Volume II – Arco IV
Capítulo 51: A Dádiva
A Torre dos Filósofos era composta por trezentos e trinta e três andares. Embora uns fossem mais curtos do que outros, a maior preocupação era com o racionamento de alimentos e recursos para a sobrevivência.
Além disso, havia o risco de esbarrar com adversários. Era uma questão de tempo até isso acontecer comigo.
Um pouco depois da entrada do vigésimo andar, testemunhei um confronto entre outros quatro heróis. Foi a primeira vez que vi gente de fora de Apollodorus. Uma luta até a morte, sem chance de fuga para nenhum dos lados.
Apenas um deles restou de pé. Era um rapaz mais baixo, de cabelos alaranjados. Ele se levantou com a respiração ofegante, empunhando uma espada e um escudo manchados de sangue. Em sua ombreira, vi o brasão de Salacia.
Desafiá-lo seria suicídio. Eu não era forte o suficiente para vencê-lo no um contra um — não depois de vê-lo matar três oponentes de uma só vez.
— Sei que está aí! — sua voz ecoou pelo passadouro. — Mostre-se. Caso contrário, entenderei isso como uma ameaça.
Ele me percebeu? Como?!
Com as mãos geladas, deixei meu punhal no chão e saí do esconderijo.
— Eu me chamo Circe de Apollodorus. Estou de passagem. Não tenho intenção de me envolver em violência.
— Hmm, tem certeza? Todos os que encontrei até agora tentaram me matar.
— ... Somos concorrentes, afinal. Mas eu não tenho a menor chance contra você.
— Ei, isso era para ser um elogio? Haha!
Com um sorriso, ele embainhou a espada e veio me cumprimentar. A cada passo dele, eu sentia como se meu corpo fosse se desmanchar de medo.
— Me desculpe por te assustar — disse ele, me dando um aperto de mão caloroso. — Também não quero conflito com ninguém, mas até os pacifistas precisam se defender. Eu sou Theseus, Theseus de Salacia! E Circe... é um nome bem diferente. Você é uma mulher?
— S-Sim. Eu sou.
— Woah!! Uma mulher herói!! Isso é algo bem raro! Teremos uma representante feminina na Corte dos Heróis, então? Interessante.
Do que ele estava falando?
Com sua força, ele podia sacar sua arma e me finalizar com facilidade, mas não o fez. Pelo contrário, seguimos juntos até o fim daquele andar. A ideia era nos separarmos a partir desse ponto, até que...
— Ei, Circe. Você quer vir comigo?
— Hã?
— Nesse lugar, dois é melhor do que um. Nós dois temos bastante ração, e se subirmos ao menos cinco andares por dia, tenho certeza de que será o suficiente pra garantir que nenhum de nós morra de fome. O que me diz?
Eu não entendia bem quais eram suas intenções comigo. Theseus era certamente um sujeito esquisito, por confiar tão facilmente e ter uma noção tão simplista do que era chegar às portas do Anfiteatro como um herói.
Eu ficava calada e dificilmente respondia às suas perguntas. Nessas horas, ele ficava ainda mais falante, contando histórias e lendas de sua terra natal. Vivia cantarolando, saltitando por aí. Parecia até um garotinho.
Em um dado momento, não tive opção senão questioná-lo:
— O que fará se só houver vaga para um de nós?
— Oh... Isso seria triste. Eu não ia querer me separar de você.
— Estou falando sério. Seria melhor eu me preparar para lutarmos um contra o outro?
— Não se preocupe com isso, Circe. Se por acaso tiver só uma vaga, eu vou deixá-la com você.
Em choque, não soube o que dizer.
A diferença de habilidade entre nós dois era imensa. É claro que eu tinha noção da minha própria força, ou não teria sido consagrada campeã. Mas ele... ele estava em outro nível. Theseus era um herói poderoso, e perigoso.
Não fazia o menor sentido me deixar com a vaga na Corte dos Heróis. Isso vinha de gentileza? Capricho? Ou seria para que eu abaixasse minha guarda, tornando-me vulnerável a uma traição?
Os andares seguintes foram um verdadeiro suplício. Devido a uma armadilha, perdemos o equivalente a um mês de ração. A chance de chegarmos à Corte dos Heróis com vida foi reduzida drasticamente.
Só que, para Theseus, o mais importante era que não ficássemos sozinhos nesse caminho escuro. Ainda que tivéssemos vindo para morrer, nós resistiríamos até onde nos fosse permitido, na companhia um do outro.
Kosmo de Vertumnus se aliar a nós foi o que nos salvou. Mas, com ele, a impressão que eu tinha era bem diferente. Desde que começamos a interagir — seja porque fomos forçados a isso ou não — eu percebi: ele era o meu espelho.
Uma pessoa que assumiu a responsabilidade de mentir para tantas outras, cometendo pecados dos quais se arrependeria até o dia da própria morte. Ele desistiu de tudo e se deixou levar pela correnteza. Assim como eu.
Sempre tive medo de ser traída. De cometer o erro de depositar minha confiança em alguém de novo e, por causa disso, perder as pessoas preciosas para mim. Isso doía. Ardia minha pele feito um ácido.
Foi quando ele me contou do dia em que foi apedrejado por causa da cor de seus cabelos e... eu pude ver a criança que nós dois fomos. Eu conhecia aquela sensação desesperadora, por mais que nossos sofrimentos não fossem iguais.
Theseus era o contrário de nós.
Ele nunca permitiu que víssemos através das cicatrizes que carregava. Essa parte sua sempre esteve escondida, mesmo com nossas muitas tentativas de confortá-lo. Talvez ele preferisse manter distância nesse quesito.
Estava tudo bem. Nada mudava o fato de que sua mão me alcançou quando achei que tudo estava perdido. Ele nunca deixou de ser gentil, mesmo que esse mundo monstruoso o tivesse ferido tanto.
Eu quis protegê-los, ao menos. Do fundo do coração. Foi a primeira vez que esse tipo de emoção me acobertou. Pensei que, ao me entregar a isso, eu me tornaria fraca e ingênua, mas... se fosse por eles, estava tudo bem.
— O que está fazendo aí? — Theseus perguntou, aparecendo no canto da porta do laboratório com seu rostinho redondo. Dei um pulo da cadeira.
Após quase dois meses, havíamos chegado ao Anfiteatro. Eu ainda não havia me acostumado com o ar limpo, muito menos com aquela tranquilidade. Era tão estranho.
Não, talvez eu fosse a estranha. Parecia que eu estava sempre em alerta.
— S-Só estou estudando um pouco. Daqui a pouco, vou fazer algumas experimentações.
Ele me lançou um sorriso brincalhão e deu uns risinhos.
— O que foi, hein? — perguntei.
— Nada, nada! Só achei curioso. É que você estava tão relutante pra vir pra cá, mesmo falando tanto sobre ser a vice-presidente do Ministério das Ciências.
— Não tenho o direito de mudar de ideia? Hunf. Chame o Kosmo. Preciso mostrar algo a vocês.
— Sim, senhora! — Ele deu um passo para fora, mas voltou. — Antes disso, queria te dizer que estou orgulhoso.
— É? De quê?
— Você está se esforçando, Circe. O Kosmo pode não se expressar muito bem, mas ele também reconhece isso em você.
— Vá logo, antes que eu use minhas poções pra te transformar num porco.
— Ahhh, mas eu gostaria muito de ser um porquinho! — exclamou, com um rostinho alegre. — Eles têm um narizinho tão fofo... E uma pancinha macia. A minha é dura igual pedra, olha só...
— Que insolente. Fazendo pouco da ira da bruxa.
Num pique, ele correu para me dar um beijinho na bochecha e saiu.
— Eu amo você, Circe!
— Eu também amo você.
Pela primeira vez, pude realizar pesquisas sem temor dos superiores ou das leis do Estado. Em poucos dias, obtive o progresso que, em anos, eu e meu avô sonharíamos em ter. Minhas investigações estavam avançando.
A arbitrariedade do Declínio como o produto da primeira fórmula alquímica, e não uma consequência do uso irresponsável pelos humanos. A Correnteza Eterna como o agente responsável pela continuidade da maldição. A existência conveniente do Chrysós Lapulia. A crença desesperada na salvação.
Eu procurava explicações e teorias que pudessem justificar cada uma dessas coisas, mas parecia mais difícil quanto mais perto eu chegava. As fontes ao meu dispor ajudaram, mas não cheguei a uma conclusão objetiva.
Faltava tão pouco. Eu estava perto de destrinchar o maior enigma de toda a história arcadiana.
Um mundo onde todos pudéssemos viver livremente, sem o medo da doença. Esse era o sonho do vovô. O futuro que ele almejava. Dependendo do que eu encontrasse, talvez isso se tornasse real, com ou sem a alquimia.
Mais um pouco. Só mais um pouco. Um passo de cada vez, eu chegaria lá. Uma hora, meus olhos ficavam cansados demais para se manterem abertos, e minha cabeça pesava como um saco de chumbo.
— ... Huh?
Despertei, sentindo algo tocar meus ombros. Era uma manta que Kosmo usou para me cobrir, enquanto eu dormia sobre a mesa.
— Você vai adoecer nessa friagem — disse ele.
— Desculpe.
— Venha. Já pedimos as almofadas e lençóis.
— Mas, eu ainda-...
— Por hoje, é o suficiente. É hora de descansar.
Um pouco relutante, aceitei e tomei sua mão.
Descemos até um cantinho aconchegante da biblioteca, próximo ao relógio planetário, onde fazíamos nossos “acampamentos”. Theseus já havia caído no sono, esparramado entre as cobertas.
O arrumamos para que ele não acordasse com dores e, em seguida, foi nossa vez de deitar. Nós três abraçados, o mais próximos uns dos outros que podíamos. E Kosmo no meio, como de costume.
— Amanhã, tire um dia de folga. Longe do laboratório.
— Tudo bem. Obrigada.
Que bom que eu os tinha ao meu lado.
As pessoas que cuidavam de mim, com exceção do meu avô, eram emocionalmente distantes. Por causa disso, não cresci em um ambiente tão afetuoso. Era sempre uma surpresa alguém se importar com o meu bem-estar.
Nunca me passou pela cabeça ser "enamorada" de alguém. Eu não via necessidade em me relacionar, tampouco me sentia atraída, no sentido romântico ou sexual, da mesma forma que os outros. Mas, eu queria fazer bem a eles.
Nossa união não precisava ser em conúbio, nem concubinato. A hierarquia e os benefícios sociais que vinham com uniões estáveis eram inúteis. Na verdade, eram até humilhantes. Assim eu via a relação entre o papai e a mamãe.
Eu seguiria dando duro, por mim e por eles. Criaria coragem e os defenderia de quaisquer pedras.
Quem se importa se eu não aprendi a demonstrar emoções dessa natureza corretamente? Eu podia aprender agora. A cada dia e noite, com cada ação minha e deles, eu seguia aprendendo o que significava o “amor”.
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Theseus não parecia ter percebido, ou fingia não perceber, mas Kosmo havia mudado desde o dia em que chegamos à Corte dos Heróis.
Ele estava mais relutante, e, quando seus olhos encontravam os meus, desviava rapidamente, como se não suportasse manter o contato visual por mais que alguns segundos. Como se estivesse incomodado com a minha presença.
Era o mesmo olhar das pessoas erradas para quem eu disse coisas erradas. Tentei me convencer do contrário, que isso era coisa da minha cabeça, fruto do estresse, mas, quanto mais o tempo passava, mais claro ficava.
A chegada de Terumichi ao Anfiteatro teve impacto em todos nós. Nele, foi mais intenso. Kosmo dormia menos, nos vigiava mais e planejava tudo com antecedência, com uma certa urgência, tentando evitar algo que desconhecíamos.
Por ter assumido que era para a nossa segurança, demorei para perceber que suas preocupações giravam em torno da obtenção do Messias por seu irmão gêmeo.
Ao descobrirmos sobre o único desejo, minhas suspeitas tomaram forma. Pensei em mil coisas, e no risco dessa responsabilidade cair em mãos erradas. E de onde quer que eu visse, tudo apontava para uma só direção:
Eles não almejavam a salvação da humanidade.
Por não querer machucar Terumichi e Theseus, eu me controlava diante de seu comportamento ríspido e debochado. Ele usava a inocência dos dois como um muro para se proteger de críticas, e isso me enfurecia ainda mais.
Ante à Reavaliação de Dignidade, essa muralha se desfez, e sua verdadeira face, nua e crua, se tornou visível para nós. Para mim. Aquele era um homem diferente do que conheci — ou melhor, do que achava conhecer.
A confiança entre nós se esvaiu.
— Haaaahh!!
Avancei na direção dele, e a colisão entre os metais do meu punhal e da cabeça de seu mangual fez meu corpo inteiro tremer.
Aos meus ataques, ele se defendia e me empurrava para longe. Seu poder destrutivo era usado apenas para me ameaçar. A facilidade com que eu esquivava provava isso. O alvo dele era o terreno ao nosso redor, e não eu.
Até que usei isso a meu favor. Na primeira relutância dele, eu o derrubei, rendendo-o sobre os pedregulhos.
Com a ponta da minha arma apontada para seu peito, ofegava, tomando cuidado com cada detalhe da minha posição para mantê-lo imobilizado. Ele segurava a lâmina com as próprias mãos, e o sangue respingava.
Sua respiração também era pesada, mas, quando me dei conta, as gotas em seu rosto não eram suor. Ele estava fazendo o que qualquer outra pessoa faria se fosse forçada a lutar contra alguém que ama.
... E-Eu não podia me deixar levar pelas emoções. Não numa hora dessas.
— Vou perguntar uma última vez — asseverei. — Qual é esse desejo pelo qual você sacrificaria até a própria vida, Kosmo?!
Ele me deu silêncio.
Era o meu limite. Eu estava pronta para fazer o que precisava ser feito. Mas, nessa hora, fui acertada com uma pancada na nuca, e caí quase que instantaneamente. Não pude nem ver o que, ou quem fez isso.
Quando minhas pálpebras se abriram, eu estava no meio de uma multidão barulhenta, cercada por prédios altos. As pessoas tinham os rostos borrados, como manchas de tinta, e suas falas soavam como grasnados de corvos.
Eu tentava me mover entre elas, sair da comoção, mas acabei chegando ao centro dela.
Sobre o calçamento, estava uma criança de pele marrom e cabelos brancos, sendo apedrejada. Encolhido, ele tentava proteger a cabeça com os braços, mas terminava ferido e ensanguentado do mesmo jeito.
Antes que eu gritasse e esbravejasse contra aqueles monstros atentando contra um menino tão pequeno, a Circe que eu fui há muitos anos esbarrou em mim, mandou que eu saísse da frente e correu até ele para protegê-lo.
Contudo, os cidadãos não pararam. Eram pedras, e mais pedras. Os gritos e choros do casal de crianças não os comoviam.
Ao acordar do meu pesadelo, Theseus já havia assumido o posto de comprometido.
Daquele momento em diante, o final estava decidido. O duelo entre ele e Hector era inevitável, e nós perdemos os recursos para adiá-lo. Se eu tivesse vencido em seu lugar, também o teria enfrentado, e perdido.
— Hector de Vertumnus é o vencedor do sexto combate! — anunciou o Imperador das Rosas, a todo o Anfiteatro. — O comprometido Theseus de Salacia está oficialmente desclassificado da Corte dos Heróis!
Sentada no canto do quarto, tampei os ouvidos, mas ainda pude escutar.
Eu havia parado de chorar há muitos anos. Mesmo diante de emoções intensas, sentia como se minhas lágrimas tivessem secado, então rangia os dentes, sufocando no desespero do qual não conseguia escapar.
Era culpa minha. Se eu não tivesse traído os votos de pacifismo, isso não teria acontecido. Agi conforme aquilo em que acreditava, e, por causa dessa decisão estúpida, perdi mais uma pessoa querida para mim.
Desde o início, tratei Theseus única e exclusivamente como o elo que nos unia, ignorando seus sentimentos. Na verdade, nunca lhe dei a atenção que merecia. Nem ao menos fui vê-lo em seu combate.
O quão abandonado ele deve ter se sentido, por mim e por Kosmo, que nunca paramos de brigar até o último momento. Não pude retribuir seu afeto, suas palavras de conforto e o lugar seguro que ele me ofereceu.
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O cantarolar dos pássaros percorria os contornos do Anfiteatro. Fazia menos frio do que o normal, então deixei as janelas semiabertas antes de dormir. Ao amanhecer, a frágil claridade foi convidada a entrar no laboratório.
Sobre minha mesa havia uma pilha de papéis com manuscritos, fórmulas químicas e matemáticas. Ferramentas de análise, observação, e cortes de ouro que coletei de estátuas. Um deles retirei da estátua de Theseus.
Ao despertar, debruçada sobre alguns estudos borrados de tinta, percebi um manto cobrindo meus ombros, o que me trouxe lembranças de uma certa ocasião.
É claro, era impossível ele ter entrado ali, pois a porta do laboratório havia sido trancada por dentro. Apenas eu podia sair e entrar. Eu devia ter sentido frio e pego algo para me cobrir, e só não me lembrava por conta do sono.
Assim que deixei o local, tranquei a porta por fora, pendurando as chaves na minha cintura. Algo que eu não costumava fazer, pois acreditava não haver nada que eu precisasse esconder de ninguém. No entanto, agora havia.
Há alguns dias, enfrentei meu espelho. O pedaço de mim que ousei arrancar.
Kosmo de Vertumnus, em um passado inacessível para nós, alcançou Messias no lugar de seu irmão e abriu os portões do Jardim de Rosas da Sabedoria. Ele venceu a Corte dos Heróis, tendo como desejo “recomeçar”.
Se, no momento de maior angústia, me fosse oferecida a oportunidade de voltar atrás, eu também aceitaria sem pensar duas vezes. Porém, a culpa me destruiria mais cedo ou mais tarde, cercando-me, impedindo-me de seguir.
Era o que acontecia com ele agora.
Sendo honesta, sua pessoa se tornara estranha para mim. Eu já não insistia em interrogá-lo, nem o forçava a me dar explicações.
Fomos enganados desde a fundação. Minha família, nossos povos e toda a humanidade em Arcadia foram ludibriados pela promessa da Correnteza Eterna. Nós, heróis, éramos meros cordeiros sacrificiais.
A existência do sistema do Messias servia a um propósito além do que nos era permitido compreender. O sonho maravilhoso da minha infância não passava de... um sonho. Uma ilusão. Esta vida não parecia ter significado.
Poucos dias após conhecer Terumichi, dei a ele um conselho: no momento em que a resposta aparecer, você terá que decidir por si mesmo o sentido que dará a ela. E agora, olhe para mim. Há dias, perdida, sem uma direção clara.
Para onde meus passos me levavam, eu não sabia ao certo. Ao meu quarto, eu acho. Fazia algum tempo que não passava por lá. Sempre que algo me faltava, era mais fácil solicitar às máquinas. Ainda assim, segui. Não parei.
Chegando aos meus aposentos, tirei da gaveta um envelope amarelado, com leves amassados, onde guardava aquela carta.
Vovô... Para mim, o senhor foi insubstituível. Não havia ninguém neste mundo igual a você. É por isso que senti tanto a sua falta. E também não havia ninguém igual a eles dois. Eles eram únicos, insubstituíveis, e eu jamais os trocaria por outra coisa.
Muito obrigada, vovô. Por fim, entendi o que suas palavras queriam me transmitir.
O simples fato de tê-los conhecido, neste lugar, nesta época, já era um milagre por si só. Eu pude encontrar esperança genuína. E, mesmo se não houver um sentido, eu não posso desistir dessa esperança. Não posso desistir desse amor.
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EMBLEMA II
A Terra o nutre.
"Rômulo apertou as tetas ásperas de uma loba,
e Júpiter as de uma cabra.
Crê nesses fatos, e o que haverá de tão estranho
que digamos que a Terra nutriu, com seu leite,
o nascido Embrião Filosofal?
Se os grandes heróis eram amamentados por feras,
quão grande é aquele que teve como Ama o Globo Terrestre?"
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