abriu para engoli-lo, porém com a unha do martelo, Masaki escalou de volta para a superfície antes do fechamento da fenda. Um buraco o separava de seus inimigos agora, quando ouviu relinchos atrás de si.

— Principal Masaki — gritou Kenichi — Estamos aqui.

— Eu agradeço a ajuda, mas eu já terminei aqui. Falta pouco — estalou os ombros, na medida em que a terra que pesava suas costas escorria para o chão. 

Do lado dos pretorianos, uma nuvem densa sobrevoou os dois times em combate. O time terrestre então expandiu a cratera que os separavam dos Senshis, criando uma fenda ainda maior. Finalmente, choveu.

— Eles estão parando — disse Kenichi, estendendo a mão para Masaki subir no cavalo.

— Conseguiram o que queriam — respondeu Masaki, dando as costas para voltar andando — amanhã tem mais.

Ao retornar para a muralha, a chuva transbordava do rombo delas. Salas alagadas, infiltração nas paredes, mas os Senshis em terra eram numerosos e estavam a salvo.

— Estamos todos às suas ordens — Kenichi amarrava seu cavalo.

— O inimigo está longe da rendição e esta chuva não vai parar tão cedo. Eu preciso de alguém capaz de tirá-la das salas de equipamentos nas muralhas até lá.

— Acredito que nós — Doku se levantou com mais alguns Heishis — Podemos fazer algo a respeito. 

Masaki apenas acenou para Kenichi e seus Senshis acompanhá-los, então deixou seu martelo na grama e se sentou. 

— O que encontramos aqui nos preocupou, senhor — Tomio se aproximou — Não vi nenhuma catapulta para um disparo tão grande. Pelo menos chegamos a tempo para salvar algumas vidas.

— Eles tem várias equipes que manipulam elementos — afirmou Masaki — pequenos grupos para cada categoria. 

— De quais estamos falando?

— São diferentes das outras tropas que já enfrentamos. Controlam Fogo, terra, vento e agora — apontou para o céu — água.

— Essa chuva? Plano do inimigo?

— Recuaram logo depois que ela começou. Os problemas aqui começaram com a água, né?

— Os Senshis daqui se queixam que os poços secaram e a água fedia uma semana atrás — levou a mão ao queixo — Parando para pensar…

— Passei do tempo de subestimar nossos inimigos — levantou-se — Depois de Nokyokai e o que vi no deserto. Se falarem que eles chovem fogo do céu, vou acreditar.

— Para onde vai?

— Checar se nós ainda podemos fazer chover fogo neles.

Durante a tarde, Masaki recuperou os canhões que caíram após o bombardeio inimigo para repará-los. Quando a noite chegou, eles foram reposicionados por dentro da muralha em vez do lado de fora nas ameias. 

Logo após, ele ajudou a construir um pequeno acampamento nos portões do muro, com barricadas e buracos cobertos ao redor como armadilhas. Os arqueiros foram reposicionados em outros pontos da muralha, ao passo que um grupo liderado por Doku trouxe apenas dois baús de equipamento ainda não danificados pela chuva.

O Principal trouxe tudo para o ponto mais alto do muro, entre as ameias, onde os mirins e os reforços que vieram mais cedo estavam naquele dia comendo as sobras dos mantimentos que não foram destruídos na batalha. Se reunindo, de forma mais calma Yukirama e Masori se reuniram com os demais.

— Essa é a hora certa? — perguntou o garoto fazendo Masori sorrir. 

— Umi me contou que quase morreram pelo menos duas vezes — Yanaho bateu em seu peito — antes eu achava que precisavam de mim, agora tenho certeza. 

— Você teria morrido bem antes disso se o branquelo não tivesse chegado a tempo — respondeu empurrando o garoto que sorriu. 

Os dois apertaram a mão um do outro, enquanto Tsuneo se colocou entre eles: 

— O importante é que todos estamos vivos, afinal. 

— Imagino que só você tenha vido do deserto — dizia Aiko cabisbaixa, já conseguindo mover sua perna. 

— Não, Usagi veio conosco — anunciou sorrindo — provavelmente chegará na segunda leva no amanhecer. 

O anúncio encheu os olhos de Aiko por um momento, ao tempo que Yukirama estendeu seu braço ao ombro de Yanaho e Tsuneo:

— Falando no Deserto. Eu sinto muito por Etsuko e Katsuo. 

Os mirins murcharam novamente, Tomio estava sentado no chão entre eles, distribuindo o conteúdo de um par de caixotes que tinha ao lado. O silêncio perdurou até Yanaho indagar, respirando fundo:

— Está tudo bem, estamos aqui por eles também. 

Todos esbanjam um sorriso, juntando as caixas e distribuindo entre si barras de cereal como uma espécie de ração militar. De repente quebrando o gelo, o principal sentou em um barril na borda do círculo dos jovens, seu enorme martelo chamava a atenção de todos. 

— Espero que sobre a ração — disse Masaki, sentado logo atrás de Tomio — Ou estaremos mortos até o final da semana se depender desse guloso aqui — apontou para Jin. 

— Eles são bem treinados. Sobrevivem com pouco — disse Tomio — E o equipamento? Perdemos tudo?

— Isso é só o que está pronto para uso. Se o grupo de busca encontrar algo que vale a pena ser resgatado, vocês vão consertar.

A perna de Aiko era envolvida em uma aura vermelha enquanto Tomio e outros mirins estavam ao redor, Jin tentou novamente se aproximar de Umi:

— Ei, eu senti sua… 

— Por hora, só responda: — pegou o garoto pela gola da camisa — como estão nossos pais? — arregalava seus olhos. 

— Estão… bem — se soltava Jin, assustado — apesar de nada ter mudado no estado de Iori. 

— Entendo — levou uma mão à testa, percebendo o desânimo no garoto, apertou sua bochecha correspondendo — também é bom te ver, fracote. 

Um estalo pode ser ouvido por todos ali, a corda que dava para cidade corria subindo pelas paredes do grande portão.  

— Quem está vindo? — questionou Tomio terminando de curar sua aluna. 

Quando o elevador subiu totalmente, a lamparina que vinha nas mãos do convidado inesperado revelou sua identidade assim que abaixou o capuz. Os mirins que haviam chegado em Doa logo cedo já esperavam, mas o trio que veio das montanhas olhou para seus pares com confusão.

— Principal Masaki — disse Makoto, saltando do elevador — Eu o convoco para uma sessão extraordinária na Câmara Carmesim imediatamente.

— Quanto tempo, garotão — respondeu Masaki sem se levantar — Seu velho tá legal, se você quer saber. Devia passar lá de vez em quando.

— Venha comigo, isso não é assunto para falarmos na frente dos demais — olhou de canto para os mirins.

— Essas crianças lutaram comigo. Merecem saber o que se passa tanto quanto os Senshis que deixei lá embaixo. O que você tem que dizer a mim em particular que não pode ser dito a eles?

— Os anciãos e os Titulares querem garantias de que o Rei tem nossos melhores interesses em mente. Perdoe-me a grosseria, mas o seu descaso só ratifica as suspeitas dos nossos oponentes.

— Nossos? — Masaki abriu um sorriso no canto da boca.

Os mirins que vieram da fortaleza arregalaram os olhos também. Makoto grunhiu de frustração e cerrou os punhos:

— Apesar de assisti-lo, eu sei que os planos de Naohito estão longe de ser ideais.

— E?

— Gostaria que a causa do Rei Chaul e seu Supremo vença na Câmara — pronunciou de cabeça baixa — Por favor, mostre para eles um pouco de comprometimento. Naohito sempre teve um respeito por você e sua família. Pode ser que ouvindo de você ele possa…

— Ryoma não me mandou para mostrar nada a ninguém. Eu vim para proteger a cidade. Essa votação é fajuta, garotão. Mesmo que me valorize por ser seu ex aluno, dúvido que perderá essa chance, eu conheço bem ele. 

— Daí você atrasa a sua vinda. É assim que valoriza o tempo dos seus companheiros que viajaram de tão longe? Isso não são modos de alguém da sua linhagem.

— Você imita o Naohito bem — ficou de pé, colocou a mão em seu ombro — era melhor ter entregue uma carta dele. Era só rasgar e fim de papo.

— Eu só quero que todos saiam dessa vivos — Makoto insistiu — ele e os anciões não vão evacuar a cidade a menos que a votação termine.

— Que votem sem mim.

— Sabe, ele disse que você agiria assim — ergueu o rosto para encarar o Principal nos olhos — Por favor, ao menos, há algum recado que possa transmitir? Qualquer coisa para acalmar os ânimos.

— Vem cá, garotão, você chega aqui sem nem ao menos saber o que passamos, e me confronta dessa forma? Eu tenho certeza que lá dentro da fortaleza, o “sim, senhor” vem tão fácil como respirar. 

— Porque… — Makoto cerrou os punhos — Você sabe.

— Porque precisa dele. E não precisa de mim. Só que um homem de verdade não entrega recados, ele fala o que pensa. Então você vai lá e no lugar de repetir minha mensagem, vai falar as suas próprias conclusões. 

— Pois a minha conclusão é que o Senshi enviado pelo Supremo parece ter esquecido do valor do sacrifício pelo bem comum — embarcou no elevador.

— Makoto — o rapaz parou ao ser chamado — Essa coisa de “bem comum”  é conversa do fraco para convencer o forte a fazer o que ele manda.

Em silêncio, o auxiliar de Naohito desceu de volta para a cidade. Masaki voltou a sentar com os mirins.

— Desculpa, crianças, algumas coisas precisavam ser ditas — deu de ombros — Escutem seu professor, o bem comum é bem importante. Vocês vão entender o que eu falei quando ficarem mais velhos.

— Não, eu — a voz de Yukirama cortou o silêncio dos mirins — entendi perfeitamente. 

— Seja lá o que estão discutindo na câmara, temos que proteger a cidade — Yanaho acenou com a cabeça — como Senshis.

De repente, um forte tremor sacudiu a cidade de Doa. Masaki e os Senshis de guarda se apoiaram nas ameias, enquanto assistiram o que restava das partes destruídas do muro ruir completamente. Seus arqueiros recuaram dos postos e a equipe de busca recuperou o equivalente a um mísero baú de armas ainda lacrado. 

— O que foi isso? — Masaki gritou aos homens do acampamento do alto da muralha.

— Na floresta — gritou um Heishi, apontando para dentro da mata escura — Devemos avançar a noite? 

— Já desço para encontrar vocês.

Tomio logo recebeu um olhar de preocupação de Jin e Tsuneo que logo o pôs de pé para acompanhar o Principal, mas foi impedido:

— Eu sei. Kenichi irá comigo.

— Tudo bem — se sentou, suspirando aliviado.

— O que foi tudo aquela conversa com o Masaki? — perguntou Masori — Aquele cara tem idade para ser Senshi

— Makoto é um Senshi Interino — explicou Tomio — um mirim recém promovido, como vocês todos serão um dia só que… Ainda precisam ser aprovados em uma votação entre os três Estados.

— Por isso mirins que não vêm de famílias já tradicionalmente Senshis raramente formam — disse Tsuneo — É importante ter contatos e reputação.

— Mesmo que sejamos importantes no campo de batalha — dizia Aiko — Tudo depende dos anciãos e dos Titulares?

— Agora não é a hora de se preocupar — disse Yukirama — Ainda vai demorar até chegar a nossa hora. Vamos estar presos nessas patentes por um tempo nesta guerra.

— Até parece que um bando de velhos que não vou ser um Senshi depois de tudo que eu passei — respondeu Yanaho — e diferente desse cara, não vou adular eles para isso. 

— A situação dele é diferente, porque ele é filho do Senshi Supremo, um rival político de longa data. Esta má fama, pode trazer represálias para a carreira dele.

— Dividido entre a família e o que ele quer — murmurou Aiko — deve ser difícil.

— Então ele é o filho do Supremo… — levou a mão ao queixo — o que ele deve pensar do filho trabalhando pros inimigos dele? 

— Os anciãos não são inimigos — respondeu Tomio — Na verdade, foi ele mesmo que sugeriu a Makoto que viesse, como gesto de boa vontade.

— Teimosia ou inocência? — disse Masori — Ou os dois.

— Não, maturidade — respondeu Tomio — Estamos juntos nesta guerra. Se não confiamos em nosso próprio povo, em quem vamos? Todos estão fazendo o que consideram ser melhor para o reino. Como mirins, a hora de opinar sobre isso vai chegar somente quando forem Senshis formados com poder de voto. Até lá, durmam porque nossa próxima batalha se aproxima.

A partir do instante em que puseram os pés em Kagutsuchi, os convidados de Imichi foram inundados pelos gritos, cheiros e cores da cidade. Prédios tão altos que projetavam sombra em ruas largas, barracas vendendo coisas que nunca experimentaram, tudo da janela de suas carruagens.

Toda a euforia da cidade, no entanto, minguaria na medida em que a carruagem cortava as suas ruas rumo a um acampamento em seus limites. Cercas de madeira e paliçadas cobriam o perímetro quando estacionaram na frente de um portão largo, aberto no momento em que reconheceram o Shiro sorridente.

Por dentro, o lugar era um pátio de treinamento com homens e mulheres de várias idades praticando com Senshis ou bonecos de palha com espadas de madeira nas mãos. Todos eram observados por um par de homens caminhando por um andaime construído rende ao muro.

— Faz tempo que vejo uma turma de voluntários tão grande — Yato anotava intensamente na sua prancheta — Na Guerra do Sangue lembro de alistarmos quinhentos no ano mais movimentado. Agora são… seiscentos? No primeiro ano?

— Esta é uma geração que cresceu ouvindo histórias da Guerra do Sangue — Ryoma jogou as mãos para trás — Precisamos de toda ajuda necessária, porém eles precisam saber que esta guerra não é conto de fadas que seus pais contaram. Nem mesmo aquela Guerra foi… E seus ferimentos? 

— Vou sobreviver. Já é mais do que muita gente — cerrou o punho — eu recebi uma carta para a Convocação, pensei que fosse pegadinha. Naohito está brincando com o fogo. Como podem levar essa estupidez tão a sério num momento de crise?

— Crises são um momento de transição de poder — caminhou contornando o amigo — Naohito reconheceu esta oportunidade e vai agarrá-la mesmo com o custo de nos atrasar na guerra. Eu só torço que isso renda frutos como da última vez.

— Espera um pouco, não acha que essa Convocação é de alguma forma parecida com o que você… — reparou no rosto cabisbaixo de Ryoma — Supremo, o que vimos… foi inaceitável.

— Olhe para você, Yato. O que aconteceu no deserto foi tão inaceitável quanto. Talvez tenha chegado a hora onde eu e Chaul cometemos um erro de julgamento. Eu toleraria qualquer um liderar uma oposição na Câmara, menos ele.

Um par de Senshis então veio até eles, anunciando visita. Yato aproveitou para descer para olhar os voluntários mais de perto, enquanto Imichi chegou acompanhado por dois rapazes de olhos verdes. 

— Fora da sua mansão? Se eu não te conhecesse melhor, diria que estava correndo de mim, Supremo — Imichi o cumprimentou com um aperto de mão.

— Como se eu pudesse fugir de você — correspondeu o aperto — Esses são os Midori, imagino. É um prazer conhecê-lo, sou o Senshi Supremo, Ryoma Shiranui.

— Se é um prazer tão grande, devia nos visitar — cruzou os braços — pouparia a viagem longa e a possibilidade de um ataque na minha ausência.

— Presumo que seja o Dai — Ryoma sorriu trocando olhares com Dai, que nem se movia — Pensar no bem comum é uma qualidade que líderes dividem entre si. Posso ver que somos parecidos.

— Eu sou Mitensai, do poço — apertou a mão do supremo, curvando a cabeça brevemente — é que me chamam assim de onde venho. Eu não sou líder de nada… mas eu também me importo.

— Imichi me avisou sobre seu novo aluno. Não se envergonhe da sua posição. Até para quem está em cima, há questionamentos — olhou para Dai — Imagino que este período de transição seja difícil.

— Mais um motivo para esta conversa ser em outro lugar. Os Midori sempre foram um amontoado de milícias improvisadas independentes. Se até eu preciso me acostumar com esse poder, os chefes locais exigem garantias.

— Vocês são uma nação mestiça que conquistou um avanço diplomático recente demais. Compreendo o receio dos chefes locais. É uma questão de tempo até que se tornem alvos dos Kuro.

— Que bom… — Mitensai tomou a fala, reparando no desconforto de Dai — é exatamente por isso que estamos aqui. 

— Os Kuro já são um alvo dos Midori há muito tempo — completou Imichi — O Chefão e o feiticeiro chamado Seth tinham interesses próprios para o território. 

— Eu não quero guerra — tomou a frente Dai — Nas profundezas do coliseum de Chukai, encontramos uma cripta. O lugar é o centro de onde todos os esconderijos do Chefão convergem. Seth prometeu voltar e é para lá que ele vai.

— Mais motivos para nossa aliança fazer sentido para você — respondeu Ryoma.

— Meu povo é muito diferente do seu, Ryoma — Dai olhou para os treinamentos abaixo dele — Somos um bando que luta apenas para sobreviver. Uma guerra vai nos destruir. Se vamos unir forças, preciso ter garantias. 

— Seth fez uma ameaça aberta à família do Dai — explicou Imichi.

— É a minha família também — reforçou Mitensai.

Ryoma suspirou fundo antes de responder, apontando para a arena:

— Essas pessoas abaixo de vocês não são Senshis. Todos estão treinando para servirem como voluntários no futuro. Se dependesse de mim, nunca os levaria para guerra. Mesmo assim eles mesmos entenderam a realidade: que não lutar já significa destruição.

— Tenho certeza que não vai lançá-los na linha frente — colocou a mão sob o ombro dele — em Oásis tivemos intervenção mínima, mas eu sei que não quer isso. E eu também não quero mandar meu povo para guerra sem qualquer treinamento.

— Antes de Oásis, essa conversa acabaria com um grupo Senshis enviados para suas terras para treiná-lo  — se virou para os jovens — mas as coisas mudaram.

— Supremo — Imichi olhou para ele confuso — O que está acontecendo?

— Os anciãos fizeram uma convocação com os Titulares para uma votação na Cidade de Doa. Querem dividir o poder de decisão militar e diplomático do Rei Chaul.

— Depois de Nokyokai e Oásis, eles não querem perder mais ninguém em solo estrangeiro sem…

— Garantias — Ryoma completou a fala do Shiro — Mesmo que eu feche um acordo com vocês neste momento, ele ainda estaria sob escrutínio deles, caso perca votação. Sinto muito.

— Até aqui tem esse tipo de gente? — Dai riu — Acho que a gente divide mais os problemas do que os pontos fortes.

— Você ainda pode vencer essa votação, né, Senhor Ryoma? — questionou Mitensai.

— Atualmente, estou preocupado com a segurança de Doa — Ryoma encarou Imichi — A região foi invadida pelos Kuro. É questão de tempo até uma batalha eclodir.

— Depois do deserto, eles tem caminho livre pela fronteira… Isso é loucura. Os anciãos precisam adiar essa Convocação.

— Eu não espero que façam isso. Por isso mandei meu representante com tropas e mais reforços a caminho. 

Durante a conversa, no momento que o Sol terminava de cruzar o horizonte, Yato correu de volta aos andaimes chamando por Ryoma:

— Senhor Supremo, chegou um relatório da primeira equipe de reforços. Doa está… elevada acima do chão. Eles não conseguem entrar. Como isso é possível?

— Manipulação elemental de terra — disse Imichi — Um daqueles súditos? 

— Eu não sei, mas o inimigo revelou sua real intenção. Doa é o alvo.

— Ele falou primeira equipe de reforços — interrompeu Dai — E a segunda?

— Estão resolvendo uma outra situação — desconversou Ryoma.


Ilustradora: Joy (Instagram).

Revisado por: Matheus Zache e Pedro Caetano.

 

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