Trindade Vital Brasileira

Autor(a): Vitor Sampaio


Volume 1 – Arco 1

Capítulo 10: Nossos Próprios Inimigos

Inspiração profunda, expiração cautelosa. O peito de pombo do jovem inflou como uma bexiga, e liberou o ar lentamente. O fluxo invertido jogava o prana para o coração, tal qual lançou uma drástica quantidade de energia para todos os membros do corpo. O músculo mais forte bombeava como nunca, o retumbar era semelhante a um festival de samba.

Eram muitos clones para salvar, tinha ciência de que poderia ser degolado pelos assassinos. No entanto, não havia outra opção, era lutar ou lutar. “Por que ele quer que eu os salve? Rudá tem poder suficiente para fazer isso!”, reclamava mentalmente.

Precisava ser rápido para resolver a situação, caso contrário seu tonabless — Heart Discharge — o sufocaria até a morte. Então, com um passo vigoroso e preparado para guerrear, disparou na direção dos assassinos.

Três de seus clones também partiram para a batalha. Um desferiu socos potentes análogos a uma prensa hidráulica; o outro era como um escudo para o resto das réplicas, combatia com destreza e evitava os outros de se machucarem; e o último tentava de todas as maneiras apanhar a arma branca do seu inimigo, a posse dela seria como uma vitória. Ao perceber isso, Lotus foi proteger os mais indefesos.

— Parece que eles aguentam o tranco — disse Lotus.

Um carrasco realizava cortes fulminantes contra uma figuração que gritava horrores. Ela, por sua vez, recuava com passos ágeis para a extremidade da plataforma. “Se continuar assim, ele vai cair!”, pensou o jovem.

Sem hesitar, aproximou-se do adversário e, com o ombro cebola, desbravou uma investida poderosa e não deu sequer chances para ele esquivar. O oponente voou para o lado e deslizou velozmente pelo chão aquático, o que ejetou água para os cantos. Por sorte, não despencou para o abismo devido a sua bravura para se apoiar com uma única mão nos confins da base circular.

— Você está bem?! — perguntou Lotus ao segurar em ambos os braços do clone.

— Sim… estou… — Ofegante e atônita, a réplica respondeu com a mesma voz do jovem. — Atrás de você!!! — Ela apontou para trás.

Ao menear depressa a cabeça, avistou um guerreiro nos ares que manuseava sua faca com o objetivo de decapitar o universitário.

— Morra!!! — bradou.

Rasgou a atmosfera com um movimento deslumbrante, mas o jovem conseguiu se esquivar com uma agachada sucinta. No mesmo momento, mergulhou o punho no estômago do homicida e afundou seus órgãos internos.

— Sai fora!!! — praguejou Lotus.

O inimigo recebeu uma passagem gratuita para as estrelas, de forma que as mesmas o eletrocutaram quando atingiu o céu. “Me superei nesse soco!”, Lotus abriu um sorriso.

Ergueu-se aceleradamente e visualizou outro clone sendo atacado. Esse jazia no solo marinho enquanto a lâmina do assassino perfurava os braços que defendiam o peito e o rosto. De súbito, correu para salvá-lo e eliminar o inimigo.

— Lotus!!! — Uma representação do universitário rogou durante o tempo que enforcava o adversário. — Proteja esse lado que eu protejo aqui!!!

Lotus olhou para ela e, de forma automática, assentiu. A determinação na face dela refletia o senso de ser a égide dos oprimidos do jovem.

Ao pressionar a superfície e dar um salto com a altura de um prédio, o bombado projetou um golpe que enterraria o opressor no oceano sólido. Contudo, quando chegou perto o suficiente…

— Esse é meu!!! — A própria figuração do universitário o projetou para o lado com um chute avassalador.

Lotus cruzou os ares em direção ao limbo e ficou muito próximo de cair. Com um único braço, segurou-se pela sua vida no limite da plataforma. Enquanto isso, a réplica gananciosa submergiu o cutelo na garganta do alvo do jovem, e o fez desaparecer em forma de água.

— Que maluco doido, mano! Por que ele fez isso?! — Lotus usou o impulso das duas

mãos para se levantar.

Quando se reergueu, andou até seu clone com a intenção de impor moral.

— Você ‘tá louco, caralho?! ‘Cê quase me matou, seu maldito!!!

— Essa kill era minha, parceiro — respondeu. — Tem que deixar ‘pra quem é bom!

Kill?! Isso aqui não é jogo não, mano!!!

Enquanto ambos discutiam, a cópia que havia sido agredida se lamentava deitada no terreno de água.

— Eu não consigo ser forte como vocês… na verdade, eu não consigo fazer nada direito… sempre estrago tudo…

Lotus desviou a atenção da imitação gananciosa e focou na que estava com baixa autoestima.

— Como é? — Ele arqueou as sobrancelhas. “Por que eles são tão diferentes uns dos outros?”, questionava.

No meio do campo de batalha, um carrasco vestindo um sobretudo branco ordena os seus iguais, como se fossem seus subordinados. No entanto, ele não moveu um único dedo para lutar.

— Lutem por mim e eu os libertarei! — bramia. — Deem suas vidas para que eu continue sendo o rei! — Ele alçou os dois braços.

— Aquele ali é meu! — falou o duplicação egoísta.

— Espe… — Lotus prostrou de joelhos.

Instantaneamente, os batimentos do jovem desaceleraram e o corpo ficou mole como uma massinha. As duas mãos pressionavam o chão enquanto sugava o ar drasticamente, o que evidenciou seu desespero súbito. Os clones não escaparam desse destino. Sucumbiram na própria habilidade, abaixando a guarda para o perigo iminente.

— Agora não… — suplicou Lotus.

— Acabem com eles!!! — falou o líder dos homicidas.

Os oponentes não temeram em avançar cruelmente, não teriam outra oportunidade. Apertavam o cabo das pequenas espadas até as mãos sangrarem; os olhares de feras famintas eram intimidadores.

— Já era… estamos mortos… e eu só atrapalhei… — lamuriou um clone.

— Não me mate!!! — berrava outro. — Sai!!! Sai!!! Sai!!!

Bravamente, pularam em cima de cada variação do Lotus e martelaram suas costas com a chapa afiada da arma branca. O peso exercido por cima os impedia de fugir, além de esmagar a coluna.

— Seus cretinos!!! — enfureceu uma réplica, ao mesmo tempo que gemia de dor. — Eu vou matar vocês!!!

— Como vocês conseguem ter essa força, e eu não?! — Outra tentava se resguardar, o que evitou alguns ataques. — Eu vou cortar sua mão e tirar essa faca de você!!! Sai de cima de mim!!! — O individualista sacudia a adaga para amputar a mão do guerreiro.

Nessas circunstâncias, Lotus se via sem saída. Todos os seus companheiros sofriam com golpes letais. Recebendo facadas, lamentava internamente por não ter concluído sua missão de protegê-los. “Decepcionei Rudá… decepcionei a Flora… o Lauren… Eu não devo ser digno de portar um poder desse.”. A dor física e psicológica uniram-se em uma depressão infindável, sua alma estaria condenada eternamente.

— Lotus!!! Não desista agora!!! — incentivou uma representação. — Ainda dá tempo de afundarmos eles!!! 

Lotus o fitou, enquanto rangia os dentes de dor.

— Ativa o Heart Discharge de novo!!! Só mais uma vez… faça isso pelas nossas vidas!!! Você é o único que pode nos salvar!!!

— Eu… não… consigo… — murmurou pausadamente.

— Consegue sim! Você é o Lotus Sutol!!!

— Sou…?

Arregalou os olhos e, pela primeira vez na vida, se sentiu disposto para reutilizar em tão pouco tempo o Heart Discharge. A motivação percorreu pelas veias e lhe deu consciência para atravessar a barreira que o separava do seu limite.

Controlou a respiração, arrevesou o caminho do prana e suportou uma tortura avassaladora. De repente, a chama da força reacendeu como uma fênix, trazendo a vitalidade de todos os Lotus que estavam ali.

— Vamos, time!!! — acordou o gigante.

— É isso, Lotus!!!

O jovem entendeu o sentimento que devia ter tido desde o começo do confronto. A determinação sempre esteve presente em si, mas nunca teve autoestima o suficiente para usá-la adequadamente. As sensações ruins se esvaíram. Junto com ele, suas cópias desmotivadas também entraram em ação.

Em um levante brusco, Lotus tornou-se um morteiro ao mandar pelos ares o assassino que o esfaqueava. Em seguida, disparou em direção aos outros, para finalmente terminar a luta.

Com um arranque poderoso, atropelou os carrascos a frente e os lançou para fora do ringue. Suas variantes não desperdiçaram o tempo da habilidade ativa, enfrentaram eles com toda destreza.

— ‘Vamo bora!!! — motivaram em uníssono.

Entre chutes imponentes, socos latentes e um caos profundo, ‘os Lotus’ levavam a vantagem. Todavia, subestimar os opositores devia ser uma ideia longínqua, algo que as cópias do Lotus deixaram-a perto o suficiente para colocá-las em risco.

— Suma!!! — O tirano dos mortíferos impulsionou a navalha.

Ao olhar para trás, percebeu que era tarde demais. O clone que determinou Lotus a mostrar seu propósito, estava a um centímetro da morte. O mini sabre fendia o ar semelhante a uma bala de fogo.

— Acabou… Termine o serviço, Lotus!

Como uma flecha, o equipamento rompeu a parede intermediadora entre o corpo e o sangue. Entretanto…

— O quê?! — desacreditou o atacante.

Um muro de carne absorveu todo o dilacerar impetuoso. Em um ato heróico, Lotus se pôs na frente do clone e cruzou os braços como um ‘x’, colocando-os adiante da face. O encarar de um animal descontrolado e o estremecer aterrorizaram o malfeitor.

— Não…

— Eu sou o seu fim — disse Lotus.

Com a faca presa no antebraço, meneou radicalmente os punhos e tirou-os da posição

de defesa. Dominado pelo ódio, transbordou britamentos em todo o tronco do chefe dos assassinos e o guiou até as bordas.

— Vai cair!!!

Quando chegou perto da borda, a mão fechada encaminhou como um projétil de bazuca e, mirando na barriga, irrompeu o terreno com um ingresso direto para o vasto universo, onde ficaria encarcerado por toda a eternidade.

— Vencemos!!! — comemoraram.

O último dos inimigos havia sido derrotado, a equipe dos Lotus venceu. Palmas reverberaram como em um estádio de futebol. Agradeceram uns aos outros pelo esforço e comprometimento em ganhar, com um abraço de superação.

— Muito bem, Lotus. Meus parabéns — disse Rudá.

Logo em seguida, o jovem caiu no chão. A fadiga excedente condenou o funcionamento adequado dos órgãos vitais, abusou muito das suas capacidades. O incômodo assolador nas costas o impedia de levantar, desligava suas funções aos poucos. Contudo, sentiu que valeu a pena.

— Eu sou digno, Rudá! Eu posso me tornar um Vital!!!

— Esse moleque… — Rudá deu uma gargalhada.

Esperançoso, Lotus cria que passou no teste para portar o poder das tempestades. Considerou que essa foi a maior conquista de sua vida…

— Você salvou eles, Lotus…

— Não! Nós nos salvamos, como uma equipe!

— …Agora defenda-se deles — falou Rudá.

…porém ele não contava com uma segunda fase.

— O quê?!

Os clones mudaram o olhar e mantiveram a energia reluzente. Enquanto Lotus estava fraco, eles irradiavam a força abrupta do Heart Discharge.

— Você pode salvá-los, Lotus. Mas sempre irão se voltar contra você.

Pontapés e empurrões iniciaram uma sessão de martirização do jovem. Sem poder para lutar, recebeu os golpes paralisado.

— Eles não se importam com o que você fez — falou Rudá. — Você não adere aos mesmos pensamentos.

— Para… — Ele tossia sangue a cada chute no abdômen.

— Poder não é magia. Poder é palavra, jovem. Você se deixou ser levado pelo momento.

A melodia de terror proveniente dos impactos foi misturada com o sermão de Rudá. Lotus era jogado para o precipício infinito, mesmo que essa não fosse sua vontade.

— Sua inocência o levou a este estado! Você esqueceu que o mundo só quer você nas horas que precisa! Eles te odeiam! — praguejava Rudá.

— Não… por favor…

— Proteja-os, e eles te odiarão.

— Não… Rudá… — Lotus estava a beira do abismo.

— Exista, e eles te repudiarão!!!

Em um último suspiro, o jovem foi impelido com uma voadora do mesmo que uma vez o motivou a combater. A amargura preencheu o coração, e a melancolia o envolveu com as marteladas da traição.

Despencava do céu azul escuro, que era como uma obra de arte. A plataforma circular se camuflava gradualmente a medida caía, e as feições dos seus companheiros expressavam o mais puro sarcasmo.

— Por quê? Por que escolhi esse destino…? — As lágrimas fluíram como uma tempestade.

As estrelas seriam os últimos cosmos que veria. A beldade da eletricidade que se alinhava nelas era como um filme pré-morte. A lápide estaria logo abaixo, com uma cova reservada no Refúgio de Amochiom.

De repente, uma constelação de um homem com três rabos de cavalo surge nos céus, e ela aponta o dedo para Lotus. A figuração era extensa, como uma entidade querendo passar uma mensagem.

— Volte para a realidade, Lotus!

Então, um relâmpago irradia a atmosfera e, na velocidade da luz, atinge o bombado com trilhões de volts. Não sobrou sequer nem um átomo para contar a história.

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Um navio de guerra se aproximava, com um poder bélico fora do comum. Os canhões e os mísseis eram mirados na direção da base circular de pedra, destruiriam tudo ao redor.

— Parece que não tenho outra escolha — disse Rudá.



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