Volume II – Arco IV
Capítulo 55: O Juízo
A luz do amanhecer caía sobre as folhas metálicas das árvores. O Sol surgia timidamente no estreito espaço de céu visível entre Arcadia e a Terra, mas seu brilho era fosco, dotado de um tom amarelado inquietante.
Em dado momento, pequenos insetos que se haviam adaptado ao ambiente hostil dos bosques dourados começaram a cair do céu, um por um, como moedas perdidas. E, no ar, espalhava-se um cheiro ferruginoso, semelhante a sangue ou ferro oxidado.
Era um cheiro muito ruim.
Vi as cidades de Salacia, Carmenta e Apollodorus. Pude reconhecê-las pelos brasões estampados em suas bandeiras.
Os cidadãos, nauseados com o crescente odor, abandonaram suas casas e se apavoraram com a estranheza do céu. Alguns, vencidos pelo temor, prostraram-se de joelhos, murmurando preces e pedidos de perdão a deus.
Crianças choravam nos braços das mães. Os animais, tão assustados quanto os seres humanos, agitavam-se nos cercados.
As tochas dos santuários se acenderam, marcando o tão esperado dia da Correnteza Eterna. Era o dia da abnegação em extinção — a punição pelo pecado da húbris contra a autoridade divina de Hermes Trismegistus.
Tudo isso era reproduzido nos telões do sistema de vigilância do Kunstkammer: imagens ao vivo, capturadas por câmeras ocultas que espreitavam cada uma das oito cidades ainda de pé na superfície do continente.
— O Chrysós Lapulia foi um experimento que visava preservar a vida após a morte por meio do ouro. Era o projeto final — proferiu uma voz serena. — Tentaste forjá-lo em conjunto com a humanidade, o que resultou em um fiasco. Por carecerem de um receptáculo adequado que as contivesse, as almas das cobaias se perdiam e desapareciam.
Senti um espasmo em uma das mãos, acomodada no braço da cadeira.
Mais uma vez, eu e Tsubasa estávamos sentados àquela mesa de jantar. Desta vez, não havia nada sobre ela além de castiçais acesos.
— Antes que tuas pesquisas prosseguissem — disse ele —, o Chrysós Lapulia e teus outros projetos foram roubados por homens gananciosos que não reconheciam tua autoridade como deus. Pelas tuas costas, tramaram uma fórmula. Tua negligência permitiu que a urdissem de forma autossuficiente, conquanto de uso único fosse. E a troca para dar moção a ela foi a vida do teu filho. Em que pensavas, pergunto-me? Eras tão fácil de ludibriar, Maier? Ou era isso, também, parte do teu plano?
... Eu não prestava muita atenção no que me era explicado, já que minha mente ainda estava atordoada.
Ele falava só para si, e se divertia com isso.
— Não que isso importe agora. Eu fiz como tu desejavas, e edifiquei prosseguimento da tua obra. Há duzentos e setenta e dois anos, vendi o Chrysós Lapulia sob o pretexto de ser um remédio que imunizava contra o que os homens vieram a nomear de Declínio. Como Vertumnus era isolada das demais cidades, fiz dela o cenário propício para que os experimentos não fossem contestados. ... E, bem, dado os efeitos inusitados, vi-me forçado a impor restrições e a confiscar a planta. Pois a alma permaneceu, mas o corpo, não.
No horizonte, o escapamento de uma máquina expeliu vapor. Era um castelo mecânico fazendo sons de maquinarias e bugigangas. O Atanor. Ou, o forno cósmico. Imparável, ele processava dezenas de milhares de moedas douradas.
O ouro é um grande condutor de eletricidade. O dinheiro obtido com a venda do Chrysós Lapulia foi usado para gerar energia e manter a estrutura complexa do Anfiteatro ativa por anos, décadas. Por mais de um século, até os dias de hoje.
— Ora, tu mesmo disseste. A imortalidade perfeita é nada sem corpos belos e desejáveis para regozijá-la. Sem esse detalhe, teu paraíso não se concretizaria. Isto é, a orgia perpétua onde te embriagarias de prazer junto a outros seres eternos em corpo e alma, fugindo do tédio por todo o sempre. Não é este o ideal estético que almejas atingir, ressurgindo? — indagou. — Por mais fútil que me soe, tu és deus e meu criador. A tua vontade há de ser a minha.
— ...
— Me ouves?
— Sim.
— É bom que compreendas o que digo. Hoje é o dia da tua ressurreição.
Enquanto ele paginava um livro espesso, eu o fuzilava com meu olhar caído.
— Permita-me continuar. Com o tempo, mesmo o povo de Vertumnus parou de questionar a razão de viver coberto por panos. Eles temiam a farsa da morte por queimaduras à luz do Sol Sagrado, e o dogma do Ministério das Profecias reafirmava tal crença. Assim se instaurou sua risível cultura dos tempos atuais. Julgavam-se imunes à minha ira, mas não passava de tolice. Eu poderia reduzi-los a cinzas, mas seria um desperdício. Caso teu despertar falhasse, um povo fiel seria necessário para a próxima tentativa.
O livro se fechou, e a expressão cínica dele encontrou a minha, sem nem tremer. Então, disse:
— De toda sorte, meu experimento foi quase um sucesso. Veja só. À exceção dos gêmeos imigrantes que vieste a conhecer, os vertumnitas são imortais, mesmo que não percebam. Resta apenas uma etapa. E se não der certo, ainda posso confiar a tarefa ao meu próximo eu. Assim, eu perseguirei você pelo tempo que for preciso. Não há com o que se preocupar. Eu só preciso ajustar a maneira de me comunicar com a futura linha de eventos. E então, Hector de Vertumnus certamente vencerá.
— ... Por que escolheu Hector para ser o seu peão? Tudo o que ele precisou passar... foi porque você quis?
— Em partes. Apesar de eu não ter influenciado ativamente em sua infância e adolescência — efêmero como eu era —, era questão de tempo até que alguém como ele surgisse sob o sistema que ergui. Privado de todo e qualquer estímulo externo senão a absoluta solidão, enclausurado no seio de um ovo. Um leão verde maravilhoso, não?
Levantei-me abruptamente, e a cadeira virou para trás. Porém, o som da queda não veio do impacto, e sim dos alto-falantes. Tanto a cadeira quanto as mesas eram agora peças cenográficas de papelão.
Eu havia rendido Tsubasa no chão, segurando-o pelos babados de sua camisa enquanto controlava minha raiva. Tudo isso sobre o palco onde as máscaras Comédia e Tragédia costumavam atuar para nós.
— Eu disse algo errado? — ele perguntou.
— Como pôde?! Não vê o sofrimento que eles passaram, tudo por causa desse ridículo...? Paraíso? Orgia eterna?! Que merda é essa?! Você sequer os vê como seres humanos!!
— Quem é você para me dizer o que eu devo ver como um ser humano ou não, Teru?
— Huh?
— Quando eu ainda era um mortal, as Mãos do Mundo me reduziram a algo menor do que um ser humano. Eu perdi a noção do tempo e de mim mesmo. Então, uni-me à Correnteza Eterna — algo maior do que um ser humano. Esperei você por tanto, tanto, tanto tempo, que cheguei a me perguntar se meu passado existia, ou se era apenas mais uma criação sua.
Com o cajado real, ele açoitou minha testa em seco, e meu corpo tombou de lado.
— Gah—!!
Atordoado, levei os dedos ao local atingido, sentindo a pele quente e úmida. Ao afastá-los, vi manchas vermelhas. Uma dor latejante irrompeu, expandindo-se como ondas por toda a minha cabeça, e eu grunhia.
Não só a sensação era mais real do que nas outras ocasiões, como eu também não sabia discernir nossa exata localização, perdida por trás das ilusões que distorciam o espaço e o modificavam a cada vez que eu piscava.
Tudo oscilava num jogo de sombras e sobreposições. Ora eu me via imerso na grandiosidade do Kunstkammer, ora, nos corredores da ala oculta do Museu Nacional de Tóquio. Eles se entrelaçavam, como miragens.
Então, Tsubasa sacou sua adaga dourada de dentro da capa. Sem hesitar, ajoelhou-se sobre mim e disse:
— Eles me desprezavam, e ainda assim você buscava a aceitação e o respeito deles, dentro daquelas muralhas das quais eu nunca pude sair! Você não tem o direito de me dizer quem devo ver como um ser humano, quando ficou do lado dos que nunca me aceitaram ou respeitaram como tal!!
— Eu não fiquei do lado deles!! — repliquei, quase engasgando com a saliva. — Eu os odiava! Eu odiava o que aqueles monstros faziam com você!!!
— Hah! E adivinhe, você não fez nada! Absolutamente nada! E agora, tudo acabou!! Como pretende se responsabilizar perante a minha retribuição? Me diga, Maier!! O que você me dará em troca ao reaver seu posto?!
Em troca?
Após a morte do vovô, coisas que antes eu nem sequer notava — ou fingia não notar — ficaram mais claras para mim.
Minha chegada à Academia Kinran não foi algo a se celebrar. Na verdade, foi um alvoroço, e eu causei raiva em muitas pessoas. Era inaceitável um novato escalar imediatamente ao Top 3, sem fazer esforços.
Meus “colegas” me usavam. Só me procuravam por necessidade. Talvez nenhum deles me admirasse de verdade. E, quando não estavam me bajulando com segundas intenções, o faziam por chacota. Para zombar da minha cara.
Tsubasa e eu éramos inseparáveis. Era óbvio que direcionavam os mesmos comentários contra mim, pelas costas.
Nunca tive outros amigos lá. Era tudo falso. Sempre foi.
Meus dias “brilhantes” e o cotidiano tranquilo que eu pensava ter foram uma versão que maquiei para minha conveniência. Eu não suportava viver chorando escondido por ser tão estúpido, vazio, superficial e egoísta, e queria que a mentira virasse verdade.
Mas ela nunca virou. Até diante das migalhas de aprovação dos meus professores, eu precisava fingir um sorriso. Como eu esperava que algo assim pudesse suprir a solidão que eu sentia? Seja nas escolas em que estudei, seja com meus familiares.
Se eu tivesse me conformado com isso desde o início... mesmo que nada mudasse... mesmo que continuássemos presos na Academia Kinran até o fim... eu não teria me arrependido tanto quanto me arrependo agora.
— E-Eu errei com você, Tsubasa. Eu errei... Se eu pudesse voltar atrás, eu teria aceitado a punição ao seu lado. — Quanto mais lágrimas saíam, mais minha testa latejava. — ... Eu não tenho mais nada que quite minhas dívidas com você. Se quiser a minha vida... então tome.
O Amaranto reluziu, e eu agarrei Tsubasa pelo pulso. Ele tentou se soltar, mas eu não permiti.
— Gh-...! Me solte! O que está fazendo?!
— Mas eu não vou deixar que você se esqueça de mim...! E nem de quando nós dois vivemos, e erramos como humanos!!!
— A-Aghhhhhhh!! Ahhhhhh!!! Arrgh...!!!
Sua feição se distorcia. Ele rugia de fúria e medo, como um animal encurralado.
Enquanto lutávamos para tomar o controle um do outro, seu braço escorregou da minha mão. Eu tentei reagir, fazer qualquer coisa que me viesse à mente, mas afrouxei. Então, veio. Sua adaga foi cravada no meu peito, e eu dei um grito sufocado.
Meu corpo inteiro se tensionou. Uma explosão de dor me cegou.
Tsubasa puxou a lâmina e golpeou novamente, cada estocada mais profunda que a anterior. Ele só parou quando sua mão se tornou escorregadia com o sangue jorrado. A pegada no cabo se perdeu, e a arma deslizou pelo chão.
Eu não conseguia me mexer, nem respirar direito. Sentia meu corpo convulsionar. Minha visão girava, e o chão sob mim parecia estar desmoronando. Algo quente parecia extravasar por cada poro meu.
Do canto dos olhos semicerrados, o vi ofegante, vestindo as mesmas roupas de quando visitamos o museu. E eu também — ainda que meu suéter estivesse agora todo molhado e furado.
Logo, ele me abraçou, juntando-me como um boneco de pano à poça viscosa que se formava sob minhas costas, acomodando-me em seu ombro. Pude ouvi-lo chorar, como quando o presenteei.
Antes da minha visão escurecer, lembrei-me de um momento qualquer. Foi após um dia terrível, e mesmo assim, nós dois fomos embora juntos, rindo de alguma piada que vimos na internet.
Em um dado momento, parei o passo.
— Tsubasa.
— Hm? O que foi?
— Nós somos amigos?
— Pfft. Que pergunta. Acha que não somos?
— Não é isso! Desculpa. É só que... Deixa pra lá. Vamos indo?
Se ao menos pudéssemos ir para bem, bem longe no céu. Deixar todo mundo para trás e partir, seguindo em frente para sempre, em direção a um lugar diferente. Viajar de estrelas em estrela, de planeta em planeta, até acharmos um lugar para nós.
Contanto que fosse com ele, eu não me importaria. Nós passamos por tudo aquilo juntos, afinal.
— Huhh... uh... Hahaha. Haha. É tarde demais, Teru... Não há mais nada do humano que você amava em mim. Mas está tudo bem. Muito em breve, estaremos juntos para todo, todo, tooodo sempre.
Seus frágeis risos se quebravam.
— Teru? Por que não me responde? ... Fale alguma coisa. Brigue comigo. Diga que está enojado — ele suplicava, remexendo-me. — Não me deixe aqui, não de novo! Por que você sempre me abandona? Por que sempre me deixa sozinho?! Eu não sei de quem são essas lembranças, nem esse nome. Teru... Teru, não vá...!!!
ᛜᛜᛜ
EMBLEMA VII
Um filhote de águia tenta voar para fora de seu ninho e cai nele novamente.
"O pássaro de Júpiter construiu um ninho oco em uma rocha,
na qual se escondeu e alimentou seus filhotes.
Um deles tentou decolar com suas asas sem penas;
mas foi detido pelo irmão emplumado.
Então, ambos retornaram ao ninho que lhes foi deixado.
Junte a cabeça à cauda, e não serás vazio."
ᛜᛜᛜ
— Espere por mim. Eu estou indo até você!
— N-Não faça isso... Se você vier, você também vai-...
— Eu não posso te deixar aí!
Meu corpo, na época tão pequeno, estremeceu.
— Fique calmo. Não saia daí — pedia aquele menino de cabelos castanhos, assustado com a minha figura moribunda e ensanguentada. — Eu vou te encontrar. Eu prometo.
Impossível, pensei. Ele não acharia o caminho. Aquele era o abismo, o fundo do mar que me engoliu após eu ter me aproximado demais do Sol, e não havia como chegar até lá.
Ainda assim, eu acreditei. A voz dele pôde me alcançar desde a superfície, então resisti. Naquele momento de dor, eu só queria ser achado e resgatado por alguém.
Mas isso não aconteceu.
O dia seguinte veio, e ele não me encontrou. Meses, anos se passaram, e até isso caiu no esquecimento.
Para mim, o encontro miraculoso foi algo que eu inventei. Sim. A tortura de libertar minhas asas me fez ver e ouvir coisas. Era mais fácil pensar assim do que aceitar que ele havia desistido de mim e ido embora.
Dentro de mim, restava apenas a dor de rasgar as costas. Um impulso repentino que sempre me despertava e me fazia retornar às horas de agonia, não importava onde ou quando eu estivesse.
Aqui, ou lá. No passado, ou no presente.
Sob um breu intenso, no qual nem a chama da vela era visível, o desespero tomou conta de mim. No mesmo instante, pus toda a força nos braços para levantar as pedras e entulhos que me soterravam.
O peso era esmagador, mas não cedi. E eu não cederia. Com meu brado feroz, as fibras dos músculos das minhas asas se contraíram e expandiram, cavando para fora da escuridão.
Recobrando o fôlego, abri os olhos, deparando-me com o Anfiteatro reduzido a destroços. A penumbra da outra metade da torre cortava a alvorada, junto a plumas negras que flutuavam com o vento.
Minha máscara, contudo, permanecia intacta.
Por um instante, a ilusão da vitória me tomou, até que notei os restos desfigurados do Imperador das Rosas sobre seu púlpito. Sua cabeça jazia atravessada pelo punhal que outrora a bruxa usara contra mim.
Um frio percorreu minha espinha e, instintivamente, levei a mão ao peito. A ferida... havia desaparecido. Eu fui curado. Esse poder era o de-...
— Se é o Filho de Trismegistus que procura, ele está bem acima de nós.
Ergui o olhar e me sobressaltei.
Ele estava desacordado e descalço. Seus braços e pernas, acorrentados a um triângulo de pedra suspenso nos céus, como um cordeiro a ser abatido.
— Terumichi!!!
— Hector — a voz familiar asseverou. Junto a ela, sons de elos metálicos se mexendo e batendo uns nos outros.
Com um salto, eu me esquivei. Um objeto ligado por uma corrente veio em minha direção, acertando o lugar onde eu estivera e causando um estrondo. A poeira se dissipou, revelando uma grande cratera.
Trajando as peças de sua armadura e a máscara, Kosmo retornou a cabeça do mangual ao cabo, de pé sobre os remanescentes do pulvinar, e ordenou:
— Junte sua espada. A Corte dos Heróis ainda não terminou.
— Irmão, o que está acontecendo? E quanto ao Imperador das Rosas?!
— Ele não é mais necessário. A Correnteza Eterna demanda a última provação. Esta Reavaliação de Dignidade ditará o herói digno de abrir os portões do Jardim de Rosas da Sabedoria.
— ... Era isso que você queria, desde a audiência? — perguntei.
Ele franziu as sobrancelhas.
— Não era o esperado? Você falhou em sua missão, jogando toda a responsabilidade para mim. E, quando encontrei um desejo só meu, um que não tinha nada a ver com a salvação desse mundo indecente, você estragou tudo. De novo.
— ... De novo?
— É tudo culpa sua. As coisas não teriam chegado a esse ponto se você não tivesse desafiado Theseus.
— E deixado Terumichi morrer?!
— Como pensa que vai impedir a morte dele? Com o desejo? Se isso fosse possível, nem estaríamos aqui. O sacrifício dele é o cerne do opus.
Ele caminhou em minha direção, e eu dei um passo atrás, acuado. Mesmo depois de lutar contra tantos outros, eu... não tinha coragem de levantar uma arma contra o meu irmão gêmeo.
— P-Para trás! — Me posicionei, pressionando o cabo da espada.
— Eu pensei que você fosse mais esperto. Se aceitasse sua impotência, mesmo sem ele, um dia você encontraria outro alguém para preencher o seu vazio.
— Hipócrita dos infernos...! Se você pensa assim, mais um motivo para não entregá-lo a você!!
— Não resista, irmão. Você não é o meu campeão. O resultado já foi decidido.
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"Segue, então, para procurar a substância da nossa Pedra nos metais preciosos, já que a combinação necessária de elementos não se encontra em nenhum outro lugar. Os tolos sofistas que a procuram fora do domínio dos metais nunca chegarão a qualquer conclusão satisfatória, uma vez que só há um princípio verdadeiro, e nada de heterogêneo deve ser introduzido em nosso magistério.
Pois assim como um leão sempre nasce de um leão, e um humano de outro humano, todas as coisas devem seu nascimento àquilo com que são semelhantes; aquilo que é combustível deriva do que é combustível, aquilo que é indestrutível daquilo que é indestrutível. Nem devemos esperar encontrar o princípio que transmite as qualidades do ouro em qualquer outra coisa que não no próprio ouro.
Se, de fato, fôssemos capazes de criar o esperma a partir das coisas, poderíamos esperar desenvolver este princípio metálico a partir de plantas ou animais que não o contêm; mas esse é privilégio de um deus. E, mesmo que pudéssemos, a semente artificial não seria melhor do que a que produzimos com nossas próprias mãos. Dito isso, devemos aproveitar daquilo que já está à nossa disposição.
Se alguém que se autodenomina um Sábio não pode usar as coisas já criadas, não parece provável que seja capaz de criar coisas novas a partir de substâncias heterogêneas — as sementes de metais a partir de ervas ou animais. Assim, vê-se que a Pedra, que será o elemento transformador dos metais em ouro, deve ser procurada nos metais preciosos, nos quais está encerrada e contida."
Um Breve Guia ao Rubi Celestial
Arthur Edward Waite, 1893.
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