Sputnik Saga Brasileira

Autor(a): Safe_Project


72 SEASONS

Capítulo 16: Ninho de Sangue

Templo Sagrado, 1 ano antes do Incidente da Catedral Secreta

O céu estava limpo, como se recém-faxinado pelos melhores no serviço, e ainda assim a punição desceu. O raio rasgou os céus e trilhou seu sinuoso caminho num piscar de olhos, atingindo Rag em cheio, cujo nem teve tempo para gritar de dor, caindo desmaiado antes que conseguisse gritar de dor.

Duas sombras surgiram ao lado de seu corpo imóvel, e de imediato Laira utilizou sua Maldição para acordar o rapaz à força.

UAH!! O corpo preto como carvão saltou tal como se atingido por um desfibrilador. Entendeu o ocorrido só de olhar ao redor. Ver os colegas de baixo e sentir o toque da terra seca do campo de treinamento havia se tornado costumeiro. Ajeitou o cabelo ouriçado enquanto se levantava.

— Eu vou continuar! — disse, trêmulo. — A-Ainda posso fazer muito mais que isso!

Laira colocou a mão sobre seu peito, impedindo o avanço facilmente, ao mesmo tempo que virava uma garrafa de água de uma só vez.

— Já chega por hoje. Os Selos não podem te matar diretamente, mas você vai cair de exaustão se continuar depois de um golpe desses.

— Ma-Mas, eu não posso… — As varetas que chamava de pernas tremeram ao mínimo de esforço de se colocar de pé. — Se eu ficar para trás, então…

Os creks de seus ossos cessaram quando o corpo foi forçado de volta ao chão. Estevan roubou de Laira a garrafa d'água que ela estava bebendo e ofereceu o resto para Rag.

— Não precisa ter pressa para ficar melhor no combate, enquanto não conseguir lidar com vampiros poderosos sozinho, nós vamos estar aqui para te dar o máximo de apoio possível!

— É, mesmo que você seja um Amaldiçoado, não quer dizer que você precisa lutar usando só a sua Maldição! Use seu tempo livre para pesquisar sobre os vampiros, talvez descubra outro jeito de causar dano neles!

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Bang! Bang! Dois tiros e duas auras a menos. Nenhum projétil era desperdiçado, sempre acertando o alvo. O fato de só precisar penetrar a carne — e não acertar algum ponto vital em específico — facilitava a ação infinitamente.

Vagantes e Indulgentes eram os principais a avançar contra sua pessoa. Rag atirava com cautela, atento nas auras de Descendentes que havia notado mais ao longe, ainda escondidas, provavelmente analisando suas ferramentas e estilo de combate.

Quando outro pente de balas acabou, o Indulgente mais próximo avançou ferozmente mirando sua garganta. Rag então revelou o Disco de Selos, puxando um papel deste e jogando-o ao vento.

O vampiro recuou de imediato, visando desviar de qualquer que fosse o ataque iminente, mas o Cardeal usou esta brecha para recarregar a arma com um novo pente e eliminar este e todos os outros que se aproximaram demais.

"Um blefe simples funciona com eles, mas não vai ser possível com os Descendentes que estão escondidos e observando tudo." Entre tiros e o recarregar da arma, sua ansiedade aumentava. "Vick disse que o Mestre deles está aqui, então eu tenho que forçá-lo a aparecer! Tenho que causar o máximo de estrago possível e vê-lo por mim mesmo, tenho que ter uma noção de com quem exatamente eu estou lidando para conseguir me preparar!"

Com este e somente este objetivo em mente por agora, ele atirou incessantemente contra a horda de vampiros que se jogava na intenção de lhe devorar. Não importava quanta munição ou tempo levasse, atacaria com os próprios punhos se fosse necessário, mas veria o Mestre de qualquer forma! Aqui e agora, descobriria quem era o maior inimigo que enfrentaria até então!

Seus gritos, anseios e disparos balísticos não estavam, de forma alguma, sendo em vão.

Dentro do Grande Templo, observando por entre uma das densas cortinas, a máxima figura santa observava, intrigada, o aumento de corpos na praça, aos poucos tingindo o concreto cinza de vermelho.

— Impressionante! Ele não apenas derrotou Vick, mas está lidando com vários vampiros de uma só vez! — Colocou uma das mãos sobre o queixo e repetiu: — Impressionante.

Hehe! A risada curiosa atraiu a atenção do Papa, a questionar o motivo desta. Com as costas apoiadas sobre uma das enormes colunas do templo e vestindo o mesmo vestido justo de sempre — não havia tempo ruim para exibir suas curvas —, Carmilla fixou seu par de esmeraldas brilhantes no companheiro.

— É realmente impressionante, eu pensei que ficaria desesperado. Vick era um dos pilares para o seu plano, não era? O garoto também está massacrando vários outros vampiros importantes. Não está preocupado com isso? O alcance do ritual vai diminuir.

— Bem, a única coisa que realmente importa é que o ritual seja realizado. Atingir La Serva por completo, um pedaço dela ou somente o Grande Templo, isto é apenas um detalhe, mas não nego que um alcance grande seria a melhor coisa, mas eu consigo me contentar com algumas migalhas.

Oh~! Você está começando a parecer um Papa de verdade! Mas eu queria mesmo era saber quando vou receber meu pagamento deste mês pela ajuda com o tal do Corredor Sagrado. Se não fosse por mim, aquele lugar já teria colapsado faz um bom tempo, e você sabe bem disso.

O vampiro resmungou, inquieto repentinamente. Agora encarava a mulher de canto, alternando entre ela e o caos através da janela.

— E-Eu já disse…! Com este rapaz ao alcance das minhas mãos, eu tenho que focar no plano para que nada saia muito fora do planejado! Eu te mandarei mais moças assim que resolver as coisas por aqui! Ma-Mas…

Entreolhou entre a vampira e Rag outra vez. Tinha que esconder sua indecisão dela o máximo possível, ainda que soubesse ser uma ação inútil. Dia bom ou ruim, calma ou enraivecida, esta mulher faria o que fosse de seu agrado, e ainda assim, insistiu em perguntar:

— O que exatamente está fazendo aqui, Carmilla? Até onde eu vejo, não há razão para estar aqui neste momento.

— Eu não tenho razão para te dizer os detalhes, mas não se preocupe, eu não vou interferir em absolutamente nada, independentemente do que aconteça com você ou o jovem rapaz. Estou aqui apenas como uma expectadora desta vez.

Os resmungos ansiosos do vampiro tiraram um outro, curioso, de Carmilla, que inclinou o corpo na direção do Papa, questionando a criatura que lhe devorava por dentro. Praticamente ordenado, ele então disse:

— E-Eu sei sobre o que aconteceu com Eduardo, eu investiguei! O homem que o derrotou, você tinha alguma relação com ele, não tinha?

Pfft! Você ainda está pensando nisso? Poxa~! E eu ainda tive o trabalho de fazer ele devorar aquela rosa que você me entregou!

— Si-Sim, e eu agradeço sobre isso. Graças àquela flor que o Eduardo comeu, eu consegui absorver parte dos atributos dele e fortalecer os meus depois que ele se foi, mas não é disso que estou falando… — Sua atenção foi para outra janela no lado oposto, por onde era capaz de ver uma pequena parte da divina estrutura. — Eu sei que você deixou o humano que derrotou Eduardo entrar na Torre. Por que fez isso?

Poderia soar como um tipo de ameaça, mas se esforçou para que isto não acontecesse. Ainda assim, por mais pacífico que pudesse soar, era esperado que ocorresse uma interpretação por parte da vampira e que, consequentemente, uma expressão de surpresa ou coisa semelhante surgisse em seu semblante. Outra vez, foi um engano de sua parte.

Hehe! Agora eu entendi~! — O sorriso afiado foi de orelha à orelha. — Você fica perguntando, mas me diga… Supondo que eu dissesse que minha intenção aqui é destruir seu templo e arruinar seus planos, o que exatamente você poderia fazer sobre isso?

Ânimo? Não, estava mais para prazer, sempre foi e sempre seria assim. Qualquer um que tentasse abalar esta criatura ganharia somente um sorriso ansioso pelo o que estava por vir, como se sua vitória fosse apenas uma questão de tempo.

Ciente do que poderia lhe acometer num momento tão crítico a depender de sua resposta, abaixou a cabeça e gaguejou:

— Na-Nada…

— Bingo~! Exatamente. Agora, já que você sabe disso, pare de me incomodar com perguntas e vá resolver seus assuntos antes que eu fique entediada.

— Claro…

O vampiro fez uma breve reverência e partiu de cabeça baixa. Deu graças que não havia ninguém ali para ver a situação, esta semelhante a uma professora dando bronca num aluno mal comportado. De qualquer forma, Carmilla já havia desaparecido quando olhou para trás segundos depois, o que lhe permitiu suspirar aliviado.

"Bem, acho melhor resolver isto o quanto antes."

Sem muita pressa, mas claramente ansioso, o vampiro fez um breve alongamento para a parte superior do corpo e, em seguida, um selo de mão específico.

 

***

 

A maior parte do cinza áspero tornado num escorregadio rubro tornou o chão num enorme espelho, uma cena familiar para o Cardeal, mas que não o abalou no mesmo nível que ocorreria normalmente.

"Onde ele está?" Procurou ao redor, vazio.

Nem sabia quanto tempo havia se passado, estava concentrado demais em eliminar a onda de inimigos que só agora tinha cessado. Sabia que alguns vampiros permaneciam escondidos, mas ir atrás deles seria um esforço desnecessário.

Ao seu redor estava um oceano de cadáveres a se desfazer em pó e névoa, gradualmente limpando a grande arena. Porém, aquele que seria considerado o chefão final ainda não havia aparecido.

"Ele já deve ter notado minha presença, então por que ainda não apareceu?"

Sem perder tempo, a única criatura que era incapaz de matar surgiu em seu ombro para propor sua incrível solução.

Ele deve estar se preparando para atacar. Sabe qual habilidade seria ótima para superar um ataque surpresa?

Rag não se deu ao trabalho de responder, a ausência até de um mínimo resmungo incomodado deixou o pequeno demônio surpreso. Sorriu como se aceitasse o desafio proposto, pronto para atormentar a cabeça do garoto como nunca havia feito antes, mas infelizmente ficaria para outra hora.

Um breve terremoto desequilibrou o Cardeal, obrigado a apoiar uma das mãos no chão para não tombar.

Localizado numa das extremidades da enorme praça, Rag notou uma mudança no chão do outro lado da arena. O concreto começou a ondular como se atingido por uma intensa e repentina onda de calor, evoluindo até que se tornasse tão líquido quanto a própria água.

Desta larga área de água impura emergiu um titã. Exibindo com orgulho suas densas placas de metal enferrujado e janelas cujo vidro era substituído por cracas, a metade dianteira de um navio cargueiro emergiu num grande salto que imitava uma baleia, com a diferença de ser incontáveis vezes maior que uma.

Ao invés de água, sua aterrissagem levantou uma grande nuvem de poeira que terminou de limpar a névoa vampírica restante no campo, garantindo ser um local seguro para o desembarcar de seu único tripulante.

Rag se levantou assim que o tremor cessou, agredido por uma coceira forte na garganta devido o cheiro de metal que há anos se mesclava à água salgada. Apesar disto, avistou, de pé como uma estátua decorativa logo acima da proa do navio, a figura que tanto almejava encontrar.

"É ele…!" Apontou a arma, mas nem teve tempo para pensar em disparar.

A figura se jogou do navio, uma queda de 56 metros no total, caindo pesado como uma âncora. Rag se preparou para um poderoso impacto, protegendo o rosto com os braços. Entretanto, logo antes de tocar o chão, o homem diminuiu a velocidade de forma desconhecida, pousando suavemente, sem causar um único ruído.

Atingido pela quebra de expectativa, Rag levou alguns segundos antes de recompor sua postura e perguntar:

— E-Então… você que é o novo Papa?

Prontamente respondido: — Isso mesmo, e você deve ser o Arcebispo Rag Forge, estou certo? Se bem que você acabou de completar o Corredor Sagrado, então tecnicamente você é um Cardeal agora. Parabéns!

Não respondeu de imediato, focado em absorver os detalhes do homem diante de si.

A batina, assim como todas dos cargos mais altos, era majoritariamente preta, o mesmo valia para o manto usado por cima desta e as sandálias em seus pés. As barras da roupa, os botões verticais e a faixa amarrada na cintura eram vermelhas, a contrastar com o colar dourado em seu pescoço, cujo segurava o pingente do grande olho. A cabeça era decorada por um mitra, seu espaço frontal tomado pelo mesma representação do olho.

O cabelo grisalho e volumoso, com pontas afiadas que mais pareciam espinhos rodeando sua cabeça lhe protegia dos males do mundo. Apesar da maquiagem preta e branca a imitar a imagem de um crânio em seu rosto, era possível notar as olheiras nos olhos amarelos, estes a penetrar a alma de seus alvos como a graça divina atinge o pecador, enxergando através da carne e trazendo à luz cada um de seus erros.

Numa primeira vista, seria impossível vê-lo como algo além de um homem que passou sua vida na Igreja, isto, claro, para não Amaldiçoados.

Ao contrário do Papa, que lhe analisava por completo, Rag tinha sua atenção focada numa única coisa. A aura tortuosa e lenta como as brasas de uma pequena fogueira aconchegante lhe causaram uma sensação desconfortável. Sua expectativa foi quebrada outra vez, de forma que fez um arrepio premonitório subir sua espinha. Diante de seus olhos estava, sem dúvidas, seu último inimigo.

"Ele... Ele é..."

Vampiro Original

Força 7/100

Agilidade 7/100

Inteligência 77/100

... Fraco?

 

 


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