Trindade Vital Brasileira

Autor(a): Vitor Sampaio


Volume 1 – Arco 1

Capítulo 12: Primeiras Impressões

As nuvens apreciavam o homem que assumiu a responsabilidade de deter o controle dos oceanos; a tempestade banhava aquele que inundou as próprias veias com um prana ancestral; e os espectadores abaixo sufocavam seus corações com emoções extravagantes.

O deus oculto dentro de Lotus finalmente se manifestou em meio a eletricidade que energizava seu corpo. A sensação de ser o dono dos céus negros o tornava uma verdadeira entidade vodariana.

— Não posso deixar que ele saia daqui! — Jules correu pela escadaria.

— Lotus… você conseguiu… — Sagna sorria, enquanto o fitava com os olhos que quase pulavam para fora.

Em meio aos relâmpagos ofuscantes, o jovem levitava como se fosse parte dos

nimbo-estratos. O corpo revitalizado com um prana puro mesclado com a fonte transbordante da juventude, o tornava disposto até mesmo para enfrentar o maior dos exércitos.

— Saiam daqui!!! — Com um soco no chão, Vion finalmente conseguiu mandar os soldados pelos ares. — Meu aluno virou um Vital!!!

Ao menear a cabeça para trás, percebeu o quão alto estava. Embora a altura não fosse o seu forte, sentia que seu medo era pequeno perante o poder que emanava da Pirâmide Vital da Tempestade.

Rápido como a luz, Lotus irrompeu dos céus semelhante a um trovão. Quando atingiu o centro do santuário destruído, tatuou-o com a marca dos seus pisantes e desencadeou uma onda de choque avassaladora, que quebrou os vidros dos prédios da cidade mais próxima. 

— Droga!!! — Pequenos pedregulhos despencaram no cabelo comprido de Jules. Graças ao seu tonabless, Reflect Screen, não sofreu com as consequências do pouso de Lotus, uma vez que a barreira psíquica e invisível segurou o dano.

Próximo à entrada do oratório, Sagna impediu com que a onda de choque o deslocasse para os confins ao colocar seu braço na frente do rosto com o mecanismo de neutralização ativado, o que fez apenas o seu sobretudo azulado dançar no ritmo da onda.

Com um olhar eletrizante, o jovem ergueu-se e encarou o professor, enquanto a poeira levantada se dissipava.

— Muito bem, garoto. — Sagna abriu um sorriso de canto.

Explosões robustas tremiam o litoral de La Esperanza, a sede de derrubar a pirâmide que devorou a plataforma circular era como a de alguém perdido no deserto. Rasgadores celestes em forma de aviões de caça que vinham do horizonte tenebroso, salivavam pela cabeça de Lotus Sutol.

— Professor… me dê cobertura — pediu. — Preciso acertar as contas com uma pessoa… — Correntes de vento saíam do corpo de Lotus e percorreram um caminho até Jules.

Por mais que fosse um recente Vital, sabia que poderia ser facilmente executado caso não tomasse cuidado. Os aviões e os barcos de guerra da Voquinity não eram inimigos descartáveis, e Lotus tinha ciência disso.

Aiai… — Uma risada fugiu de Sagna. — Você e aquela mulher acham que sou um escudo… mas, tudo bem. Será uma cortesia ‘pro novo Vital.

Assim que terminou de descer os degraus do corredor dos hieróglifos, Jules Maxim analisou atentamente o Lotus.

— Aquele moleque agora tem uma Pirâmide Vital — disse Jules, ao ajeitar seu acessório de combate no pulso —, mas não está tudo perdido… Por mais que ele seja forte, a experiência que ele possui não se equipara a que foi adquirida por mim com o tempo. Além do mais… ele ainda não sabe usar os poderes da Pirâmide Vital da Tempestade. Com o meu tonabless ativado, a gravidade estabilizada e combatendo de maneira correta, ainda posso levar esse troféu ‘pra casa e jogar na cara daqueles cretinos que eu estava certo!

As aeronaves se aproximavam com balas perfurantes e canhões de plasma azulado. Sabendo disso, Sagna não perdeu mais tempo e, a pedido do jovem, criou uma égide de temporária.

— Cúpula de esmeralda, apareça! — Ele pôs as mãos no chão, e logo depois prostrou.

Um meio círculo esverdeado passou a trancafiar os três homens presentes no local, e dissipou o impacto dos projéteis bélicos. Assim como a esfera de neutralização que os protegeu da queda da aeronave, essa poderia aguentar até embates nucleares, porém até um certo período.

— Lotus… resolva isso rápido — falou Sagna. — Não irá ficar muito tempo… já estou completamente esgotado. Vou voltar até Vion. — Ele passou a andar corcunda e segurando em um braço.

— Beleza — assentiu Lotus.

— Ninguém vai embora daqui!!! — Jules dispara uma rajada repulsiva que partiria montanhas.

O prana alaranjado que envolvia o braço do carrasco foi convertido em uma repulsão imponente. No entanto, os reflexos do jovem eram apurados, o que o fez ser capaz de perceber o golpe de imediato.

— Vai sim!!! — Lotus canalizou as águas ancestrais até a palma da manopla e contra-atacou com um canhão hidráulico.

O oceano se cruzou em seu braço como duas serpentes e foi liberado em forma de uma lufada dos mares. Na direção contrária da afronta de Jules, ambos os golpes se solavancaram, o que expeliu água para os arredores e evitou que a repulsão chegasse até Sagna.

Em seguida, o jovem não poupou seu tempo e disparou até o líder do antigo grupo de assassinos. A velocidade tinha sido aumentada, a eletricidade misturada com o vento eram semelhantes a um motor para as suas pernas.

No entanto, Jules não era ingênuo. Preparado para qualquer confronto, ele também correu até Lotus para concluir a sua missão particular.

— Venha, Vital!!! — Jules canalizou o prana nos punhos, reluzentes como o sol.

Lotus chegou perto o suficiente e atirou atrozes projéteis de água até o seu alvo, que conseguiu se defender com a proteção invisível, não permitindo que sequer uma gota o tocasse. “O quê?!”, inconformou Lotus.

Violento, Jules saltou e ejetou rajadas ferozes no bombado, que por sua vez obteve sucesso em desviar de poucas delas, sofrendo uma pancada nos ombros como consequência das que não se esquivou. No entanto, ele não abaixou a cabeça e manteve-se firme no pedestal do seu vigor.

O jovem precisava utilizar adequadamente a Pirâmide Vital que recebera, nem que fosse na base da imaginação de como invocar quaisquer atributos presentes nela. Então, com as inúmeras possibilidades, mentalizou punhos aquáticos adicionais que repetiriam os socos que ele daria, porém com o dobro da força.

Jules já havia pousado e não estava com intenção de ter dó do Lotus, partiu para cima dele sem escrúpulos. O universitário tinha o mesmo pensamento, e também foi confrontá-lo corpo a corpo. Assim, iniciou-se um combate movido a artes marciais.

— Na porrada você não aguenta!!! — bradou Jules.

Jules fora treinado em diversos estilos de luta, mas se masterizou em apenas dois, que considerava os mais importantes para confrontar um Vital. O primeiro deles era a capoeira, que lhe fornecia a capacidade de exercer movimentos acrobáticos, podendo variar entre ataque, defesa e esquiva.

O jovem arcava a batalha com muitas dificuldades, não possuía conhecimento em nenhuma arte marcial, apenas sabia como desferir potentes socos. No entanto, os golpes de mão não surtiam efeito, pois a barreira psíquica de Jules meneava de acordo com a distância do ataque. “Tem alguma coisa que não me deixa atingir ele!”, pensou Lotus.

Jules tinha espaço para desfechar repulsões poderosas, o que permitia ele afundar o estômago do jovem com murros acompanhados delas. O bombado conseguia se salvaguardar, porém seu corpo estava perdendo a pujança gradualmente.

No embalo de uma rajada que o projetou para trás, Lotus fincou os pés no solo, aproveitou a oportunidade e decidiu combater de longe, impelindo correntes de vento cortantes junto com a água que envolvia o seu braço.

— Não recue, moleque!!! — Jules não tomava dano dos golpes de Lotus.

Sem saída, o jovem se via em uma saia justa. O duelo corpo a corpo era arriscado, e o embate à distância era inútil, não tinha noção de como utilizar o poder imensurável da Pirâmide Vital da Tempestade. “Alguma coisa está protegendo ele… preciso perfurá-la!”.

Então, sem hesitar, respirou fundo e conduziu o prana do ambiente aos seus pulmões. Junto com o prana da Pirâmide Vital, poderia ser capaz de aguentar por mais tempo o uso do seu tonabless. Ao unir ambas as energias vitais em uma só, Lotus roga:

— Me fortaleça, Heart Discharge!!!

— Esse é o nome do seu tonabless, moleque?! — Jules riu sarcasticamente.

Atributos de força e resistência elevados juntamente com o aprimoramento na velocidade. Lotus ficara de igual para igual com o seu adversário e faria de tudo para estender o tempo da sua habilidade.

Como um animal furioso, o jovem deu uma investida poderosa no Jules e o empurrou levemente para trás. Com movimentos rápidos, Jules voltou e ambos trocaram porradas frenéticas.

Os dois possuíam resistências altas. Jules não poderia ser tocado, enquanto Lotus aguentava o peso dos golpes na própria carne.

As rajadas repulsivas já não mais provocavam grandes problemas para o jovem. Os veementes avanços da manopla seguidos de repetições aquáticas, passaram a preocupar o carrasco, que então resolveu recuar.

— Não fique se achando, seu cretino!!! — vociferou Jules.

— Pensei que não era ‘pra recuar! — satirizou Lotus.

Ao longo da luta, Jules armazenou prana para transformá-lo em energia pura para seu dispositivo bélico. Depois que viu Lotus atropelando os habitantes do Doom Stormbolt, nunca deixou de considerar o tonabless dele. “Essa pode ser minha última rajada, mas vai valer a pena.”, pensou.

Parado e em uma distância segura, Jules colocou os braços na frente do corpo e entrelaçou as mãos. Rodas laranjas ingeriram seu braço de uma maneira acelerada, o que formou uma esfera da cor do sol no centro das mãos.

— Não fuja, seu assassino!!! — bravejou Lotus, enquanto corria até ele.

O carrasco sorriu de canto e deixou uma risada escapar.

— Aguenta isso, Vital!!!

Semelhante a uma turbina de avião, Jules liberou com potência máxima a repulsão e terminou de destruir o que havia restado do santuário. As vestes de Lotus remexeram-se como nunca, e ele ficou travado em um ponto durante o momento que tentava avançar.

Enterrou os pés na superfície como uma lápide; segurou o corpo com sua resistência para não ser mandado pelos ares; e rangeu os dentes em resposta a sua determinação de não perder.

O prana se esvaía gradativamente, o que tornava Lotus cada vez mais fraco. Quaisquer tipos de magia com água ou vento, eram completamente desvanecidas pelo golpe do Jules.

— Vai cair, seu filho da puta!!! — Os cantos dos lábios de Jules tocavam nas orelhas.

Assim que o ataque terminou, Lotus se curvou de joelhos e o carrasco não enrolou para mostrar seu segundo estilo de arte marcial. Tal espécie de luta era conhecida como Huka-huka e foi revivida pela Voquinity na intenção de bater de frente com os Vitais. Era baseada em batalhar de joelhos, de forma que o atacante pressionasse os ombros do indefeso e logo depois as costas, espremendo a região abaixo da nuca para bloquear o fluxo de prana.

Ao apertar com destreza a medula espinhal de Lotus, o jovem gemeu de dor e sentiu que a eletricidade sumia gradualmente do seu corpo. Em poucos segundos, já estava fraquejado. “Nem com isso eu consigo ser forte?”.

Do lado de fora da cúpula neutralizadora, Vion repudiava a cena e tentava de todas as formas penetrar na barreira para salvar Lotus.

— Lotus!!! — Ela martelava a proteção com seu braço petrificado. — Levanta agora!!!

Flashbacks passaram como um filme na mente do jovem, e ele não aceitava que iria deixar Voda desse jeito. Sobreviveu a tantas catástrofes para se tornar um Vital… ele não concordava em morrer na luta de estreia da Pirâmide Vital da Tempestade.

De repente, uma voz idosa ecoou na sua mente para lembrá-lo das palavras que o próprio Lotus disse.

— Lembre-se, jovem… você mesmo disse… ‘É como se eu fosse… a própria tempestade!’.

Ao resgatar essa memória recente, Lotus arregalou os olhos e se recordou do que ele representava. As tempestades e os oceanos de Voda estavam em suas mãos, não tinha a opção de ceder a derrota.

Em um ato finalizador, Jules empunhou sua arma branca e a dirigiu até o coração de Lotus.

— Morra!!! — gritou o carrasco.

Com os olhos esbranquiçados e cintilantes, Lotus brada em nome da sua resiliência e conduz o prana elétrico que sobrou na sua pele, a iluminando como a lua cheia de uma noite escura.

Imperceptível, alçou a perna na velocidade da luz e desferiu uma joelhada tirana na barriga de Jules e o mandou para os céus.

— O quê?! — Jules passou a sobrevoar o templo destroçado.

Subitamente, Lotus emerge atrás de Jules semelhante a um trovão, o que deixou o carrasco atônito. A barreira de Sagna se dispersava rapidamente, o que fez o jovem utilizar o tal fator como vantagem.

Semelhante a uma divindade, Lotus pôs de prontidão o seu punho e absorveu as descargas elétricas que vinham diretamente das nuvens. Em seguida, submergiu o ferro da manopla nas costas do assassino, o que o enviou para o limite da crosta terrestre de Voda.

— Ainda não acabei!!! — gritou o jovem.

Quando aterrissou, imergiu os pés no abdômen de Jules, que estava amontoado em um buraco. Com as mãos entrecruzadas, malhou o peito do carrasco com uma quebra de onda carregada de relâmpagos supremos.

— Já era, seu cretino!!!

O choque da pancada o mandou para cima, o que o ajudou a voltar para a superfície. Nos ares, teve uma visão panorâmica do clima de destruição do Doom Stormbolt, além de perceber que alguns veículos bélicos sumiram.

Jazido no chão e extremamente ofegante, o senso de vitória dominava seu coração, e o cansaço excedente veio como uma recompensa.

Assim que a cúpula se desfez, Vion e Sagna dispararam até Lotus.

— Lotus!!! Você ‘tá vivo!!! — comemorava a professora.

— Eu consegui…

Ao longo do caminho de Vion, ela se emocionava com o seu aluno, o novo Vital da Tempestade derrotando o seu primeiro adversário. No entanto, infelizmente ela não conseguiu chegar até o jovem, devido a onda de choque de um explosivo que ejetou o universitário para as areias da praia de La Esperanza.



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