O Meu Caminho Brasileira

Autor(a): Rafael AS

Revisão: Rafael-AS


Volume 1

Capítulo 21: Hikaru

Após a palavra do professor Dung, nem um suspiro podia ser ouvido na plateia. Tão silenciosos quanto, Guinevere e Hikaru se encaravam na plataforma branca e reta, absortos em seu próprio mundo. Era um jogo mental; um pequeno erro, uma iniciativa errada poderia definir o destino do confronto. Ambos estudavam um ao outro, tamanha tensão que uma gota de suor escorreu pela testa de Guinevere.

Na arquibancada, olhei para Hayek, que lhes assistia atentamente. Aqueles olhos sérios e recheados de expectativas deixavam escancarada a importância daquilo: Guinevere a representava na academia, como sua pupila, e poderia alterar sua fama; da mesma forma, a garota era posta à prova, escolhida a dedo pela mestra para exibir suas habilidades.

Um erro levaria não só à derrota, mas a consequências muito maiores que um machucado no corpo.

— Sara, eles não vão começar? — disse uma garota de cabelos azuis ondulados.

— Hikaru é um espadachim, Anna. Um movimento mal calculado e ele será vítima de feitiços que o impedirão de se aproximar. Da mesma forma, uma escolha errada da Guinevere pode arruinar a vantagem da distância entre eles — comentou Sara, uma jovem cujos cabelos castanhos estavam presos em um rabo de cavalo.

A arena, plana e desprovida de qualquer proteção, era uma faca de dois gumes para ambos os competidores. Para Hikaru, não havia refúgio dos feitiços de Guinevere; para ela, a distância entre eles poderia ser facilmente quebrada.

O local, com seu design de pedra e arquibancadas elevadas, me fazia sentir como se assistisse dois gladiadores lutando até a morte na Roma Antiga. A pressão de estar no centro de tudo, sob o olhar crítico de todos, era esmagadora...

Foi então algo quase imperceptível aconteceu. Hikaru firmou seu pé traseiro mais fortemente no chão. O pequeno movimento fez sua aura mudar bruscamente: já não tinha mais um olhar frio, mas sério e selvagem, se preparando para um abate rápido e letal.

Guinevere pareceu não notar tal detalhe e não se moveu. Hikaru não hesitou; pulou com tamanha força que percorreu toda a arena em um instante só; trouxe sua espada com tanta leveza e maestria que parecia ser uma extensão de seu próprio corpo. A lâmina dançou pelo ar, até se voltar abruptamente contra as costelas da garota.

A possibilidade de Guinevere ser fatiada ao meio fez meu estômago embrulhar; com os olhos quase fechados, vi a lâmina se aproximar, até que...

Um estrondo ressoou por toda a arena, junto de uma ventania momentânea que empurrou minhas roupas contra o corpo e me fez ter que proteger os olhos.

Quando os abri, vi uma rígida muralha de gelo entre os dois, com um vapor esbranquiçado a recobrindo. A katana estava enfiada nela.

Que poder...

De repente, surgiu um grande espinho de gelo da parede que mirou o corpo de Hikaru. O jovem esquivou-se pulando de costas para o chão e chutou a katana empalada no gelo, que saiu voando ao alto; ele apoiou as mãos no piso e se empurrou para trás, dando um mortal no ar e recuperando a katana agilmente.

Mas não teve tempo para se recompor. Guinevere já estava em cima da parede com olhos resolutos; estendeu para o lado o cajado que brilhava em um azul intenso, até tomar forma de um enorme chicote etéreo que se materializava.

Ela pisou forte no gelo e o bradou com ímpeto; o chicote fez-se do tamanho da arena e a atravessou com tanta velocidade que qualquer um pego seria partido ao meio.

O espadachim saltou diversos metros do chão em direção à Guinevere. O chicote continuou em linha reta até se chocar contra a parede da arquibancada, o que a fez estremecer. A arquibancada em que eu estava estremeceu com o impacto. Se isso me atingisse, seria meu fim...

Enquanto a poeira da explosão do chicote ainda estava no ar, Hikaru aproveitou o embalo da queda para desferir uma investida direta nela em alta velocidade.

Guinevere levantou o cajado, não mais azulado, e o bateu contra a parede que a sustentava; imediatamente surgiu um jato de água, mais parecido com um tiro, que voou em direção a Hikaru que, em pleno ar, pôde apenas defender com a katana. O impacto foi tamanho que acabou sendo empurrado até quase fora da plataforma.

Ele segurou o ombro e o estalou. O rosto exibia frustração por nada conseguir fazer contra Guinevere. Ela habilmente defendera e o expulsara de perto em todas suas investidas.

Essa luta...

Como eles são capazes disso?

Minha atenção recaiu sobre a Guinevere. Aquela menina tão meiga e simpática agora exibia um olhar tão intenso no adversário que me fez arrepiar. Era como se ela encarasse uma montanha face a face, resoluta, disposta a morrer para escalá-la, não importasse o quão terrível fosse a subida.

Hikaru, por outro lado, respirou fundo e relaxou a face. Entrou na mesma postura do início do confronto, preparado para alçar novo bote. Tornou-se um com o silêncio.

— É triste o dom dela não ser bom para lutas assim... — As meninas voltaram a conversar.

— Pois é... Ontem ela passou o dia inteiro treinando.

— Como sempre...

— Ela podia ter um dom melhor... — disse Sara.

Com o comentário dela, Anna franziu o semblante, desconfortável, e voltou a observar Guinevere. Do mesmo modo, cerrei meu punho, meu coração protestando em raiva ao ouvir algo assim. Afinal, só estou de pé e andando por causa do dom dela que me curou. E é esse mesmo dom que dizem ser ruim... Hoje mesmo ela...

Espera. Ela revigorou todas minhas forças naquele abraço. Quanto de mana ela gastou?

Foquei mais nela e vi que estava ainda mais ofegante. Eu a atrapalhei?...

“Desculpa, Guinevere.” É dessa forma que ironicamente a retribuí pela ajuda: roubando-lhe mana antes da luta...

Um pouco triste, fui finalmente me sentar em um dos assentos vazios, quando encontrei Dolgan em um deles, um pouco isolado do restante da plateia.

Aproximei-me dele e lhe acenei com a mão. Ele me viu e abriu um largo sorriso.

— Flamel!

Shhhh — reagiu alguém da plateia com uma expressão carrancuda. O duelo era assunto sério a ser observado com plena atenção.

Sorri diante disso e me sentei ao lado dele, que estava vazio.

Apesar da alegria inicial, o rosto de Dolgan se fechou ao observar os dois duelistas. Seus olhos fitavam Hikaru com intensidade.

— Ele é forte, não é? — comentei.

— Então... — Dolgan suspirou fundo e, pela primeira vez, vi seu rosto verdadeiramente preocupado, sem nem um fio de ânimo. — Achei que a luta fosse equilibrada. A Guinevere é um monstro na água. Mas parece que a verdadeira batalha ainda não começou...

— Não começou?...

Meu foco se centrou no espadachim. A expressão dele era calma e serena, de olhos fechados, como se nada temesse, ou como se preparasse algo, como um poderoso feitiço. Contudo, não conseguia sentir nenhuma mana vindo dele. Guinevere, ao contrário, exalava um calor que chegava até a plateia, suando e obviamente tensa.

De alguma forma, desde o treinamento de ontem, comecei a perceber mais a mana ao meu redor, principalmente quando alguém é um foco tremendo de energia igual ela.

— O que eles estão fazendo? — falei.

— Eles-

As palavras do anão foram interrompidas por uma bala de água que cortou a arena em milésimos de segundo. Tão rápido quanto, a espada de Hikaru deslizou pelo ar e cortou o projétil, partindo-o em dois; rasparam seus braços, cortando o uniforme da academia, e terminaram chocando-se contra a parede adiante, que a deixou com dois buracos na superfície saindo fumaça...

— O uniforme... — Dolgan estava boquiaberto e com os olhos arregalados.

O rosto de Hayek se fez surpreso; o de Dung, sombrio. Tensão cobriu a arquibancada.

— O uniforme foi rasgado por um projétil de água?! Quê? — disse uma garota, mas...

Outro projétil foi lançado, tão rápido que quase não consegui o ver. Hikaru cortou-o outra vez, agora em um movimento oblíquo. Seus olhos permaneciam fechados e calmos, seu corpo fluindo suavemente em meio a tantos movimentos rápidos. Cada passo parecia planejado e preparava bem o movimento seguinte.

Guinevere cortou o ar com o cajado e lançou outra rajada penetrante, mas o resultado foi o mesmo. A garota começou a golpear o ar repetidas vezes, cada vez mais rápida, frenética e caoticamente. Hikaru, em contrapartida, dançava com a espada, fazendo movimentos tão rápidos que nem com uma adaga eu conseguiria, e cortava cada um dos feitiços ao exato meio, com a precisão de um cirurgião.

Guinevere não desistiu e se esforçou ainda mais, colocando mais e mais mana nos feitiços e brandindo o cajado com vigor; mas Hikaru continuava a se aproximar, parecendo pouco afetado por ter cada vez menos tempo para reagir por causa da distância se apertando.

Argh! — As veias do pescoço de Guinevere saltavam com toda a força que colocava. Aos poucos, cada disparo tornava-se mais sólido e gélido, até se tornarem espinhos de gelo com pontas afiadíssimas.

Hikaru, contudo, continuava a fluir sem exibir qualquer traço de cansaço, desespero. Sua atitude era uma confiança silenciosa e inabalável.

— Isso... — Eu não conseguia acreditar no que via. Como alguém era capaz de tamanha proeza? Talvez ele até conseguisse aparar tiros de armas da Terra...

Em poucos instantes, Hikaru já estava próximo de Guinevere. Ela cerrou os dentes e bateu o cajado firmemente no chão.

Aquae Volu!

O desesperado e rouco grito dela clamou por todo o estádio, como um grito de guerra selvagem. Meu coração se apertou vendo a garota naquele estado...

De repente, por todos os cantos da arena surgiram torrentes de água que corriam em volta dos dois com uma potência imparável, progressivamente estreitando sua área e se aproximando deles.

A expressão de Hikaru perdeu a calma habitual; seus olhos se abriram em espanto, observando o caos aquoso que se instaurava ao seu redor.

Não perdeu tempo e se atirou contra Guinevere, percebendo que era sua última oportunidade de ataque. Em um segundo, sua lâmina já estava quase tocando a garota, quando uma onda caiu e se chocou diretamente contra seu corpo, fazendo-o rolar no chão até o centro da arena.

Quando se levantou, já não havia por onde escapar. Estava coberto de ondas que continuamente se erguiam e se chocavam contra o chão, vibrando-o a cada batida. Tentou pular por cima delas, mas os pés presos nas águas impediam-no de fugir, puxando-o de volta.

Guinevere continuava colocando mais e mais da sua mana no cajado, tornando as águas mais pesadas e potentes, até sair sangue pelo nariz. Geralmente, a regra dos feitiços de água era o equilíbrio e a fluidez; esse feitiço dela, porém, era o puro caos, com rajadas de mana sendo arremessadas em pontos distintos para criar as ondas agitadas, e talvez a mana de Guinevere acabando tornava o feitiço ainda mais caótico e instável.

— Isso... Isso é um feitiço avançado... — cochichou Sara, perto de mim e do Dolgan, mas ninguém ousou responder, presos ao espetáculo de poder na frente de seus olhos.

Agora que ouvia isso, lembrei-me de ler sobre tal feitiço. Ele sozinho era capaz de criar um mar turbulento. A água, pesada e densa, restringia o movimento dos inimigos, e o feitiço terminaria com as ondas se chocando no centro de uma só vez, esmagando corpos cruelmente. Era um dos feitiços que uma das companheiras do herói Marcus usou e que foi descrito no livro, embora o de Guinevere seja em escala muito menor.

Assisti com ansiedade as ondas finalmente se juntando ao redor de Hikaru, prestes a desabarem sobre ele de uma vez só. Como grandes chicotes que foram arrebatados no mesmo ponto, as ondas se quebraram todas juntas contra o rapaz com tal força e pressão que-

Quê?

No instante seguinte, todas as grandiosas ondas foram cortadas ao meio. A água toda caiu no chão e se espalhou pela arena, respingando por todo lugar, sem vida. O poderoso mar se tornou apenas água que molhava o piso.

No centro do local que deveria ter sido esmagado pelo mar furioso estava Hikaru, com uma expressão séria e inabalável.

— N-não pode ser... — Guinevere não acreditou no que ocorrera, que seu poderoso feitiço foi quebrado com um ataque só do rapaz, e tentou recuar, com medo. Porém, o feitiço sugou-lhe tanto a mana que as pernas não suportaram seu peso e desabou no chão.

Com passos confiantes, Hikaru lentamente se aproximou dela, até ficar de frente com a garota. Empunhou a katana ao alto e preparou um ataque. Se fosse uma batalha de verdade, terminaria com a cabeça de Guinevere rolando no chão.

Chega. — Hayek estalou os dedos e uma corrente de metal surgiu do chão e amarrou os pulsos do aluno. — Vitória do Hikaru. Obrigada por demonstrarem um duelo com feitiçaria e luta corporal. — Apesar das palavras, a expressão dela era azeda e ressentida. Encarava Hikaru com azedume, enquanto Dung sorria de orelha a orelha.

— Esse é o meu aluno! — Dung riu alto e bateu no peito. Pulou até os dois jovens na arena, segurou as correntes e a apertou, fazendo-as explodir. Ouvi Hayek fazendo um “tsc”, antes de saltar para o lado de sua aluna e a carregar para a arquibancada.

Demorou um tempo, mas finalmente a plateia se quebrou do transe e começou a aplaudir a batalha que presenciaram. Porém, nenhum rosto estava feliz ou sorridente; para os olhos de todos, talvez, mais do que um aluno talentoso, Hikaru era um monstro, capaz de cortar seus pescoços não importa o quão forte lutassem.

Não conseguia entender como ele era capaz disso. Como que força bruta foi capaz de quebrar feitiços daquela forma? Ele cortou ondas...

Na arena, a despeito de Dung abraçar Hikaru e de ser aplaudido por todos os estudantes, sua face permanecia séria e silenciosa, como se não estivesse contente com o resultado da luta. Ele...

Meus olhos se abriram em assombro ainda maior quando Hikaru largou a katana no chão e vi que o cabo dela estava torto, com duas regiões afundadas, onde cada mão segurava. Aquela força era sobre-humana.

— Dolgan, quem diabos é ele?

O anão não respondeu de imediato; estava com o mesmo peso que eu. Ele suspirou, coçou a cabeça e me encarou de volta.

— Ninguém sabe. Não é nobre, nem aventureiro, nem cavaleiro; nada. A única coisa que sabemos é que ele fez o exame de entrada para a Academia junto de todos...

— E ele foi bem?

— Olha, pra você entender o nível do cara... Cyle, que ficou em segundo, mal alcançou 149 pontos. Guinevere e Aithne estavam logo atrás, com um ponto só de diferença.

— Ele ficou com 150? É o valor máximo?

— Pois é. — Ele riu de nervosismo. — Era para ser. Mas, naquele dia, o primeiro lugar da lista, Hikaru, bateu 243 pontos.

— 243 pontos?! Quase 100 a mais que o segundo lugar?

— Sim. Parece que na Torre do Desafio, ele chegou ao andar 13º, enquanto o requisito mínimo para ser aprovado era completar o 4º... Cyle chegou até o 7º...

Ouvi-o em silêncio. O nome de tal lugar não me era estranho, li em algum lugar... De toda forma, Hikaru, aquele jovem de cabelos lisos cor-de-esmeralda, parecia um personagem de anime.

Espera, eu não estava naquelas histórias de “reencarnei como um personagem figurante e ajudei o protagonista”, né?

Meu estômago queimou com tal pensamento. Ele... Quero ser forte que nem ele. Quero um dia bater de frente com ele...

— ...Será que algum dia conseguiremos ser assim também? — disse Dolgan.

Ele pensava o mesmo que eu... Suspirei fundo, e abracei Dolgan com um braço.

—  Haha... Quem sabe...

O máximo que fui capaz foi arranhar o tronco de uma árvore com uma adaga bem afiada. Chegar no nível de Hikaru parecia impossível...

Aquela carta passou pela minha mente: “torne-se forte e sobreviva”. O peso dessas palavras nunca foi tão verdadeiro. Cyle era um problema pequeno, e ainda assim ele...

Antes de me sufocar nos pensamentos como sempre fazia, prestei atenção no ambiente à minha volta e percebi Guinevere não muito distante de mim, deitada com a cabeça no colo de Hayek, ofegante e suada. Elas sussurravam algo.

Você fez bem.

Mas... — Com sua voz inconstante e o rosto vermelhou, escondeu os olhos debaixo do antebraço, como se escondesse choro.

Está tudo bem. Você se esforça muito, e duelos não são sua especialidade. O dom dele é feito para a luta; o seu, não.

Ainda assim, eu...

Não aguentei vê-la assim. Aquela garota, que estava tão sorridente e animada hoje cedo, que me confortou e gastou mana comigo, sofria aquela vergonha... Levantei-me.

— Já volto, Dolgan.

Ele olhou para Guinevere e para mim; entendendo o que queria fazer, acenou que sim com a cabeça e ficou sentado. Dolgan também estava atingido com tudo...

Pus-me a caminhar entre as fileiras de assentos, quando ouvi o professor Dung:

— Vamos lá! Hoje quero que ao menos metade da sala faça duelos assim, até o anoitecer. Quem será o próximo?

“Eu que não vou ser. Preciso treinar mais antes de fazer algo assim.” Cocei a cabeça e segui no caminho para a Guinevere, até que senti alguém me abraçando por trás com leveza, uma mão repousando no peito e outra na barriga. Senti o contorno das curvas do torso dela se pressionando nas minhas costas...

Ei, Flamel — sussurrou Violette bem no meu ouvido e riu de levinho.

Parei meus passos e senti minha nuca se arrepiando com isso.

— Oi... Dá para você me cumprimentar de forma um pouco mais normal?

Não quero. — Ela deu um tapinha na minha barriga e apoiou o queixo no meu ombro, sua bochecha encostando no meu pescoço. — Vamos?

Para onde? — respondi, tentando tirar da cabeça como aquilo tudo me fazia sentir...

Hehe. Sobre isso... — Ela subitamente me empurrou, me fazendo quase cair sobre uma das cadeiras. Quando me virei para trás, nervoso, a vi com um braço estendido ao alto. — Dung! Quero desafiar... — gritou ela, e então apontou para mim, com um sorriso provocante que saboreava a situação. — Flamel a um duelo.

Alguns instantes após as palavras dela, alguém riu alto na arquibancada. Várias pessoas começaram a rir junto e a fofocarem.

Ela vai desafiar ele?

— Hahahaha. Ela tá a fim de espancar alguém hoje!

— Esperava algum duelo tipo ela e Cyle, mas ela e Flamel? Meu Deus!

— Ih, olha a cara do Cyle! Ele tá triste que vão matar o Flamel antes dele!

Meu sangue fervia com cada comentário que escutava, ao mesmo tempo que meu coração parecia quase sair da garganta com o quão rápido batia, nervoso com tudo. Não sabia por que Violette fazia aquilo comigo, me colocava em perigo e em exposição a troco de nada. E ainda terei que passar vergonha mais uma vez?

A travessa garota ruiva me deu uma piscadela antes de se dirigir aos arredores da arena, balançando a cintura com prazer a cada passo. Chegou até uma das mesas e pegou um par de adagas que cortariam fácil minha carne.

Isso só pode ser brincadeira, né?

“Violette, que merda que você sempre apronta?!”

 — Um homem de verdade jamais recusa um desafio! — bradou Dung com um tapão no próprio peito. Esse é outro retardado...

Olhei de relance para Dolgan, e aquele vagabundo estava com um sorrisão.

Posso confiar mais em ninguém...

Queria fugir, mas não tinha escolha. Todos me encaravam fixamente. Fugir daqui seria aceitar para a eternidade o apelido de “Flamel, o inútil” e ser excluído de todas as oportunidades possíveis que teria na Academia.

Quanta confusão...

Debaixo de todos aqueles olhos cheios de expectativa de diversão, desci da arquibancada e encarei as armas na mesa, sem nem saber qual deveria usar.

“Ela vai se ver comigo depois do duelo...”

Tentei segurar uma espada, mas meu braço estava tremendo demais para empunhá-la bem. Não sei lutar, nunca tive treinamento para isso, e terei que fazer isso aqui na frente de todo mundo, contra alguém forte igual a Violette.

Olhei para a plateia, mas o fato de continuaram com as chacotas só me encheram de mais raiva. Que se foda tudo.

Maldita seja a Violette.

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