Trindade Vital Brasileira

Autor(a): Vitor Sampaio


Volume 1 – Arco 2

Capítulo 25: O Exército de Narrativas

— Ufa… no fim, o tsunami se dissipou — disse Flora, enquanto fitava o horizonte.

I can’t believe that! O que será que aconteceu?

Era um escritório ornamentado de vidro, no maior edifício empresarial da cidade, tal qual abrigou Lauren e Flora no — quase — decorrer de um desastre natural. Com puro esforço, a dupla subiu as escadas de emergência até tocarem as nuvens. Em situações críticas, a recomendação de segurança contra um tsunami é ir o mais alto possível.

Flora e Lauren eram os únicos presentes em tal andar, porém sabiam que não estavam sozinhos no prédio, afinal, era um dia comum de trabalho.

— Acha que isso foi obra do Lotus? — indagou Flora. — Tipo, acha que ele parou o tsunami?

— De forma alguma! — negou Lauren, no pedestal da certeza. — Ele ainda é muito fraco ‘pra fazer alguma coisa com aquela Pirâmide. Tenho certeza que foi algum fenômeno natural que cessou this insane wave!

— Mas, Lauren… que outra coisa pararia um tsunami do nada?

— Vai ver, Voda se arrependeu de mexer com us! Eu definitivamente não acredito que o Lotus tenha parado isso, ele mal consegue criar ventos!

— Bom… — bafejou Flora. — tanto faz. O que importa é que estamos vivos.

— Nisso você tem razão! — exclamou Lauren.

Ah… e também nem acredito que aquele cara ajudou o Sagna a salvar a gente, ele estava doidasso indo atrás do Lotus.

— Vai ver, não fazia sentido ele querer algo conosco, não é? Não temos nada ‘Vital‘ ‘pra oferecer to him.

Yes, yes Lauren… — Flora ficou de saco cheio.

Sedentos para se retirarem do prédio, os dois foram até a escada de emergência para percorrerem muitos metros até o térreo. O empenho para descê-la compensaria o medo absoluto de utilizar o elevador. No entanto, um brado de guerra vindo de cima os interrompeu.

Vitais são genocidas!!!

Did you hear that? — Lauren fitou acima.

— Sim — respondeu Flora. — Deve ser mais um revoltado com a existência dos Vitais.

Embora abafadas, as rogações continuaram e Lauren manteve o olhar fixo no teto. A curiosidade floresceu na sua mente como uma flor no amanhecer. A curiosidade manipulou as decisões do gato.

— O que acha… de irmos lá em cima dar uma olhadinha? — propôs Lauren.

— E o que vamos fazer lá? Protestar junto com eles? — Uma gargalhada pulou de Flora.

— Para de ser chata, Florinha… vamos dar umas risadas dessa galera.

— Eu já disse ‘pra você parar de me chamar assim! — Flora ficou furiosa. — Para de ser imprudente, isso só vai nos causar problemas!

— E por que isso nos causaria problemas? Vamos lá… vai ser divertido!

— Já disse que não, Lauren! Vamos sair logo daqui e procurar nosso grupo! 

— A gente só vai dar uma bizoiada, Flora

— Não vamos!!!

Lauren tinha uma estratégia formidável, uma que venceria Flora pelo cansaço. Após tentar convencê-la de inúmeros modos, ele finalmente ganhou a discussão pelo árduo tempo de chatisse.

— ‘Tá bom! Chega! Você venceu! — Veias saltaram nas têmporas de Flora. — Vamos ser rápidos!

HeheheI am the god!”, pensou Lauren, com um sorriso satisfeito.

A um andar de distância, ambos elevaram-se em um pequeno lance de escadas que dava acesso ao último cômodo antes do terraço. As vozes foram ficando cada vez mais angustiantes, um nojo de revirar o estômago.

Assim que se depararam com uma implacável porta de alumínio, os gritos estavam a um passo de atingir seu auge. Discretamente, Lauren pressionou sua mão de forma que a porta não ruísse e olhou pelas frestas, limitado a ver poucos móveis do salão.

Quem vocês acham que criou esse tsunami para destruir La Esperanza?! Quem vocês acham que está sedento para destruir nosso povo?! Esse Vital é um assassino cruel!

— Mas o quê…? — Lauren arqueou as sobrancelhas.

— Deixa eu ver o que está acontecendo! — A curiosidade despertou em Flora.

— Espera aí… tem alguma coisa errada com esse lugar — disse Lauren.

A porta separava Lauren e Flora de um auditório sofisticado, apenas palestrantes renomados possuíam a honra de subir no palanque. Centenas de pessoas estavam sentadas apreciando o discurso do jovem guerreiro Enzo Monpath, que militava de acordo com suas crenças. Ao seu lado, Luiz Ziul fazia o papel de co-palestrante, analisando todo ambiente envolta.

Hm? — Luiz focalizou a porta de emergência se mexendo.

— Deixa eu ver Lauren! — Flora o empurrava.

Wait, Flora! Assim eles vão ver a gente!

Incomodado com a movimentação estranha, Luiz fez um sinal com a mão para pausar a palestra.

— O que houve, Luiz?! — questionou Enzo, bravo por ter se sentido censurado.

— Ah… desculpa por interromper seu discurso, Enzão — respondeu. — É que… — Luiz aumentou drasticamente o volume da sua voz. — Parece que tem mais pessoas querendo participar da nossa coletiva! Vamos, não tenham medo! Entram e façam parte do nosso grupo contra a tirania!

— Merda! Agora eles sabem que estamos aqui! — reclamou Lauren.

— Espera… essa é a voz do Luiz, não? — indagou Flora.

— Como é?! — Lauren olhou para Flora, incrédulo.

Lauren decidiu permanecer quieto por alguns segundos, apenas para confirmar a teoria da Flora. Assim como boa parte da turma, Lauren repudiava a presença do aluno mais cínico da faculdade: Luiz Ziul.

— Vamos, meus queridos! Venham logo! O Enzo Monpath, filho do dono dessa grande empresa, não tem o dia todo para lidar com brincadeiras!

— Cala boca, Luiz! Por que você sempre tem que lembrar disso? — Enzo deu um soco fraco no ombro do colega.

— É ‘pra mostrar que você tem propriedade para falar de qualquer desses assuntos!

Quando Lauren digeriu as frases de Luiz, a ira o consumiu e ele se tornou imparável.

— Lauren? — Flora não o reconheceu.

— Agora temos um bom motivo ‘pra entrar aqui. — Subitamente, ele se levantou e deu uma investida pesada na saída.

— Espere!!! — Flora advertiu tarde demais.

Com uma chegada heroica, Lauren invadiu a reunião com a postura firme, peito de pombo e escápula aberta. Seu semblante refletia não só o asco à figura do Luiz, como também à sua vontade de afrontar para ter uma história.

No momento em que Luiz desenhou Lauren nas suas cognições, ele liberou o sorriso proveniente do sarcasmo e da empolgação, era seu dia de sorte.

— Então é você mesmo… — Lauren roubou a atenção de todos.

— Lauren!!! Quanto tempo!!!

— Você o conhece? — perguntou Enzo.

— Claro que conheço!!! — entusiasmou Luiz. — Ele é um grande amigo da minha universidade em San Garch!

O clima começou a ferver como uma água de miojo, prestes a ebulir um confronto de ideologias. Lauren contava com o reforço de Flora, pois estava sozinho diante uma multidão de adultos e jovens.

— O que você está fazendo aqui, Luiz?! Por que não foi embora?! — Lauren rangeu os dentes.

— Ora… porque eu queria começar uma nova vida! E por que você, Lauren Nerual,

não foi embora?

— Isso não interessa, seu cretino! O que você ‘tá fazendo com essa corja?!

— Cuidado com suas palavras, maldito! — vociferou Enzo. — Quem você pensa que

é para interromper meu discurso?! Nós quase fomos mortos por um tsunami por conta do lixo do Vital!

— Exatamente!!! — Os espectadores concordaram em uníssono.

— Sabe quem eu sou?! — Lauren bateu o pé no chão. — Eu sou o…

— Calma, pessoal. Eu explico ‘pra vocês quem é esse cara — começou Luiz, interceptando Lauren. — Lauren Nerual, o jovem vigoroso que arrasa na faculdade! Tira notas boas, as garotas caem aos seus pés, ele é realmente excepcional. No entanto, tem um grande problema… ele fecha com o Vital da Tempestade, que é o seu melhor e mais fiel amigo, Lotus Sutol.

— Como é?! — Enzo e os indivíduos viraram uma fera.

— Vocês não ouviram errado! Ele adora o Lotus Sutol, ainda mais depois dele ter se tornado um Vital! E bom… vocês sabem muito bem que, pior do que quem faz, é aquele que apoia!

— Seu cretino!!! — praguejou Lauren.

Lauren recebeu vaias e xingamentos, como se sua existência fosse um pecado. Os seguidores do Enzo expulsariam Lauren dali, nem que fosse à moda medieval. Entretanto, ainda havia alguém que apoiasse o jovem bilíngue.

— Parem!!! Não precisam fazer isso!!! — Flora também aderiu à postura heróica.

Aha! — Luiz alcançou o nirvana da animação. — Flora Badawi! Quem diria que você também ficaria por aqui!

— Ela também é da sua faculdade?! — indagou Enzo, enfurecido.

— Sim!! — replicou Luiz. — Ela é uma grande amiga!!!

— Luiz… por favor, nem eu e nem você queremos essa briga toda — apaziguou Flora. — Foi só um mal entendido. Por favor, deixem a gente embora e vocês continuam com essa assembleia.

Aah… Flora… mas agora vocês já estão aqui! Não quero perder a oportunidade de apresentar vocês dois à minha mais nova comunidade.

— Não, Luiz… por favor…

— Pessoal, para somar a desgraça que nos deparamos, Flora Badawi é nada mais, nada menos, que a filha do maior apoiador do Sharkgar…

— Para Luiz!!! Pelo amor de Quetzal!!! — Flora ficou desesperada.

— …Pino-out Badawi, o líder dos intolerantes de San Garch.

A raiva genuína foi acendida nos corações do bando, compartilharam do mesmo sentimento de ódio à Flora e Lauren. O aval do Enzo foi o último recurso necessário para uma expulsão violenta.

— Acabem com eles!!!

Aaaaargh!!! Vocês já eram!!!

Todos se alçaram e partiram para cima de Lauren e Flora. Socos e chutes não distinguiram o sexo dos vodarianos, foram levados com agressão até a janela do prédio enquanto Enzo e Luiz assistiam de longe, fomentando a opressão das marionetes.

— Parem!!! — imploraram Lauren e Flora.

Próximos o suficiente para serem lançados para fora do edifício, a pele de Lauren e Flora ardia com o temor da situação, além de receberem hematomas que para sempre ficariam marcados na memória.

— Ei!!! Todos vocês!!! — clamou Luiz. — Segurem o Lauren Nerual e prendam-no aqui conosco! A garota merece tudo isso e mais um pouco… a vida dela só nos trará problemas para o futuro!

“Esse Luiz realmente leva isso a sério…”, refletiu Enzo.

Os subordinados separaram os jovens; Lauren foi encarcerado pelo grupo, enquanto Flora estava a beira de ser chutada para longe do prédio. As vaias nunca pararam, porradas físicas e verbais derreteram a mente dos dois jovens.

Exalando toda maldade que alimentou desde criança, Luiz queria fazer o serviço final.

— Deixa que eu mesmo faço isso… — Luiz caminhou até Flora.

— Luiz… acho que isso é um pouco demais — disse Enzo. — Deixa isso ‘pra lá, eles já aprenderam a lição.

— É por questão de honra. — O corpo de Luiz ansiava por sangue.

A multidão abriu caminho para Luiz andar calmamente até Flora. Durante o trajeto, Lauren gritava a ponto de salivar para todos os cantos, o aperto no peito de saber que sua amiga estava prestes a despencar dezenas de metros o esmagava como uma bigorna.

— Luiz!!! Não!!! Não faz isso Luiz!!! Por favor!!! Nos desculpa!!! Por favor!!! — Lauren não parava de se remexer, suas lágrimas eram expelidas igual ao gotejar de uma chuva.

Ao alcançar Lauren, Luiz encarou no fundo dos seus olhos e não tirou o sorriso estampado na face. Guiou sua boca até as orelhas de Lauren, e assim murmurou:

— Agora eu estou no controle.

Lauren viu Luiz se distanciando cada vez mais enquanto destruía suas cordas vocais. Com certeza foi o momento que mais sentiu uma faca brasante rasgar a sua alma.

Luiz posicionou-se a poucos centímetros de Flora, jazida no mármore. Os brados de Lauren tornaram-se medíocres perante o enaltecimento da imagem do Luiz pela plateia.

— Não… Luiz… por favor… — suplicou Flora.

Luiz ergueu a perna e disse suas últimas palavras para Flora:

— O mundo está nas minhas mãos.

Então, sem remorso, Luiz desferiu um pontapé avassalador na barriga de Flora, ejetando-a contra a parede de vidro, que foi facilmente perfurada. Flora Badawi caiu do prédio mais alto da cidade, sua vida e seus sonhos passaram pela sua visão, e as lágrimas escorreram como uma garoa.

— NÃÃÃO!!! — berrou Lauren, após testemunhar uma cena que cravaria para sempre nos seus pesadelos.



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