Volume 8
Capítulo 18: Sétimo Andar de Aincrad
18
«NIRRNIR» DISSE QUE ESPERARIA EM SEU QUARTO pelo contato dos Korloys, então Asuna, «Kizmel», Argo e eu saímos do quarto de hotel no terceiro andar do cassino. Descemos a escadaria extravagante até o térreo e seguimos direto para a entrada, onde Argo apertou teatralmente o estômago e gemeu.
— Ai, tô morrendo de fome! A gente precisa comer alguma coisa!
— Concordo — disse Asuna.
— É uma boa ideia — acrescentou «Kizmel».
«Nirrnir» havia nos instruído a voltar antes do fim das lutas diurnas da arena, mas eu supus que provavelmente dava tempo de comer. Argo, no entanto, abaixou a cabeça para me encarar de baixo e perguntou.
— Que foi, Kii-boy, você não tá com fome?
Dei um passo para trás e respondi.
— N-Não, eu tô com fome... mas comi um sanduíche no cassino depois que nos separamos de manhã...
— Seu traidor!
— O-O-Olha, vocês estavam curtindo o banho! — protestei, olhando para Asuna. — Você não comeu nada depois que saiu?
— Nem um pedacinho. Na verdade, a gente tava só descansando depois do banho quando você mandou a mensagem, então nem tivemos tempo de comer, mesmo que quiséssemos.
— Ah... foi mal por isso... Bom, então vamos comer alguma coisa — sugeri, até lembrar que nosso grupo agora tinha uma integrante extra. Asuna, Argo e eu curtiríamos praticamente qualquer coisa, claro, mas eu ainda não sabia muito sobre a dieta típica de uma elfa negra. Durante nosso tempo nos castelos de Yofel e Galey, a comida que nos serviam era saudável, com muitos vegetais, e a única proteína animal que comi foi peixe branco grelhado e frango. Mas com certeza ela comia mais do que isso, né?
— Hm, «Kizmel», tem alguma coisa que você prefere evitar...? Ou melhor, do que você gosta? — perguntei.
A cavaleira inclinou a cabeça, pensativa.
— Hm... não me considero exigente com comida... mas, se tivesse que responder, diria que não gosto muito de carne malpassada pingando sangue e gordura — ou pratos com temperos muito fortes.
— Ou fruta de narsos, né? — provoquei com um sorriso.
Ela me lançou um olhar presunçoso e retrucou.
— Não, mas aquilo é medicinal. Não se come pelo sabor.
— Nem me fale. Tá bom, então vamos evitar bifes e espetinhos... Alguma sugestão além disso, Argo?
— Hm, deixa eu ver — murmurou Argo, suas bochechas pintadas com bigodes se franzindo brevemente. Ela estalou os dedos. — Já sei! Sei exatamente para onde vamos.
— Pra onde?
— Vai ter que esperar pra ver.
As surpresas da Argo podiam ser um tiro certeiro, ou algo tão vanguardista que nem fazia sentido, então eu não sabia bem o que sentir com esse rumo. No fim, só podia torcer para que fosse a primeira opção.
— Bom, mostre o caminho.
— Essa é a atitude! Sigam-me os bons — disse ela, marchando na frente. Asuna, «Kizmel» e eu a seguimos em fila.
Era como um velho RPG de pixels em 2D, os quatro andando em linha por uma rua lateral em direção ao setor sudoeste de «Volupta». Normalmente, as ruas dessa cidade deveriam estar alinhadas com os quatro pontos cardeais — ainda que não com a mesma precisão de «Stachion» —, mas por causa da forma caótica dos prédios, que se curvavam e se entortavam, o beco acabava serpenteando para a esquerda e para a direita.
Barris e caixas em decomposição estavam espalhados pelo beco, e as pedras do chão estavam rachadas aqui e ali, o que empurrava essa área da classe trabalhadora direto para a favela. Se você não prestasse atenção, parecia que podia ser assaltado a qualquer momento. Quase me deixava paranoico imaginar que Argo sabia que nossa integrante NPC de elite nos ajudaria a limpar umas quests paralelas pra ela... mas então ela parou.
— Chegamos — disse Argo.
Do lado esquerdo do beco havia um prédio que exalava cheiro de comida, com uma velha placa de ferro pendurada na porta. O desenho era de uma folha pontuda, parecida com a da bandeira do Canadá. À primeira vista, parecia mais uma loja de ervas do que um restaurante.
Como nossa convidada de honra não estava familiarizada com a culinária humana, pensei (injustamente) que, se fosse pra expandir os horizontes dela, poderíamos simplesmente voltar ao Pots 'n' Pots. Mas Argo já estava empurrando a porta de madeira desbotada.
Uma voz grave nos saudou assim que o sininho da porta tilintou com nossa entrada. Asuna e «Kizmel» seguiram Argo direto para dentro, então fui o último a entrar.
Por dentro, o lugar era apertado e construído para parecer uma gruta. Mas ia muito mais fundo do que o Pots 'n' Pots, que só tinha um balcão. No fundo, havia uma mesa para quatro pessoas. À esquerda, um balcão para cerca de cinco pessoas, atrás do qual estava uma figura do tamanho de uma pequena montanha.
Esse devia ser o homem que nos recebeu, e ele era tanto mais alto quanto mais largo que Agil. Minha primeira impressão foi que ele poderia ser um ogro tentando se passar por humano. Mas as garotas foram direto para a mesa, sem qualquer sinal de intimidação, então tive que correr atrás delas.
Asuna e «Kizmel» se sentaram nos lugares do fundo, deixando Argo e eu lado a lado. Havia dois cardápios antigos sobre a mesa de superfície preta brilhante. A capa marrom-avermelhada trazia o nome escrito de forma simples: «Menon’s». Presumi que fosse o nome do dono, mas estava tendo dificuldade em associar aquela escrita fofa ao homem musculoso e imponente atrás do balcão.
— Uh... quem é Menon? — sussurrei. Argo apontou com o polegar para o balcão à esquerda.
Meus instintos foram mais fortes que a voz na minha cabeça dizendo Não olha!. Talvez a lâmpada sobre o balcão fosse baixa demais, porque ele parecia apenas uma enorme sombra. Mas não havia mais ninguém ali atrás, então aquele homem tinha que ser «Menon». Decidi que precisava superar essa ideia teimosa de que um homem intimidador tinha que ter um nome intimidador — pra mim, «Menon» soava meio fofo — e voltei minha atenção para a mesa e o cardápio.
Eram apenas duas páginas. À esquerda, estava escrito simplesmente Dolma 20c e moussaka 30c, e à direita, Ouzo 10c e Café 5c, tudo em uma caligrafia rústica. Olhei a contracapa, só por precaução, mas estava em branco. Depois das mais de cem variedades de ensopados no pão do Pots 'n' Pots, as opções limitadas dali pareciam sufocantes. Mas mais importante...
— Hm, Argo...? Eu não faço ideia do que seja nada disso, tirando o café... O que são dolma, mussaca e uzo? — perguntei, tentando pronunciar os nomes esquisitos da melhor forma possível.
A negociadora de informações conteve uma risadinha.
— Era exatamente essa a reação que eu esperava, Kii-boy.
— O quê? Aposto que a Asuna tá pensando a mesma coisa… — rebati, mas do outro lado da mesa, minha parceira temporária também sorria amplamente diante da minha ignorância.
— Desculpa, Kirito, eu sei o que são essas comidas. Você acertou no dolma, mas os outros são moussaka e ouzo.
— Então isso quer dizer que você sabe o que são esses pratos?
— Claro. É o cardápio perfeito pra essa cidade em especial. Boa escolha, Argo.
— Pode apostar que é. E minha dica sobre esse lugar é por conta da casa, meus amigos.
A superioridade presunçosa das duas me deixou um pouco emburrado. Olhei para a parceira de assento da Asuna e perguntei.
— Você também sabe o que são dolma e moussaka, «Kizmel»?
— Não, nunca ouvi falar — respondeu a cavaleira, balançando a cabeça. — Mas já que estou aqui nesta cidade humana, gostaria de aproveitar a chance de provar um tipo novo de prato. Estou ansiosa por essas iguarias.
— Ah… tudo bem.
O sorriso radiante da «Kizmel» era tão brilhante que eu quase precisei proteger os olhos. Argo abafou outra risada e fechou o cardápio com um estalo.
— Bom, já que não tem muita opção mesmo, eu vou fazer o pedido. Ei, chefe! Vão ser quatro dolmas, quatro moussakas e quatro ouzos!
— Pode deixar — respondeu uma voz grave vinda do balcão. Após uns dez segundos de barulho de ferramentas e facas, comecei a sentir um aroma delicioso. Hmmm, talvez isso vá ser gostoso, afinal, pensei.
Então, uma voz chamou.
— Ei, camarada.
— S-Sim?! — respondi no automático. Eu era a única pessoa naquela mesa que podia ser chamada de camarada. Felizmente, o cozinheiro enorme não leu minha mente. Ele disse num tom meio envergonhado.
— Se não se importar de levar essas coisas pra mesa... Eu cuido desse lugar sozinho, então não tem ninguém pra servir vocês.
— C-Claro, será um prazer — disse, me levantando. Ao me aproximar, ele colocou sobre o balcão uma garrafa de cerâmica, uma jarra de água e quatro taças de vinho.
Após avaliar bem a situação, segurei a garrafa com o braço esquerdo, a jarra com o direito, e peguei cuidadosamente duas taças em cada mão. Levei tudo até a mesa. Assim que tudo estava em segurança sobre a superfície e eu soltei os itens, Asuna ralhou.
— Você podia ter trazido isso em duas ou três viagens! E se tivesse tropeçado e deixado tudo cair?
— M-Mas eu não deixei…
— Sim, mas podia ter deixado!
— Bom, se você vai me culpar por coisas que nem aconteceram, então… ahn…
Tentei, e falhei, em pensar num antônimo para "Tudo está bem quando termina bem", e uma gargalhada estourou atrás do balcão.
— Você tem estilo, camarada, trazendo tudo isso de uma vez. Então tenta isso aqui agora.
— O quê? De novo? — reclamei, achando aquele restaurante bem abusivo com os clientes. No balcão havia quatro pratos fumegantes e uma cesta de talheres.
Cada prato continha um objeto misterioso, verde-escuro, coberto por um molho branco cremoso. Achei intrigante, mas tinha meu orgulho a manter. Simulei mentalmente o processo, então usei os dedos da mão esquerda para segurar dois pratos. Coloquei outro sobre o antebraço, ficando com três de um lado só.
O resto foi fácil. Três dedos da mão direita seguraram o último prato, e enganchei a cesta de talheres com o dedo mínimo. Voltei para a mesa e coloquei tudo em ordem reversa.
— Viu só?
— Ver o quê? Tô dizendo, isso não vai terminar bem…
— Então você podia se levantar e me ajudar, Asuna.
— E você podia me pedir ajuda.
Mais uma vez, o cozinheiro interrompeu nossa discussão.
— Ei, camarada, aqui tá o último.
— Certo!
Me virei, animado pra ver o que vinha a seguir. No balcão, havia quatro pratos de gratin borbulhantes.
— Urgh… — engoli seco, refletindo sobre a situação.
Mesmo ignorando o calor intenso dos pratos, o formato deles era complicado — tinham bordas verticais ao redor, o que tornava impossível segurar dois numa mão só com os dedos. Eu podia segurar um com a mão esquerda e apoiar outro no braço, mas não dava pra repetir isso com só uma mão livre do outro lado.
Vou ter que levantar isso na força de vontade! pensei, concentrando minha mente — mas não consegui levantar o prato com poder psíquico. Jurando pra mim mesmo que um dia aprenderia a habilidade de Psicocinese, me virei para a Asuna e disse.
— Me desculpa… por favor, me ajuda…
— Você devia ter começado por aí — disse Asuna, revirando os olhos. Ela se levantou e prontamente empurrou «Kizmel» de volta ao lugar quando a elfa tentou se levantar junto — Argo não saiu do lugar — e foi até o balcão.
Cada um de nós pegou dois pratos e os levou para a mesa. Agora tínhamos os misteriosos dolmas, moussaka e ouzo para cada um. A única coisa que eu sabia até o momento era que o ouzo era a bebida.
— Bem, vamos fazer um brinde?
Argo pegou a garrafa de cerâmica e serviu dois dedos do líquido em cada taça. Em seguida, adicionou a mesma quantidade de água da jarra, fazendo com que o líquido transparente ficasse instantaneamente turvo e branco. Aquilo me fez lembrar da tinta sendo lavada do pelo do lykaon, então perguntei em voz baixa.
— Hm, isso é seguro pra beber, né?
— É, pode ficar tranquilo — respondeu ela, o que não foi exatamente reconfortante. Ela distribuiu os copos, e eu levantei o meu com um pouco de receio.
— Ao encontro com «Kizmel»! — anunciou Argo.
Brindamos, e eu dei um pequeno gole do líquido turvo. Imediatamente, um cheiro forte e herbal invadiu meu nariz, e o álcool queimou minha garganta. Se diluído na água já era forte assim, quão potente seria direto da garrafa? Fiz uma careta e olhei para o outro lado da mesa, onde Asuna franziu levemente as sobrancelhas. «Kizmel» parecia totalmente indiferente. Ela bebeu tudo de uma vez e colocou o copo de volta na mesa.
— Ah, essa bebida é boa. Usa uma boa variedade de ervas e plantas.
— Imaginei que uma elfa fosse gostar — respondeu Argo.
Eu queria perguntar: "Sério? Você imaginou isso mesmo?", mas, se «Kizmel» estava feliz, era o que importava. Enchi o copo da cavaleira com mais ouzo. Estava prestes a acrescentar a água, mas ela pediu.
— Um pouco menos.
Então coloquei metade da quantidade de água em relação ao álcool. De algum modo, consegui terminar meu copo de ouzo e o deixei na beirada da mesa, para deixar claro que não queria mais. Em vez disso, peguei faca e garfo para experimentar a comida.
O pequeno prato redondo trazia dois objetos elípticos, verde-escuros, cobertos com um molho branco e leitoso. Fosse o que fosse, pareciam cozidos dentro de folhas grandes. A aparência externa lembrava kashiwa mochi, bolinhos de arroz embrulhados em folhas de carvalho. Com base nisso, imaginei que o certo seria tirar a folha sem comê-la, mas o embrulho era tão apertado que eu não sabia por onde começar.
Resolvi copiar a Asuna ou a Argo e dei uma olhada rápida para elas, mas ambas estavam apenas tomando seu ouzo e observando cuidadosamente os meus movimentos. Não porque não soubessem como comer aquilo, mas porque queriam ver minha tentativa.
Tá bom. Querem rir de mim? Vão em frente.
Espetei um dos bolinhos com o garfo, levei à boca e mordi. A folha se partiu com uma textura crocante, e ao mastigar, ficou mais espessa. O recheio era provavelmente... arroz com carne? Parecia um bolinho de arroz estilo ocidental, mas com um molho cremoso de limão que combinava com o sabor e uma textura divertida e crocante da folha por fora.
Coloquei a outra metade no garfo e disse.
— Tá bom.
— Claro que tá — respondeu Argo, espetando um dos seus bolinhos ocidentais e dando uma mordida. Asuna e «Kizmel» cortaram os seus educadamente com faca.
Terminei o outro bolinho rapidamente, depois puxei meu copo de volta e coloquei um pouco mais de ouzo. Adicionei mais água e provei. Com uma diluição maior, o sabor e aroma excêntricos não me incomodavam tanto; na verdade, estava até refrescante.
Nesse momento, eu queria partir logo para o gratinado, mas parecia mais educado esperar pelos outros. Por algum motivo, Asuna começou a desenrolar a folha do segundo bolinho. Com o garfo e a faca, ela retirou a folha com cuidado e a colocou aberta no prato.
— Olha só.
— Olhar o quê...? Ah!
A folha, um pouco maior que a palma da minha mão, tinha bordas recortadas e dois grandes entalhes — muito parecida com a bandeira do Canadá — o mesmo formato do símbolo de ferro na porta.
— Então o símbolo lá fora era essa folha? Folha de bordo...?
— Bzzt! Parece, mas não. Essa é uma folha de videira.
— Ohhh — murmurei, enquanto «Kizmel» dizia.
— Ahhh. Existem vinhedos no nono andar, mas eu não sabia que as folhas podiam ser usadas na culinária. Essa é a dolma ou a moussaka?
— Dolma — respondeu Asuna de imediato. Depois, um pouco menos segura: — Acho que significa recheado.
Pelo jeito como ela falou, tive que assumir que esses dolmas, e provavelmente o moussaka e o ouzo também, eram pratos do mundo real, assim como o khao man gai de «Lectio». Mas eu não fazia ideia de que país eles vinham.
— Hmm, interessante. Parece mais enrolado pra mim... mas enfim, é bom. Estou ansiosa para provar o moussaka agora — disse «Kizmel», puxando o prato retangular de gratinado para si. Eu a imitei.
O material devia ser ótimo como isolante, porque a parte de fora estava apenas morna, mas o interior ainda borbulhava e soltava vapor. Não estava exatamente frio dentro do restaurante, então esse era o tipo de prato que eu preferia comer em um andar de inverno. Ainda assim, o molho branco dourado por cima estava aguçando meu apetite.
Talvez esse seja o primeiro gratinado que eu como aqui em Aincrad, pensei. Argo passou o cesto de talheres, então peguei uma colher de ponta reta e mergulhei no fundo do prato.
Sob o molho, não era arroz nem macarrão, mas camadas de carne moída, purê de batata e fatias de berinjela. Soprei a colherada e coloquei tudo na boca.
— Hwuf, hffh... Tá bom demais!
Parecia cena de mangá. Mas é claro que estava bom. Carne moída com sabor de tomate, purê de batata quente, berinjela macia e molho branco de arroz? Era uma combinação perfeita, e o sabor era tão satisfatório que mal dava pra acreditar que era comida virtual num mundo virtual.
Asuna e «Kizmel» mexiam as colheres em silêncio, assim como Argo, que aparentemente já conhecia o prato. Em dois ou três minutos, já havíamos devorado tudo.
Um pequeno gole de ouzo aliviou o calor da minha boca e língua, e bati o copo na mesa. Tínhamos comido comidas deliciosas em todo o sétimo andar, e os dolmas com moussaka talvez fossem os mais satisfatórios até agora. O atendimento ríspido daquele lugar era um preço pequeno a pagar por sabores assim. «Kizmel» estava tão satisfeita quanto eu. Ela terminou seu copo de ouzo — que mal tinha água — e soltou um suspiro.
— Ahhh... Comida e bebida estavam muito boas. Asuna, o que significa moussaka?
— Hm... pelo que me lembro, é algo como suculento ou refrescante..
— Hã?
— O quê...?
Argo e eu viramos o pescoço ao mesmo tempo na direção da travessa. Era um prato assado no forno, tão quente que podia queimar a língua. O nome não poderia ser mais impreciso. Asuna olhou pra gente e fez um biquinho de frustração.
— Olha, não é como se eu tivesse um dicionário inteiro na cabeça. Mas tenho quase certeza de que, no lugar onde o moussaka foi criado, ele era servido como uma entrada fria. Depois, na Gré... em outra região, virou um prato quente.
— Ah, sim. Essas coisas acontecem — concordou «Kizmel». — Em «Lyusula», temos um prato chamado ponnecorkle, que veio de «Kales’Oh». É como uma panqueca levemente cozida. Enquanto os elfos da floresta comem apenas com açúcar e canela por cima, nós, elfos negros, preferimos uma boa quantidade de geleia e creme. Acho que não preciso dizer qual dos dois é mais saboroso.
O orgulho culinário dela me fez sorrir. Comentei prontamente.
— Parece muito bom mesmo. Quero experimentar um dia.
— Claro. Quando vier à cidade do nono andar, poderá comer o quanto quiser — respondeu «Kizmel» com generosidade, mas seu sorriso não durou. Provavelmente lembrou-se da sua situação.
Depois de escapar das celas do Palácio da Árvore Harin, «Kizmel» não podia retornar ao castelo do nono andar, nem a qualquer outro posto avançado, a menos que trouxesse consigo as quatro chaves sagradas. No momento, minha proposta de rastrear os Elfos Caídos era nossa única esperança — e nem sabíamos se as quatro chaves estariam mesmo na base deles, caso tivéssemos sucesso. Se «Kysarah», a Saqueadora, estivesse lá, seríamos dizimados com a força atual.
Além disso, nem sabíamos como os Caídos estavam se locomovendo entre os andares, já que não podiam usar as árvores espirituais. Até resolvermos esse mistério, outro ataque de «Kysarah» seria sempre uma possibilidade, mesmo se conseguíssemos recuperar as chaves.
Suspirei, pensando nos desafios à frente. Asuna colocou a mão nas costas de «Kizmel» e disse.
— Vai ficar tudo bem. Minhas premonições sempre se tornam realidade. Nós vamos recuperar as chaves sagradas.
— Sim... é claro que vamos — respondeu ela, voltando a sorrir. Virou o resto do ouzo no copo e se voltou para a outra pessoa à mesa. — Obrigada por me trazer a este lugar maravilhoso, Argo.
— Fico feliz que tenha gostado. Mas deveria agradecer ao Kii-boy em vez disso.
— Hã? Por que eu?
Não parecia que levar os pratos até a mesa fosse digno de tanta gratidão, mas antes que eu pudesse dizer isso, Argo abriu um sorrisinho malicioso.
— Porque é o Kii-boy quem vai pagar a conta, óbvio.
Só descobri recentemente que o momento de pagamento nos restaurantes de NPCs variava de acordo com o estabelecimento.
Na maioria dos lugares, uma janelinha de pagamento aparecia a cada pedido, e o valor em col era descontado quando você clicava em OK. Se não pagasse, a comida simplesmente não aparecia, por mais que esperasse. Ou seja, o pagamento era separado e antecipado.
Mas em restaurantes sofisticados, que não faziam o meu estilo, ou em locais bem pequenos, uma única pessoa podia pagar toda a conta ao final da refeição. No primeiro caso, era para não estragar o clima elegante com cobranças. No segundo, suspeitava que fosse para tentar os jogadores a fazerem uma fuga sem pagar. Pelo que ouvi, havia jogadores ousados que comiam até não aguentar mais, saíam correndo e conseguiam escapar tanto do cozinheiro quanto dos guardas — saboreando uma refeição gratuita sem acabar presos no «Black iron Palace».
Claro que eu não fugi sem pagar. Agradeci ao «Menon» pela comida e paguei os 420 col pelos quatro. Considerando a qualidade da comida e das bebidas, foi um preço bem justo. Mas se Argo escolheu esse restaurante só porque sabia que poderia empurrar a conta pra mim, eu precisava dar uma lição nela.
Saí pela porta com determinação, apenas para encontrar as três mulheres lá fora, sorrindo e dizendo.
— Obrigada pela refeição!
Fiz uma careta como se tivesse chupado limão por dez anos.
— Hã... de nada.
— Bom, vamos indo? — disse Argo, de volta ao seu modo habitual, e saiu andando tranquilamente pela rua, indo para o norte, antes que eu pudesse retrucar. «Kizmel» foi atrás, e eu caminhei ao lado de Asuna, por último.
— De qual país são os dolmas e o moussaka? — sussurrei, já ao final do prédio.
Ela respondeu no mesmo tom.
— Grécia.
— Ah... como quando «Volupta» te lembrou de Sa... Santorini?
— Sim.
— Interessante. Então foi por isso que você disse que era a refeição perfeita para uma cidade como esta — comentei, observando as costas de Argo à frente.
Parece que a Rata não escolheu aquele restaurante só para me fazer pagar, mas porque entendeu que o estilo de «Volupta» lembrava a ilha de Santorini — e que dolmas e moussaka eram comidas gregas. Asuna era uma ótima fonte de informações e costumes do mundo real, mas Argo parecia ter tudo isso somado a um conhecimento vasto de Aincrad e dos sistemas do SAO.
Eu não conseguia dizer exatamente a idade dela — parecia ter a nossa idade, mas vivia se chamando de "Aneki", então talvez fosse mais velha. De onde ela tirava aquele compêndio de conhecimento e experiência? E por que tinha escolhido justamente o trabalho de vendedora de informações nesse jogo mortal — uma função que, de certa forma, era até mais perigosa do que a de jogador tentando zerar o jogo?
Claro, se você está tão curioso assim, o melhor é perguntar diretamente — mas isso não funcionava com a Argo. Já conseguia imaginar ela com aquele sorrisinho maroto dizendo: "Vai te custar dez mil col, meu chapa." Disse a mim mesmo que, se algum dia tivesse dez milhões de col, compraria cada pedacinho de informação pessoal que a Argo tivesse à venda. Tinha quase certeza de que já tinha tomado essa decisão antes.
A viela por onde andávamos nos levou de volta à área aberta em frente ao cassino. Eram cerca de quatro e dez da tarde. A batalha final da arena de monstros diurna estava marcada para às quatro e meia, então ainda dava tempo de voltarmos para o quarto da «Nirrnir». Mas eu também estava preocupado com a possibilidade de que a ALS e a DKB estivessem dobrando suas fichas a cada batalha, tentando chegar aos cem mil.
Argo parecia estar pensando na mesma coisa, pois se inclinou e disse em voz baixa.
— Vou dar uma olhada no Coliseu dos Monstros. Você volta primeiro para junto da Lady Nirr. Não é como se eu tivesse alguma função na inspeção dos estábulos mesmo.
— Beleza, se você diz... Mas foi você quem aceitou a missão dela, certo? Tem certeza de que não devia vir com a gente?
Desde que formei a parceria temporária com a Asuna, quase nunca tínhamos agido separados, então meu conhecimento sobre como missões e grupos funcionavam juntos não era dos melhores. Mas Argo apenas inclinou a cabeça e respondeu.
— Relaxa. Se estamos no mesmo grupo, compartilhamos o progresso da missão. Só não vai me tirar do grupo sem querer.
— Pode deixar.
— Me manda uma mensagem quando acabar a inspeção, beleza?
Argo saiu em disparada, e eu fui me juntar à Asuna e à «Kizmel», que estavam conversando e observando a praça. Trocamos algumas palavras e então seguimos em direção ao cassino.
O prédio branco puro brilhava com um tom dourado sob a luz inclinada do sol. Desde que chegamos a «Volupta», Asuna e eu passamos cerca de vinte e quatro horas dentro e ao redor da cidade. Ela ficava na borda sul do andar, então, em termos de distância, tínhamos cruzado metade do andar até agora — mas a Estrada Tailwind, que ligava a cidade principal a «Volupta», era longa e plana, sem dungeons nem bosses no caminho. Por outro lado, o caminho até «Pramio», a noroeste, e de lá até a torre do labirinto, era repleto de desafios. Em termos de progresso real na conquista do andar, estávamos, no máximo, 30% adiantados.
Claro, se a ALS ou a DKB conseguissem a «Sword of Volupta» — completamente quebrada em termos de jogo — nosso avanço poderia acelerar bastante. Mas elas estavam confiando em colas para vencer, e essas colas eram claramente armadilhas criadas pelos Korloys para arrancar grandes quantias de dinheiro dos apostadores.
Ainda assim, se o Kibaou e o Lind fossem espertos o suficiente para perceber a armadilha e apostar na carta contrária na rodada final da noite... Mas talvez os Korloys já tivessem algo planejado para isso também. No fim das contas, eles eram apenas uma parte individual do gigantesco sistema de SAO, e diferente do mundo real, com suas leis imutáveis da física, Aincrad era um lugar virtual onde o sistema podia fazer o que bem entendesse, se houvesse motivo. Como o padrão da cor da gravata borboleta do crupiê da roleta e a chance de cair naquela cor.
Talvez o sétimo andar vá demorar muito mais do que estou pensando, pensei. De repente, Asuna apareceu ao meu lado, cutucando meu cotovelo.
— Vamos logo, vamos voltar para a Lady «Nirrnir».
— Ce-certo. Você já está satisfeita, «Kizmel»? — perguntei, sem pensar muito.
A cavaleira estreitou os olhos, com uma mistura de indignação e exasperação.
— Estou bem. Kirito, por acaso me acha uma gulosa?
— Eu-eu só estava conferindo... Vamos voltar?
Virei noventa graus para a esquerda e marchei rapidamente em direção à entrada do Grande Cassino. Atrás de mim, ouvi as garotas rindo baixinho.
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